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A primeira vez

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Créditos: Victoria Vandenberg

Aquele Natal iria ser o mais triste de sempre. Detestava tudo – as músicas que se ouviam nas ruas, as compras que enchiam lojas, os supermercados a abarrotar… lembro-me de chorar de cada vez que alguém largava um sorridente e seguramente sincero “Feliz Natal”. Como poderá ser um “Feliz Natal”? – era o que perguntava a mim mesma, constantemente. 

A caminhada até chegar o dia tornou-se cada vez mais dolorosa. O refúgio era o trabalho. Fechada no escritório ainda ouvia as músicas que eram cada vez mais irritantes – o All I want for Christmas is you de Mariah Carey já estava no nível insuportável.

Chegou a véspera de Natal. A noite que devia ser de festa e alegria, com a família reunida, aproximava-se e eu cada vez mais triste. Até que chegou a notícia – morreu o Rodolfo. O abalo foi imenso, abanando a minha estrutura e, ao mesmo tempo, recentrando-me para o que realmente interessa. Que estúpida, pensei imediatamente. Como podia eu ousar sentir-me triste por não ter junto de mim, pela primeira vez numa noite de Natal, a minha filha. Aqueles pais nunca mais iriam ter aquele filho sentado à mesa na noite de consoada. E mais… nunca mais viveriam um Natal sem recordar a dor imensa da sua perda.

Conto-vos esta história sentindo que, na realidade, estou a contá-la a mim própria porque, neste ano tão difícil, de novo a expressão “a primeira vez” volta a marcar o meu Natal. Não será a primeira vez que passo o Natal sem ter a minha mãe ao meu lado, a fritar as azevias, as rabanadas, os sonhos e todas as outras delícias natalícias enquanto o bacalhau, as batatas e os grelos cozem em grandes tachos e panelas, mas será a primeira vez, em 30 anos, que o meu marido estará bem longe de mim, mas também será a primeira vez que passarei o Natal junto do meu neto. 

O Natal é, para os crentes em Jesus, um pretexto de festa, de celebração do Seu nascimento. A família une-se no espírito de partilha e alegria. Neste ano marcado pela assustadora pandemia, que nos tolda os movimentos e os afetos, o Natal será marcado pela “primeira vez” para quase todos nós. No final o que conta é que percebamos que a essência se repete. O que realmente interessa permanece, no nosso pensamento, no coração. 

Este será um Natal diferente, sem dúvida, mas os sorrisos estarão à distância de uma videochamada – que nos aproximará. Será diferente, mas não deixemos que seja um Natal triste. Não temos esse direito. Pensem nos “Rodolfos” que não estarão online nessa noite. Ganhem força para sorrir e pensar que este é um Natal com uma marca especial, será o “Natal da primeira vez”, mas a expressão “para sempre” é a que traduz o que sentimos pelos nossos, que este ano por vários motivos não poderemos abraçar e sentar na mesa da consoada. 

E claro, nunca devemos esquecer as sábias palavras de Ary dos Santos – 

“Natal é em Dezembro

Mas em Maio pode ser

Natal é em Setembro

É quando um homem quiser

Natal é quando nasce uma vida a amanhecer

Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher”

Feliz Natal para todos.

Madalena Balça/MS

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