Temas de Capa

A incerteza do futuro

Fernando da Silva e a esposa, Maria da Conceição, portugueses de nascença e canadianos pela força dos anos que têm do país que os acolheu e lhes proporcionou uma vida melhor, vivem hoje o seu período de descanso de anos de muito trabalho.

Há uns tempos a doença incapacitante bateu-lhes à porta – Conceição sofre de Parkinson e a progressão da doença tem trazido ao casal uma vida cada vez mais complexa. Com um filho que trabalha e, portanto, não tem a disponibilidade necessária para ajudar nas rotinas diárias, Fernando transformou-se assim no marido cuidador. Faz o que pode e até o que não pode para garantir que a sua São tenha o apoio que requer.

Apesar dos contratempos da vida, a felicidade nunca deixou de estar vincada nos sorrisos. No entanto, o futuro assusta. A incerteza assusta. Porque, na verdade, mereciam agora usufruir de uma velhice tranquila e confortável.

Milénio Stadium: Sente que há carências de serviços de apoio na grande área de Toronto?
Fernando da Silva: Penso que sim, que há falta de apoio – por parte do Governo inclusive. Sinto que não temos apoio suficiente, mas também se formos a pedir mais do que temos, nós é que temos que pagar. Ao fim e ao cabo nós é que pagamos, nem que seja por intermédio dos impostos. E depois há uma realidade que eu considero injusta – as pessoas com mais posses económicas deviam pagar mais que a classe média, por exemplo, e isso nem sempre acontece. Acho que seria justo que houvesse uma avaliação mais séria e profunda dos rendimentos de cada pessoa e a tal ajuda fosse atribuída consoante a necessidade de cada caso.

MS: Vocês estão a chegar a uma idade que, e por razões de saúde principalmente, começam a precisar de ajuda. Neste momento quais são as vossas maiores preocupações?
FDS: As preocupações são tantas… Nós temos o PSW (personal support worker) que vem cá três dias por semana para dar banho à minha esposa e fazem-nos a cama também. Mas de resto, sou eu que faço tudo e não sei até quando vou conseguir. Quando chegar a esse ponto, de limite mesmo, tenho que pedir mais ajuda, não sei… Arranjar alguém para estar aqui em casa connosco ou então ir para um lar.

MS: O que considera que vos faz falta para terem uma velhice mais protegida e feliz?
FDS: Saúde (risos). Temos algum dinheiro, mas não podemos usufruir dele… Gostava de ir de férias, por exemplo, mas é impossível… Só o trabalho que tenho com a minha esposa, para mim não são férias.

MS: Haveria alguma forma de uma instituição, por exemplo, vos ajudar?
FDS: Eu penso em duas hipóteses: ou ter uma senhora aqui para nos ajudar em casa, ficar cá connosco ou ir para um lar. Ter alguém aqui connosco era mais confortável, mas fica mais caro e na verdade um lar tem mais condições, principalmente a nível de assistência médica.

MS: Acha que existem casas suficientes de apoio aos idosos ou a pessoas que têm necessidade de ajuda por razões de saúde?
FDS: Sinceramente não sei se existem suficientes, não procurei muito ainda. Mas sei que o meu médico me disse que eu devia pensar em fazer a candidatura, porque o tempo médio de espera é de cinco anos. E depois há a questão económica… As condições de cada lar variam consoante o valor que estivermos disponíveis ou possibilitados a pagar.

MS: Se tivessem a possibilidade de ir para uma casa de idosos, quais seriam os vossos receios?
FDS: Eu não tenho receio nenhum em ir para um lar se for em Portugal. Conheço lá um, em particular, que me transmite muita confiança. No entanto, aqui na grande área de Toronto não conheço, muito sinceramente, mas o meu receio seria não ser bem tratado. Há aqui uma forma de ser e de estar diferente, pelo que ouço de histórias que me chegam. Por exemplo, se um idoso não come a comida que lhe é posta à frente, ninguém está lá ao lado dele a ajudá-lo, a incentivar para que coma, a dar-lhe de comer se for preciso. Assusta-me um bocado essa forma de ser e de trato.

MS: Na sua opinião a comunidade portuguesa, concretamente, está bem servida no que diz a apoio para os mais velhos?
FDS: Sei que existem várias associações por aí, mas em termos de lar mesmo acho que estamos mal servidos. Centros de dia sei que até existe alguma coisa, mas sinceramente acho que somos uma comunidade grande e merecíamos uma atenção especial.

MS: Considera, então, que faria sentido haver um lar de idosos para portugueses?
FDS: Todo o sentido. Era ideal. Muita gente trabalhou cá a vida toda e muitos nem falam inglês! Essa barreira da língua, que por acaso não é o nosso caso, existe muito! Estar numa casa de portugueses e para portugueses era reconfortante. Um espaço feito por pessoas que partilham a nossa cultura, falam a mesma língua… E a comida, que seria aquela a que estamos habituados e gostamos… São tantas as vantagens. Para além de que era ótimo para jogar uma sueca (risos). Sentir-nos-íamos em casa e isso acho que é fundamental.

Catarina Balça

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