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Aurora Cunha – Uma mulher a correr por um sonho e um país

Aurora Cunha marcou o desporto português. Determinada, lutadora e muito consistente, foi sempre capaz de se refazer ao longo de toda uma carreira. Uma mulher humilde, simples, frontal e uma das mais emblemáticas corredoras de fundo da história do atletismo português. Passou pela sociedade conservadora dos anos 70 e 80 e a disparidade de oportunidades sociais entre homens e mulheres que o país vivia. Foi a correr à volta da igreja de Ronfe, concelho de Guimarães, durante a adolescência, que percebeu que o atletismo seria a sua meta de vida.

Aos 15 anos foi sozinha para o grande Porto. Aurora afirma que o atletismo apareceu quase por acaso na sua vida “Eu apareci por aparecer. Apareci no atletismo na fase da revolução do 25 de Abril em Portugal. Foi uma nova mentalidade que se abriu para as mulheres. Nunca pensava que iria ter a carreira que tive. Acho que valeu a pena apostar na carreira do atletismo e acima de tudo sinto-me orgulhosa por ter tido grandes vitórias e por tudo o que fiz por Portugal.”

Conhecedora profunda da realidade desportiva portuguesa Aurora Cunha consegue fazer a comparação entre o atletismo de outros tempos e o do momento atual – “Claro que não é o atletismo que se viveu na década de 80/90 onde nós ganhávamos praticamente tudo. É um atletismo diferente, os jovens também são diferentes. Eu sou de uma geração que tinha sonhos e consegui agarrá-los. Sonhava em poder participar nos jogos olímpicos, um momento único da minha carreira. A primeira vez que se veste uma camisola da seleção nacional… posso me orgulhar do percurso que eu fiz e de tudo aquilo que consegui ganhar e das alegrias que dei.”

Cresceu numa sociedade portuguesa, caracterizada pela ausência total de direitos principalmente os das mulheres. O 25 de Abril de 1974 representou para as mulheres portuguesas uma autêntica revolução. Abriram-se as portas para a conquista de um lugar digno na sociedade e em igualdade de direitos com o homem. Houve medidas revolucionárias na área do trabalho, da segurança social, do direito da família e o alargamento e o reforço do apoio à mulher para “chegar às metas no desporto.” Aurora Cunha acha que, no seu caso, não ficaram metas por alcançar “Não. Muitas vezes as pessoas perguntam e dizem-me que faltou ganhar uma medalha olímpica. Eu digo que nem todos os atletas estão vocacionados para serem campeões olímpicos. Muitos deles são fabricados para chegar á medalha de ouro, mas eu posso me honrar e sentir-me orgulhosa pela carreira que construi. Sinto-me recompensada.”

Portugal tem tido grandes mulheres nas mais diversas áreas: artistas, músicas, poetisas, cientistas…mulheres corajosas. Desde tempos idos que temos algumas figuras marcantes na nossa história. No atletismo, uma das nossas maiores figuras de sempre, Aurora Cunha, hoje participa em eventos para angariar fundos para instituições – está ligada à Liga Portuguesa contra Cancro, à Casa do Regaço na Póvoa e também ao Instituto Maria Paz Varzim, que dá apoio a crianças em risco. É madrinha de corridas solidárias. Já não corre, caminha, mas ao abraçar as causas promove a solidariedade. Foi atleta e assim o será, para sempre.

“Sim. Eu depois de deixar a alta competição abracei vários projetos. Costumo dizer que enquanto tiver vida e saúde o desporto vai estar comigo até um dia partir deste mundo. Abracei o atletismo de alma e coração”
Aurora Cunha podia fazer da corrida uma canção ou um poema dedicado a todas as mulheres atletas. Ao longo de toda a sua carreira, usou as pernas para transportar um sonho e um país. Está orgulhosa e feliz pelo seu passado dado ao atletismo.

Paulo Perdiz

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