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Comunidades Portuguesas: Da concentração à dispersão – Mississauga

Situada nas margens do lago Ontário, na região de Peel, Mississauga é uma das cidades vizinhas de Toronto. Com um crescimento exponencial na última metade do século XX, a cidade atraiu uma população multicultural e consolidou-se como um próspero centro financeiro. De acordo com os dados do Censo de 2016, Mississauga tem um total de 721 599 habitantes o que a torna a sexta cidade mais populosa do Canadá, a terceira maior do Ontário e a segunda maior da Grande Área de Toronto. É em Mississauga que está localizado o Aeroporto Internacional Pearson de Toronto.
Ainda de acordo com os dados recolhidos aquando o Censo de 2016, em Mississauga residem 24 140 portugueses.

Paulo Távora

Mississauga

Na perspetiva de negócio, o que é que vos levou a abrir uma loja em Mississauga?
Uma grande parte dos nossos clientes, os que nos têm apoiado desde o início, tem sido a comunidade portuguesa. Quando decidimos abrir uma loja em Mississauga, há quase 10 anos atrás, nós não sabíamos que ia haver mudanças no mercado imobiliário – algo que poderá ser um dos motivos para que as famílias portuguesas tenham optado por se mudar para cidades à volta de Toronto, incluindo Mississauga. Inicialmente nós decidimos abrir uma loja em Mississauga porque nos apercebemos de uma realidade demográfica portuguesa significativa na época e decidimos apostar. Assim, a comunidade continuou a escolher a Távora Foods para as suas necessidades semanais de mercearia – e nós respondemos com uma loja agradável, com produtos frescos e de qualidade. Tenho também que dizer que hoje em dia temos expandido no que diz respeito a etnias – temos pessoas a comprar na nossa loja que são dos mais variados países e o feedback é realmente muito bom, ficam impressionados. Isto é muito gratificamente, porque claro que o público nos associa a Portugal e é ótimo, porque a nossa ambição é promover uma boa imagem daquilo que é ser português, com um cariz positivo entre todas as comunidades.

Tem alguma ideia de expansão para outras cidades da periferia, uma vez que a comunidade portuguesa está cada vez mais a sair de Toronto?
O nosso objetivo é focar no que existe presentemente e desenvolver, cada vez melhorar cada vez mais aquilo que temos. Depois, quando nos sentirmos realmente seguros desse novo passo, no futuro, é realmente algo que tenho em mente, é um sonho – gostava de abrir outra loja noutro sítio e expandir a marca, e servir o público da melhor forma.

Armindo Silva

Mississauga

Assistiu ao fenómeno migratório dos portugueses que foram aos poucos saindo de Toronto e se instalaram em cidades como Mississauga – O Armindo foi, aliás, dos primeiros. O que levou a comunidade a preferir Mississauga, por exemplo?
Acho que cada um terá que responder segundo as suas circunstâncias, claro, mas penso que não terá havido um fator único a contribuir para isso. Na altura, talvez fosse uma questão de espaço, talvez fosse por ser uma zona mais nova, talvez alguns deles ficassem até mais próximos dos seus empregos – eu acho que foi uma combinação de fatores. Por outro lado, as pessoas tinham casas, por exemplo, em Toronto e houve surtos de aumento do mercado imobiliário, nomeadamente nos anos 60, 80… e daquilo que eu observava, esses surtos aconteciam quando as pessoas se apercebiam que era vantajoso vender as casas em Toronto e comprar uma casa nova na zona periférica. Depois havia o fator família – o irmão, o tio, o primo que se mudou e depois iam todos para a mesma zona! Mas como disse acho que não houve um fator único, acredito que foi antes uma combinação de fatores que contribuíram para esse fenómeno.
Devo, no entanto, dizer que em privado, fui sabendo de casos em que as pessoas depois se arrependiam. E porquê? Porque em Toronto estavam mais perto dos seus trabalhos (aqueles que trabalhavam em Toronto) e assim, vivendo em Mississauga, sentiram-se obrigados, muitas vezes, a comprar um veículo adicional – surgiram despesas mais altas que, muitas pessoas, não tinham pensado antes de se mudarem para uma cidade periférica. No início, nos anos 60, 70, Mississauga era praticamente uma cidade dormitório – as pessoas vinham realmente só para pernoitar e no dia seguinte iam para Toronto para trabalhar. No entanto, pouco a pouco, isso foi mudando e hoje em dia já há muita gente a trabalhar em Mississauga – de manhã, vê-se tanta gente a ir para Toronto para ir trabalhar, como se vê carros em sentido contrário! Se pudermos ter as estradas como um indicador, percebemos que há realmente muita gente nos dias de hoje a trabalhar em Mississauga.

O que é que o motivou a abrir uma sucursal da Regional Insurance em Mississauga?
Várias razões, mas a principal foi porque já tinha muitos clientes meus a viver em Mississauga na altura. Claro que havia outros fatores relacionados com a indústria dos seguros – que se sentia mais atraída a zonas mais novas, com menos densidade de trânsito e habitacional, e havia mais apetência da parte deles (dos seguros) em optar por vender seguros fora, do que propriamente em Toronto. Claro que o facto de eu viver em Mississauga me fez ter essa vontade e era mais uma forma de expandir o negócio – tinha o escritório em Toronto e quis, entretanto, abrir um outro em Mississauga para captar aqueles que lá viviam também.

Que impacto tiveram e têm as políticas dos governos provinciais no desenvolvimento dos municípios? Nomeadamente no que diz respeito às relações entre Toronto e as cidades periféricas.
Houve em diferentes alturas, desde de 1965, mais ou menos, alguns incentivos para as pessoas adquirirem novas propriedades. Comprando uma habitação nova, ou comprando uma casa pela primeira vez, havia uma espécie de subsídio – assim, um casal jovem, por exemplo, preferia investir em Mississauga, porque era mais fácil, mais acessível, comprar uma casa. Estas iniciativas eram umas vezes provinciais, outras vezes federais. No que diz respeito a acessos acho que a Mississauga está bem servida, mas a nível de transportes públicos, apesar de eu não os usar, tenho a sensação que tem sido um fracasso nas ligações entre Toronto e as cidades à volta – acho que nunca houve uma estratégia coordenada que estimulasse a construção eficiente de transportes públicos. Lembro-me que em 1961 estavam a acabar as obras do metropolitano ali na zona da University Ave. Mas desde então, passaram uns 40 anos até se voltar a tocar na rede de transporte subterrâneo e que trouxe muita controvérsia… Acho que há falta de visão a esse nível, parece-me que se vê as coisas de forma muito limitada.

Catarina Balça

 

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