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Caro vírus, SARS-CoV-2

Antes de mais, é bom que repares que te trato com respeito. Eu sei que pode parecer ironia quando uso a palavra “Caro” – poderia estar a querer aludir ao facto de estares a sair bem caro a todos e cada um de nós -, mas não… não me interpretes mal… é que a língua portuguesa é muito traiçoeira e arranja maneira de dar mais do que um significado à mesma palavra. “Caro”, neste contexto, significa “Querido”… bem, pensando melhor… vamos voltar ao início:

Sr. Vírus, SARS-CoV-2,

Resolvi escrever-te esta carta para te dizer que não gosto de ti – com todo o respeito, é claro, mas a realidade é que te detesto. Eu sei que é forte. É até deselegante começar assim uma carta, mas peço que não a rasgues já. Lê até ao fim e quem sabe comeces a olhar para nós de forma diferente.

Primeiro não gosto de te teres aproveitado de uns pequenos seres (sim… feios e até repelentes) para atingires o teu verdadeiro objetivo: dizimar a humanidade. Coitados dos morcegos. Apesar de tudo mereciam melhor sorte do que ficarem com a fama de serem teus agentes secretos para, devagarinho, minares o terreno à escala global, nesta guerra que declaraste ao mundo. E tudo começou num mercado – és mesmo maquiavélico, iniciaste a guerra num local onde se vendem bens essenciais à sobrevivência humana.

Tenho que te tirar o chapéu… sim senhor, meu caro Vírus (lá estou eu outra vez… ok, pronto, agora assumo a ironia), é extraordinária a tua capacidade de conquista de território – do mercado de Wuhan, em apenas quatro meses, saltaste fronteiras, ultrapassaste oceanos, invadiste os cinco continentes e instalaste o medo com o teu “poder de fogo”, chamado Covid-19, que mata sem piedade. És muito rápido e mostras saber bem com quem estás a lidar – conheces os nossos hábitos, sabes que para nós, humanos, uns mais que outros é certo, é importante o toque, o abraço, o carinho. Sabes que vivemos em grupo, mesmo os mais solitários precisam sempre de alguém nas suas vidas. Gostamos de festas com mais ou menos gente, apreciamos bons espetáculos. Trabalhamos cada vez mais em rede, numa relação de interdependência… enfim Sr. Vírus… percebeste como nesta sociedade cada vez mais global podias matar de forma rápida e eficaz. E, caramba, já conseguiste atingir fatalmente mais de 2,5 milhões de pessoas.

A notícia que tenho para te dar é a seguinte: dá-nos mais um tempinho e quem vai acabar com a tua espécie somos nós – a vacina há-de chegar e a humanidade vai reerguer-se no final desta guerra que tu não vais ganhar. Entretanto, até temos que te agradecer algumas coisas. Não, não estou a ser irónica outra vez. É mesmo verdade! Olha, temos que agradecer o facto de nos ajudares a limpar um pouco a atmosfera – é temporário, mas faz-nos bem. Dá-nos saúde, imagina! Também nos estás a ajudar a perceber como, na hora da verdade, somos realmente todos iguais – não há dinheiro, condição social ou instrução que nos valha – e estamos todos sujeitos ao mesmo fim. Ainda tens mostrado aos que ainda tinham dúvidas (de uma forma terrível, é certo…) que muitos dos “grandes líderes” deste mundo são seres desprezíveis, que não olham a meios para atingir os seus fins. Sim. Estou a referir-me a esses que estás a pensar e que têm sido teus aliados – acontece sempre isto nas guerras, não é? Há sempre quem seja traidor e se venda ao inimigo. Neste caso o pagamento que desejam é mais popularidade e votos nas próximas eleições a troco de tentarem convencer o povo que tudo isto – a pandemia, os contaminados que não param de aumentar no mundo, os mortos que revelam números assustadores… – é uma grande treta e que a economia, o motor que gera riqueza,  se deve sobrepor à proteção da vida.

Por fim, e porque esta carta já vai longa, quero dizer-te que temos que te agradecer por nos mostrares o melhor lado do ser humano – o altruísta que se entrega ao ponto de arriscar a própria vida para defender a dos outros, o solidário que tudo faz para ajudar quem mais precisa, o criativo que arranja forma de viver bem, apesar de estar fechado entre quatro paredes. Só espero que depois de nós ganharmos a guerra (sim, porque nós vamos ganhar isto!) percebamos que também fizeste bem à nossa memória. Que a tornaste mais viva e ativa. De tal modo que não nos esqueçamos de tudo o que estamos a viver e que a lição fique para o resto dos nossos dias.

Quanto a ti Sr. Vírus, é bom que saibas que tens os dias contados.

Desta que te detesta,

Madalena Balça/MS

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