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COVID-19 pode levar a aumento da violência doméstica

Os canadianos estão a ser aconselhados por todos os níveis de governo a ficarem em casa para diminuírem a propagação do COVID-19, mas as vítimas de violência doméstica estão divididas entre o medo do novo vírus e o medo dos agressores.

Cidália Pereira, responsável no serviço de aconselhamento do Abrigo Centre em Toronto.

A atual instabilidade económica cria mais pressão psicológica e a ansiedade e o stress podem gerar mais violência entre os casais. O alerta é de Cidália Pereira, técnica dos serviços de aconselhamento do Abrigo Centre, um centro que trabalha anualmente com cerca de 800 mulheres vítimas de violência doméstica.

“Algumas pessoas perderam o trabalho e não sabem como vão pagar as contas. No caso das vítimas de violência doméstica a situação é preocupante porque normalmente há um aumento da tensão entre os casais quando permanecem mais tempo juntos em casa. E não sabemos se a atual pandemia vai durar semanas ou meses, esta incerteza vai agravar a violência psicológica e/ou física e as agressões podem aumentar”, informou.

No caso de emergências o Abrigo presta apoio, mas está limitado a um horário de funcionamento. Os casos mais urgentes devem ligar para a linha SOS da Assaulted Women’s Helpline através do 416-863-0511. A instituição presta apoio 24 horas por dia, sete dias por semana, e trabalha diretamente com a rede de casas de abrigo para vítimas de violência doméstica na província de Ontário. Esta associação apoia anualmente cerca de 49,000 mulheres e presta serviço em mais de 200 línguas, inclusive em português.

Importa aqui referir que o Premier de Ontário, Doug Ford, anunciou segunda-feira (23 de março) um apoio de $200 milhões para aliviar os serviços sociais e os grupos mais vulneráveis. Parte do dinheiro vai ser entregue diretamente aos municípios que vão distribuí-lo pela rede de casas de abrigo, por bancos alimentares e por organizações sem fins-lucrativos. Para além do aumento da procura, estas instituições aumentaram as despesas para reforçar as condições sanitárias que estão a ser impostas pelo risco de propagação do COVID-19.

Lojas de bebidas alcoólicas mantêm-se abertas

A província encerrou esta semana os serviços que não são considerados essenciais e a decisão de manter o LCBO e Beer Store abertos surpreendeu algumas pessoas, mas para quem acompanha estas vítimas a esta era a decisão certa a tomar. “Privar os abusadores de comprar álcool pode ser ainda mais perigoso, dadas as circunstâncias atuais. Na China o número de divórcios aumentou com a crise de COVID-19, ainda não sabemos se no Canadá teremos os mesmos efeitos, mas esse risco é real. Com invernos tão rigorosos os canadianos estão ansiosos pelo início da primavera, a nossa saúde mental vai mudar, mas isso também não significa que não possamos apanhar algum ar nas traseiras da nossa casa ou do nosso apartamento”, contou.

Nos últimos dias Cidália tem notado que “há muito medo e muita desinformação” junto da comunidade portuguesa. “Embora a província tenha suspendido as ordens de despejo, as pessoas não sabem se os senhorios vão ter compaixão ou se os vão despejar. Outros dizem que com o subsídio de desemprego não conseguem pagar todas as suas despesas, e há ainda o caso das pessoas sem estatuto que acham que se forem infetados vão ter de pagar as despejas de saúde à sua custa. Alguns estão desesperados e querem regressar a Portugal, mas não conseguem viajar devido às novas regras”, adianta.

COVID-19: Pessoas sem estatuto

legal têm despejas médicas pagas

As pessoas sem estatuto legal podem sempre procurar ajuda nos centros de saúde comunitários na sua área de residência e segundo a informação disponibilizada esta semana pela província, todos vão ter cobertura pública de saúde. O OHIP, o seguro público de saúde de Ontário, vai cobrir as despesas médicas decorrentes da pandemia, independentemente do estatuto legal da pessoa.

O Milénio Stadium procurou saber se o plano de atividades do Abrigo Centre está em causa devido ao cancelamento da gala que visava arrecadar dinheiro. “Neste momento temos dinheiro para continuar com os nossos programas, pelo menos para os próximos seis meses, mas é claro que ninguém sabe o dia de amanhã. Estes programas só são possíveis graças aos nossos patrocinadores, os fundos provinciais e federais não são suficientes”, adiantou.

Os encontros semanais do Grupo de Apoio às Mulheres Vítimas de Violência Doméstica do centro estão suspensos, mas as técnicas continuam a trabalhar a partir de casa durante o horário de funcionamento habitual.

Joana Leal/MS

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