Portugal

Um mar de correntes na Póvoa

Aida Batista

Num tempo em que tudo “googlamos”, basta  fazer uma busca em “correntes d’escritas” para nos aparecer a informação: Num tempo em que tudo “googlamos”, basta  fazer uma busca em “correntes d’escritas” para nos aparecer a informação: “Correntes d’Escritas, ou simplesmente Correntes, é um encontro anual de escritores de expressão ibérica que decorre durante o mês de Fevereiro na Póvoa de Varzim. Os escritores são provenientes de países e continentes onde se falam as línguas portuguesa e espanhola, desde a Península Ibérica, passando pela América Central e do Sul à África Lusófona. O primeiro encontro realizou-se em Fevereiro de 2000, ano em que se assinalou o Centenário da Morte de Eça de Queirós, natural da Póvoa. O encontro foi ganhando notoriedade ano após ano e hoje é o maior evento literário em Portugal onde são lançados vários livros pelos autores e respectivas editoras e tem potenciado a tradução de livros em português para espanhol e vice-versa. Momentos importantes do encontro são as “mesas” de debate e as visitas às escolas. Vários escritores ligaram-se ao evento, tais como o chileno Luis Sepúlveda, o português Rui Zink, o angolano Manuel Rui e o galego Carlos Quiroga.A partir de 2004, passou a ser atribuído um prémio para novas obras em prosa ou poesia, em anos alternados, chamado Prémio Literário Casino da Póvoa. O prémio tem o valor de 20 000 euros e é também oferecida uma réplica da lancha poveira, símbolo da cidade e do mar entre os diferentes povos. A obra premiada é escolhida por um júri Ibero-Afro-Americano entre dez obras finalistas, que por sua vez foram seleccionadas a partir de centenas de obras recentemente editadas. É também atribuído o Prémio Correntes D’Escritas/Papelaria Locus para jovens escritores entre os 15 e 18 anos. O evento tem o apoio do Casino da Póvoa, da Novotel, da Norprint e do Instituto Cervantes.” Dito/escrito assim dá-nos já o retrato de que, durante aqueles dias, o Teatro Garrett e o Hotel Axis Vermar (passe a publicidade), são os espaços onde, em Portugal, se concentra o que de maior e melhor há na cultura ibérica. É verdade, mas as correntes são, também, uma alma urdida para além das palavras escritas e transmitidas pelas vozes dos seus autores, que vão da prosa à poesia, da música à expressão corporal, chegando ao cinema, a forma mais sincrética de tudo juntar: texto, imagem, música e movimento.Apaixonada por este evento, faço há anos a reserva de hotel com a devida antecedência e rumo até à Póvoa. Nunca corremos o risco de sair defraudados ou de ter a sensação do “déjà vu”. A eficiente equipa da organização esmera-se tanto na decoração da mesa do palco – fazendo jus à palavra cultura, numa simbiose entre a da terra (flores) e a do espírito (livros) -, como no desafio de propor  motes desconcertantes aos intervenientes, de modo a forçá-los a serem originais, e abordarem o tema como se de um  novelo se tratasse. A ponta por onde cada um começa é sempre diferente, e a magia do momento está no texto, que se vai desenrolando em vários formatos até ao aplauso final. Mas a alma das correntes vive também dos intervalos preenchidos com amigos reencontrados, do contacto informal com os autores, das refeições partilhadas, da conversa que flui entre copos no bar do hotel ou no café mais próximo e,  já cá faltava, das muitas “selfies”. A partir daí, as correntes percorrem toda a semântica da palavra para ganharem outros significados porque, do inicial que amarra e prende, se solta a força do mar poveiro contra os rochedos do pensamento, transformados em espuma branca de liberdade e criatividade.

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