Temas de Capa

Natal agridoce

O Natal é a festa da família e por esta altura é uma mistura agridoce porque na mesa há lugares que vão estar vazios para sempre. Mas também é feito de boas memórias, de muito amor, de alegria e de excessos.

Esta época remete-nos para a inocência e para a infância, o tempo em que achávamos que tudo era possível e que os 18 anos nunca mais chegavam. Lembro-me dos preparativos como se fosse hoje, era preciso fazer a árvore e o presépio e preparar os pratos típicos da época.

Com antecedência arranjávamos o musgo e o farelo de madeira para fazer o caminho dos Reis Magos até à gruta onde haveria de nascer o menino Jesus. E depois era preciso paciência para distribuir as figuras do presépio, os animais e para fazer e refazer cada uma das cenas. A árvore, que ainda cheirava a resina, era uma das partes mais difíceis porque pendurar os enfeites era quase missão impossível. Aqueles que conhecem um pinheiro natural saberão do que estou a falar: os galhos são escorregadios e os enfeites parecem quase destinados a estar no chão…  Talvez por isso nos tenhamos rendido aos encantos da criptoméria! A última fase do processo eram as fitas, as luzes e os postais de Natal que vinham dos primos da América.

O bolo de frutas, que ainda hoje continua a ser o meu preferido, só podia ser cortado no dia de Natal. Primeiro era preciso macerar as frutas cristalizadas com vinho do Porto e depois fazíamos a massa com especiarias, frutos secos e os ingredientes típicos da maioria dos bolos: farinha, ovos, açúcar, manteiga e fermento. Depois o bolo ia ao forno e finalmente era embrulhado em papel vegetal.

Não há Natal sem a carne guisada à moda do Pico ou dos Açores, como lhe queiram chamar. O bacalhau era cozido com todos, mas nos últimos anos deu lugar ao bacalhau com natas, um dos preferidos lá em casa. As fatias douradas, como se diz nos Açores, ou rabanadas, se preferirem à moda do Continente, eram fritas no próprio dia. Apesar dos conselhos, da avó e da mãe, sempre insisti em prová-las quentes antes do jantar. Ainda hoje é assim, parece que há coisas que nunca mudam, mas a avó já cá não está…

À noite iamos à Missa do Galo e no dia a seguir abríamos os presentes. Hoje o Natal é diferente, tem neve e de vez em quando é no Canadá. Em vez de prendas pedimos saúde para os nossos e o consumismo da América do Norte faz-nos lembrar que há coisas que o dinheiro não compra e que o Pai Natal nunca vai conseguir entregar. Mas como pedir é, por enquanto, isento de taxas, faz com que aqueles que já cá não estão se lembrem de nós como nós nos lembramos deles.

Feliz Natal, que todos os vossos desejos se cumpram e que possam desfrutar, durante muitos anos, do calor da vossa família.

Joana Leal/MS

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