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Balanço de 2020 ou 2020 em balanço

Balanço de 2020-portugal-mileniostadium

 

Primeiro dia do ano, e tudo o que não queremos é olhar para trás. Na verdade, gostávamos de esquecer que 2020 existiu, e ter dado um pulo diretamente para este. Aquele, em que sabemos que vamos ser vacinados.

Olhando em retrospetiva, não posso deixar de dizer que muito aprendemos com esta “bomba” que nos caiu em cima. Quem diria que por esta altura no ano passado, íamos ser proibidos de andar na rua a certas horas, que não poderíamos chorar os nossos mortos e que nos obrigariam a usar uma máscara que mal nos deixa respirar, e nos faz sentir que vivemos uma peste.

Sim, o que vivemos foi e é uma peste. Uma bomba nuclear que rebentou com a economia, com muitos casamentos e deixou abandonada tanta gente de idade.

Na realidade é, de facto, difícil vislumbrar alguma positividade. Nem todos se adaptaram a novas formas de trabalhar, a gerir no mesmo espaço funções profissionais e domésticas. Isto, sem falar de quem esteve com filhos em casa, a ter de ajudar em tarefas escolares e desdobrar-se como polvo para tudo conseguir fazer. 

Se foi um desastre? Foi. Se aprendemos alguma coisa? Claro que aprendemos. Esta é sempre a parte positiva do ser humano. A capacidade de resiliência e de adaptação perante novos e adversos cenários. Aprendemos a ser mais organizados, a exigir mais independência dos nossos filhos, a realizar uma melhor gestão familiar e a ultrapassarmos fobias e obstáculos que vamos criando com a idade.

De facto, tudo isto ainda é uma aprendizagem para nós, que ainda não foi necessariamente interiorizada por todos. 

Assusta-me que os jovens vivam em despreocupação geral. Revolta-me quem não compreende, que pode infetar quem está ao seu lado. Inquieta-me a desinformação sobre o vírus e a sua disseminação. Vejo com lamento o fecho de tanto negócio local. O desemprego. A zanga familiar. O cansaço.

Tem sido duro. Eu sei. Vocês sabem…temos sido postos à prova das mais variadas formas. 

O Governo, a sociedade em geral, está tão sucumbida à preocupação desta pandemia, que pouco se fala de assuntos que muitos preocupam.

A saúde mental, para mim a questão mais flagrante. Tantos têm sido aqueles que recorrem a terapeutas, através do Serviço Nacional de Saúde (SNS), marcações online esgotadíssimas, provando que as pessoas precisam desabafar, despejar os seus problemas e as suas questões. 

É preciso verificar que a dinâmica familiar em nada tinha a ver com estarem duas, quatro ou seis pessoas fechadas em casa. Havia uma independência, um espaço, um oxigénio próprio. De repente, encontramos famílias aos tropeções uns nos outros, e que muitos, na verdade, já nem estavam habituados a conviver como família. São obrigados, por último, a deparar-se com a realidade de que a estrutura familiar já havia ruído. E ninguém quis ver. Por outro lado, os idosos, e não falo daqueles que estão em lares, pois esses, duma ou doutra forma, sentem aconchego humano e veem as suas necessidades supridas. Falo dos que estão sozinhos em casa, dos que não têm uma visita, um telefonema. Que vivem abandonados e esquecidos pelas famílias, que se ocupam de outros afazeres ou tarefas. Sim, é desses que falo. Também eles recorrem a um telefonema, a alguém que os ouça por 30 ou 40 minutos. Que os conforte, lhes dê uma palavra amiga. Um sopro.

Ainda, e porque não é menos importante, os nossos jovens. Se para nós adultos, têm sido tempos difíceis, para eles mais difícil tem sido. Na fase de crescimento, de socialização e de afirmação, veem-se fechados num quarto ou sala com computador, a ter lições online, num confinamento claustrofóbico, tão difícil de gerir. E embora, desde setembro passado, muitos tenham aulas presenciais, têm havido inúmeros casos de jovens com ataques de pânico e dificuldade em gerir contrariedades e ansiedades. 

E é por isso, que é na área da saúde mental, que reside a maior preocupação. Surgirão, garanto-vos, grandes repercussões ao nível da sanidade e equilíbrio, pois as políticas nacionais, até hoje, não consideram as perturbações e depressões como doença, no sentido em para o acompanhamento por parte de um psiquiatra, psicólogo e psicanalista, não existe comparticipação. E esta realidade é de um lamento total, que como afirmei anteriormente, irá ter um preço demasiadamente elevado.

Por isso, que balanço podemos fazer? Entre tanta coisa má e algumas coisas boas, que 2020 nos traga a lição de que devemos olhar mais para nós, para o nosso bem-estar, para a nossa qualidade de vida. Que nos tenha trazido a lição que por vezes perpetuamos o que não deve ser mantido. Que nos tenha ensinado o que é a verdadeira contrariedade. Que nos tenha preparado para o que é a verdadeira a falta de controlo.  

Mas já basta de lamentos e constatações. Comecemos este ano com a sabedoria e esperança de que tudo vai correr melhor, a partir de hoje.

Um bom, doce e apimentado ano de 2021.

Amélie Bonsart/MS

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