Temas de Capa

Cultivar a mente

Sensação de liberdade, ligação à terra, descoberta de novas experiências ou simplesmente puro prazer – são muitas as razões que justificam a procura da jardinagem como hobby. Neste ano, em que a entrada em pleno da primavera coincide com um tempo de progressiva libertação de um confinamento, a procura de atividades ao ar livre aparece como a escolha óbvia para milhares de pessoas. Tal como deixa bem claro a psicoterapeuta Angela Masuzzo, estes são hábitos saudáveis e, em muitos casos, essenciais para a manutenção de um equilíbrio psicológico que a pandemia e tudo o que ela gerou – medo, incerteza, insegurança – deixou particularmente abalado. Não é por acaso que os Garden Centres foram dos primeiros estabelecimentos comerciais a serem autorizados a reabrir – o Governo da província entendeu que a bem da saúde mental dos ontarianos essa era uma medida essencial.

Milénio Stadium: É comum dizer-se que jardinar, semear ou plantar uma horta tem propriedades terapêuticas. Porquê? O que pode justificar isso?

Angela Masuzzo: Jardinar, semear, plantar ou qualquer outra atividade que envolva dedicar um tempo com a natureza, onde se possa focar em uma atividade que consista em criar, cuidar e o prazer de obter resultados são hábitos saudáveis, e sim, tem propriedades terapêuticas. Jardinagem pode ajudar a reduzir stress e fazer com que a pessoa se sinta mais energizada e focada no seu dia a dia. Pode se tornar um hobby terapêutico, onde pode forçar a pessoa a sair de dentro de casa e entrar em contato com a natureza e desfrutar de tomar um ar fresco. Pode ser uma oportunidade para aprender algo novo, ser criativo e acompanhar o crescimento das plantas é muito recompensador. Tudo isso faz com que a pessoa se sinta bem e isso é de grande importância para a saúde física e mental.

MS:  Neste quadro de progressivo desconfinamento o mexer na terra pode ter uma função libertadora?

AM: Sim claro, a jardinagem pode ter benefícios libertadores. Pode até promover a saúde mental como pensar mais claramente, reduzir a ansiedade ou até mesmo ajudar pessoas que sofrem de depressão em alguns casos. Pessoas que se dedicam a jardinagem usam a criatividade, praticam ‘cuidar’ de algo, o que muitas vezes faz com que se sintam úteis e a sensação de ter um propósito ou sentido. Pode ser também relaxante, como uma meditação, e um restaurar e aliviar sentimentos que causam tensão ou até angústia em alguns casos.

MS:  Há um outro lado, digamos menos bonito, neste regressar ao trabalho agrícola. Já há pessoas que cultivam hortas por necessidade – para terem produtos que sirvam de alimento à família. Neste caso será que o efeito psicológico pode ser o contrário, ou seja, pode gerar uma certa revolta?

AM: Se a pessoa cultiva a horta por necessidade por ser o trabalho dela, e se gerar revolta, então teríamos que ver se a pessoa está feliz no trabalho que faz. Não tenho uma resposta se pode ou não gerar uma revolta por voltar ao seu trabalho.

MS: Depois do confinamento, e na sua qualidade de especialista, como analisa, de uma forma geral é claro, o estado de espírito das pessoas?

AM: Cada pessoa reage de maneira diferente a situações similares. No caso do que estamos passando no momento, é uma situação difícil para todos e muitos estão cansados e a querer retornar às suas vidas normais. É difícil dizer como as pessoas estão se sentindo, mas em geral me parece que a maioria das pessoas tem a consciência da importância do isolamento e as precauções impostas para a saúde geral. Ou seja, apesar das dificuldades que as restrições causam, as pessoas que eu mantenho contato estão bem e tentando ao máximo seguir as restrições e manterem-se com saúde física e mental.

MS: Acha que se podem retirar lições positivas, que inclusive possam servir de linhas orientadoras para o futuro das nossas vidas, de tudo o que se relaciona com a pandemia?

AM: Sim claro, e gratidão seria uma delas. A situação que estamos vivendo é uma oportunidade para aprendermos muito e perceber o quanto nós não apreciávamos certas coisas que eram disponíveis com facilidade.  A nossa liberdade está comprometida. Estamos tentando nos adaptar a uma nova realidade e isso pode ser um tanto confuso, mas como seres humanos gostaria de pensar que vamos criar uma nova mentalidade e apreço pelas pequenas coisas da vida. Inclusive, apreciar as amizades, família, uma caminhada no parque ou simplesmente fazer compras.

É uma oportunidade para o conhecimento próprio e nos tornarmos pessoas mais conscientes e humildes. Encontrar um interesse novo, aprender a passar o tempo sozinho e criar hábitos diferentes, como ler mais, organizar o próprio tempo melhor, dormir mais, cuidar de sua saúde mental e física com mais diligência.

Catarina Balça/MS

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