Temas de Capa

A tradição já não é o que era

Já é hábito: o relógio marca horas “de dormir”, mas nós continuamos, cada uma no seu tablet, a beber o nosso chá de limão e com a televisão como “banda sonora”. É quase um ritual entre mim e a minha mãe. A única diferença entre as duas são as (demasiadas) vezes em que ela adormece, sentada, e só acorda quando o seu pescoço “elástico” cede e a cabeça encontra a parede. Ouve-se uma pancada seguida de um “já estava a dormir”. Sim mãe, isso também já aconteceu todos os dias desta semana. E deste mês. E deste ano. E de muitos outros que se antecederam – parece que já temos mais uma “tradição”.

E foi precisamente ao falar em tradições que tivemos um de muitos ataques de riso – também muito por causa do sono que teimamos em combater. Falávamos das diferenças entre o que é para mim, hoje, a Páscoa e do que era para a minha mãe nos seus tempos de criança.

“Ainda me lembro quando o Padre ia a casa da tua avó. Era “sagrado” receber a Cruz e ai de nós que não estivéssemos em casa a horas! À entrada havia uma soleira e nós já sabíamos que o senhor ia tropeçar. Como crianças que éramos não conseguíamos conter o riso e levávamos logo com um olhar que já sabíamos o significado: ia “chover” assim que ele saísse”. Sempre soube que a minha avó teve “mão pesada” com a minha mãe e com o meu tio – muito provavelmente devido à morte prematura do meu avô, com apenas 32 anos.
Era também tradição andar a “correr as capelinhas” – “era uma adrenalina para nós andar nesse entra e sai de casas de familiares e vizinhos… Tínhamos de estar sempre em “sentido” para beijar, novamente, a Cruz”.

Também eu, em criança, tenho lembrança do “temido” momento de beijar a cruz – todos faziam uso do inspetor Gadget que havia em si para procurar, estrategicamente, o sítio onde as outras pessoas ainda não tivessem beijado. Para além disso, de pouco mais me recordo… Hoje em dia, na zona onde vivo, a maioria das pessoas já não abre as portas de sua casa à visita Pascal – seja por agora serem leigos que o fazem ou, simplesmente, por não haver uma tão grande ligação à religião.

Assim, hoje, para mim, a Páscoa é sinónimo de, muito resumidamente, duas coisas: família e quilos a mais.
Um costume tipicamente português – uma festa não é festa se não tiver uma mesa bem recheada de tudo aquilo que nos vai, com certeza, fazer arrepender no dia a seguir. Pão-de-ló, ovos moles, natas do céu, mousse de chocolate, uma “fatiazinha” de folar com queijo… Enfim, os ginásios agradecem.

Quererá tudo isto dizer que “caminhámos” para pior? Na minha opinião, não. O essencial permanece: a família continua a reunir-se à volta da mesa, a soltar gargalhadas e a relembrar o passado – os lugares que, infelizmente, foram ficando vazios veem-se agora “ocupados” por carrinhos de bebé.

Já de lágrimas nos olhos de tanto rir segue-se mais uma frase da praxe: “As cadelas ainda não foram fazer xixi”.
Pois não mãe. E lá vamos nós de pijama para a rua.

Há coisas que nunca mudam. E ainda bem.

Inês Barbosa

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