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Canadá e a discriminação racial

No olhar de Ana Sanka

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Foto: DR

Ana Sanka é uma das mulheres que um dia chegou ao Canadá, ajudando a construir este mosaico multicolor e étnico. Chegou como portuguesa, de origem cabo-verdiana, para trabalhar em prol da comunidade luso-canadiana no Consulado-Geral de Portugal, em Toronto. O Canadá tornou-se o seu país do coração e onde diz que pretende terminar os seus dias. Ana Sanka aceitou partilhar connosco o seu olhar sobre esta sociedade que um dia a acolheu.

Milénio Stadium: Quando chegou ao Canadá, enquanto mulher cabo-verdiana, sentiu alguma dificuldade de integração?

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Ana Júlia Sanka, Ana Julia Sanka, é poeta e ex-funcionária do MNE e aposentada do Consulado Geral Portugal em Toronto. Foto: DR

Ana Julia Sanka: À parte de ser cabo-verdiana/portuguesa/canadiana, posso dizer que sou uma das privilegiadas nesse sentido porque quando cheguei ao Canadá já tinha a vida pré-estruturada, inclusivamente um trabalho à minha espera. Tive, sim, que estudar para aperfeiçoar a minha terceira e necessária língua (a inglesa) sem a qual eu não poderia seguir avante, nesta sociedade multicultural.

MS: Considera que as suas competências e talentos são devidamente reconhecidos?

AJS: Na vida, nem sempre temos aquilo que queremos ou esperamos porque haverá sempre uma ou outra coisa que falha e porque há e haverá sempre (ainda que com subtileza) uma certa forma de discriminação. No meu caso, os 32 anos a trabalhar no Consulado Geral de Portugal em Toronto, onde julgo ter desempenhado com profissionalismo e competência o meu trabalho, fui sempre respeitada no meu posto de trabalho, pelo público e admirada por muitos nesta comunidade, pela minha forma de ser e de atuar. Sem qualquer vaidade, ainda hoje, depois de estar aposentada, sinto o carinho das pessoas que procuram os meus conselhos e ajuda. Para mim é muito gratificante e digo, continuarei a ser a mesma e podem sempre contar comigo.

MS: O Canadá é um dos países do mundo que tem acolhido ao longo dos anos mais etnias. Acredita que essa multiculturalidade e mistura de etnias está representada da forma que deve nas mais diversas estruturas da sociedade? (ex. empresas, cargos públicos, tribunais, etc.)

AJS: Penso que o Canadá dá muitas oportunidades a toda a gente, mas há lacunas a preencher, ao se fazer uma seleção acertada e equitável para as mais diversas posições e cargos quando chega a hora de escolher entre o homem e a mulher. Apesar das competências e da educação equiparadas, os governos e os partidos políticos têm sempre a última palavra. Vou ser curta e certeira. Há uma grande disparidade na escolha quanto ao sexo. Os homens são os que são mais solicitados para qualquer posição em detrimento das mulheres. Desde os cargos aos ordenados, as mulheres estão sempre em segundo plano. É doloroso ver que em quase todos os países a palavra destaque continua a ser masculina. Atualmente, este aspeto afigura-se mais grave do que a questão da cor.

MS: Acredita que no Canadá existe, de alguma forma, uma supremacia branca?

AJS: O Canadá é o meu país de adoção, amo-o e é onde eu quero viver o resto dos meus dias. Não posso é esconder a realidade de que a supremacia branca, essa forma de promoção de racismo que os brancos são superiores a pessoas de outras origens, existe em toda a parte do mundo e o Canadá não está imune. É certo que cada pessoa tem a sua definição do racismo e, para mim, o que mais deve pesar é a educação e não a cor, mas outros valores tendem a prevalecer. Infelizmente, ainda, existem muitas pessoas que não aprenderam a lidar com situações das diferentes etnias, não aprofundaram o seu conhecimento das variadas culturas para atuarem com retidão e humanismo.

MS: O que acha que devia ser feito no sentido de se equilibrar esta “balança”?

AJS: Em primeiro lugar, haver essa consciência na escolha de pessoas qualificadas e educadas para prosseguirem com o ensino e a sensibilização sobre o sexismo e o racismo em todas as áreas, começando com o sistema escolar. Formar pessoas nesse sentido e oferecer condições para que não haja desequilíbrios nas sociedades.

Catarina Balça/MS

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