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Comunidades Portuguesas: Da concentração à dispersão – Brampton

Situada no sul de Ontário, Brampton é uma cidade da área da Grande Toronto (GTA) e a sede da região de Peel. Tem uma população de 593.638 habitantes (Censo 2016), encontrando-se no nono lugar no ranking demográfico nacional. Na América do Norte podemos encontrá-la no 77º lugar, enquanto que na região da Grande Golden Horseshoe, ocupa a terceira a terceira posição atrás de Toronto e Mississauga.

Brampton foi elevada a vila em 1853 com 50 residentes, tomando o nome da cidade mercantil de Brampton, em Cumbria, Inglaterra. Em 1873, com 2.000 moradores, Brampton foi elevada a cidade. Já foi conhecida como “A Cidade das Flores do Canadá”, um título conseguido graças à sua grande indústria nessa área. Hoje, os principais setores económicos de Brampton incluem manufatura avançada, logística, tecnologias de informação e comunicação, alimentos e bebidas, ciências da vida e serviços empresariais. A imigração em massa aumentou muito a população de Brampton – de 10.000 na década de 1950 para mais de 600.000 hoje.

Segundo dados do Censo de 2016 os portugueses residentes em Brampton atingem os 27.685.

Com mais de 600,000 habitantes, Brampton foi um dos destinos escolhidos pelos portugueses para se fixarem em Ontário. Segundo as estatísticas, por dia são cerca de 40 pessoas que escolhem esta cidade para residir. A cidade, que já foi a capital das flores do Canadá, enfrenta hoje desafios que afinal são comuns na maioria das cidades.
Embora a comunidade portuguesa em Brampton tenha mudado, a língua portuguesa continua a ser a quinta mais falada em Brampton. Martin Medeiros, Regional Councillor de Brampton dos wards 3 e 4, diz que hoje devem existir entre 40 e 50 mil portugueses nesta cidade. “É sempre difícil avançar com números exatos porque os lusodescendentes não entram nestas estatísticas, mas acho que andará entre 40 e 50 mil portugueses. Já fomos mais, mas as políticas federais não incentivam os portugueses a emigrarem para cá e os filhos dos portugueses, que se fixaram em Brampton nas décadas de 70 e 80, hoje acabam por ir mais para norte e fixam-se em Barrie ou Orangeville”, explicou.

Nos anos 80 e 90 a comunidade estava no seu auge em Brampton e Manuel Alexandre foi um dos luso-canadianos que esteve à frente de um dos clubes portugueses. “Fui presidente do Vasco da Gama Cultural Centre que foi fundado em 1982. Fomos nós que levámos para lá o Carassauga que hoje é o principal festival multicultural do país. Hoje há poucos jovens envolvidos nos clubes comunitários”, informou.

Manuel Alexandre tem 66 anos e reside em Brampton desde que chegou ao Canadá. Mais recentemente Alexandre tornou-se conhecido por liderar o Comité dos Trabalhadores Indocumentados (UWC). Em entrevista ao Milénio Stadium revelou-se preocupado com alguns dos problemas da cidade. “Cheguei aqui em 1977 e ao contrário da maioria dos portugueses da minha geração nunca vivi em Toronto. Fui logo para Brampton porque tinha lá família e no final dos anos 70 devíamos ter mais ou menos 70,000 habitantes. Agora a população não pára de aumentar e algumas das infraestruturas não acompanharam esse crescimento”, disse.

O William Osler Health System é a rede de hospitais de Ontário que serve Brampton e Etobicoke, o distrito oeste de Toronto, mas com o rápido crescimento da população a rede tornou-se pequena. “Às vezes precisamos de uma semana para marcar uma consulta e em 24 horas podemos ter cerca de 450 pessoas no serviço de urgência. Precisamos que a província avance com a segunda fase do Peel Memorial Centre porque, segundo as previsões, nos próximos oito anos vamos ter mais de 1 milhão de habitantes”, contou.

Alexandre defende que os problemas de trânsito poderiam ser melhorados com a construção de um LRT (Light Rail Transit) e com o alargamento da autostrada. “Temos várias secções da autostrada 410 que deveriam estar fechadas para o trânsito fluir mais e o LRT subterrâneo, apesar de ser mais caro, seria mais vantajoso porque iria libertar mais o trânsito à superfície. Acho que o aumento dos limites de velocidade nas estradas que Doug Ford está a propor faz todo o sentido, sobretudo nas autoestradas. Penso que seria seguro circular a 120 km/hora”, opinou.

Como empresário e residente, o luso-canadiano lamenta que os impostos sejam tão elevados em Brampton e concorda com o congelamento das taxas na habitação, o primeiro em 20 anos. “As nossas taxas da habitação são das mais caras da GTA (Grande Área de Toronto). A antiga presidente da Câmara quase que aumentou este imposto em 20% em quatro anos. Não há nada que justifique estes valores porque temos muito espaço disponível e além do mais os mais idosos estão asfixiados”, lamentou.

Patrick Brown, presidente da Câmara Municipal de Brampton, está preocupado com o nível de investimento que a província tem feito na cidade. “Precisamos de mais investimento na nossa cidade, não podemos permitir que Brampton se transforme apenas num dormitório”, disse recentemente aos jornalistas. Brown, que foi eleito pelo Partido Conservador, sublinha que Brampton tem recebido menos dinheiro para trânsito e projetos na área dos cuidados de saúde, quando comparada com cidades e regiões como Mississauga, Scarborough e York.

Martin Medeiros também é da mesma opinião e critica as políticas de Doug Ford. “O Doug Ford suspendeu a construção da nossa universidade e está a cortar em áreas muito importantes como é o caso da saúde. Nós já devíamos ter um terceiro hospital e quando se corta em prevenção de doenças significa que mais tarde vamos gastar mais com tratamentos”, lamentou.
O Regional Councillor garante que os problemas de trânsito que existem em Brampton são semelhantes ao de outros subúrbios. “A linha de metro que liga Vaughan a Toronto foi uma decisão política e o trânsito envolve sempre os três níveis de governo. Nos últimos cinco anos o trânsito tem vindo a crescer na ordem dos 24% em Brampton e temos tentado pressionar a província para investir em ligações regulares para Toronto. Precisamos de $1,2 mil milhões para avançar com o LRT, Mississauga recebeu $2,2 mil milhões”, adiantou.
A expansão da linha férrea está a ser negociada com o governo provincial e com a Via Rail e a rede de autocarros é reconhecida a nível internacional. “Somos a segunda cidade que mais cresce no Canadá, estamos logo atrás de Milton. No ano passado adicionámos mais 90 autocarros à nossa rede e este ano foram mais 80. Os Züm, os autocarros rápidos que operam em áreas onde há mais passageiros, são uma referência a nível nacional e internacional”, referiu.

Em relação a um possível alargamento da autoestrada 410, Martin acha que “seria sempre urgente, sobretudo para as áreas que estão mais a norte”, mas defende que o grande desafio dos governos “passa por convencer as pessoas a deixarem o carro em casa e a aderirem aos transportes públicos”.

A nível municipal Brampton está a apostar na revitalização da baixa da cidade, no aumento de espaços verdes e de áreas de entretenimento. “É difícil competir com Toronto, mas queremos que as pessoas vivam mais a cidade, seja através de caminhadas ou de bicicleta. Para já não posso avançar o nome, mas existe um grupo importante à escala mundial que quer investir em Brampton”, garantiu.

Joana Leal

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