Portugal

Kiko Is Hot – Is it hot in here or is it me?

Francisco Soares, conhecido por Kiko is Hot, é um verdadeiro fenómeno de popularidade. Diz que é “tipo Deus, mas com um cabelo mais bonito” e, apesar de já ter tido desafios em diversas áreas profissionais, foi através do YouTube que se tornou conhecido. O “boom” deu-se com o seu terceiro vídeo intitulado “Tutorial – maquilhagem de dia-a-dia” e, nos dias de hoje, já conta com mais de 100 mil subscritores e os seus vídeos já foram vistos mais de 14 milhões de vezes. O seu look irreverente e o seu discurso assertivo, divertido e descomplexado são as características que lhe valem a sua grande diferenciação em relação aos demais yutubers da sua geração, assumindo-se como um dos maiores e mais emblemáticos ícones da web e do YouTube português.

Milénio Stadium: Kiko, quando é que começaste a perceber que eras diferente?

Kiko: Isso é uma pergunta interessante porque eu já pensei muitas vezes nela e já refleti bastante. As pessoas começaram a dizer-me as opiniões delas em relação a mim e eu percebi “ah, ok! então isto não é a norma”, digamos assim. Portanto, não foi uma coisa propriamente que eu achasse que era, foi mais uma perceção das pessoas sobre mim. Comecei a expressar-me, adotei logo desde muito cedo um estilo e um visual diferente. Comecei a usar maquilhagem bastante cedo (para aí aos 15 anos já usava eyeliner) e aí, realmente, foi um bocado mais difícil. Isto é horrível de se dizer, mas já eram tantas as vezes que me diziam coisas que eu acabei quase por ficar apático…

M.S.: Criar um “escudo”…

K.: Sim! Criei um escudo e não deixava que ninguém o ultrapassasse. A verdade é que eu não tinha processos de socialização, não saía muito com os meus colegas, não tinha propriamente uma vida. Estava bastante viciado em jogos de computador, era um bocado um antissocial fora da escola. Portanto, resguardei-me muito na internet e comecei a reparar que havia pessoas como eu, pessoas com o meu sentido de humor, pessoas com a minha visão, a fazer vídeos para o YouTube. E eu quando estava nas férias de verão pensei assim “e se eu fizesse? agora é que é a altura certa porque se correr mal tenho as férias todas para os meus colegas se esquecerem” (risos). E quando fiz foi surpreendente porque houve uma resposta bastante imediata, que acho que é a beleza da internet – eu de repente tinha pessoas de todo o país a ver-me, muitas delas a criticar-me, mas muitas delas também a relacionarem-se comigo e com aquilo que eu dizia e eu, de repente, senti-me ouvido. De repente, a minha vida já não era só escola-casa, havia um segundo mundo em que eu podia ligar a câmara e brincar com a minha criatividade e ser realmente aquilo que eu precisava de mostrar que sou.

M.S.: Estamos a falar a parte boa, Kiko. Mas não podemos dizer que haja consenso no teu canal. Também tens alguns comentários negativos… Como é que lidas com estes “haters”?

K.: Eu já passei por várias fases. Já passei pela fase inicial em que recebi imenso hate, uma coisa surreal. Foi tipo metade das pessoas que viram os meus vídeos eram haters, no início, e cheguei mesmo a ser alvo de chacota em televisão, por vários youtubers… Eu tinha 16 anos! A única coisa que eu pude fazer na altura era aquilo que fazia na escola – agir como se não me afetasse. Foi a minha maneira de me proteger, porque acho que se, na altura, tivesse enfrentado aquilo não sei como é que teria sido. Acho que teria sido bastante perigoso até. Com o tempo houve algo dentro de mim que me dizia que as pessoas iam compreender, sentia que aquilo que eu tinha a dizer era importante! Eu estava a redefinir uma ideia que as pessoas, que a sociedade portuguesa principalmente, tem sobre o homem, sobre ser um rapaz. Na maior parte das vezes eu realmente não quero saber, mas há dias em que realmente me sinto mais frágil e há comentários que me afetam negativamente.

M.S.: Existe um vídeo no teu canal em que “denuncias” alguns desses ataques que criticavam essencialmente a tua orientação sexual. Com que intenção gravaste esse vídeo?

K.: Eu adoro fazer esses vídeos! Eu acho que é tão interessante tu pegares numa coisa que podia ser tão negativa e transformares num conteúdo engraçado, sabes? Eu adoro esse tipo de coisas. Adoro conseguir rir-me desse tipo de coisas. Eu acho que se conseguires fazer uma piada sobre uma determinada situação ela acaba por perder importância e peso…

M.S.: Relativizar, no fundo.

K.: Relativizar um bocado! Em relação à minha orientação sexual, é engraçado teres mencionado isso porque eu tenho chegado à conclusão que a maior parte das pessoas nem sequer é homofóbica. Eu acho que a maior parte das pessoas é ignorante, tem medo do desconhecido. Quando vêm falar comigo e acham estranho eu ser assim, ter esta orientação sexual, fazer isto ou dizer aquilo eu desculpo sempre uma primeira vez. Todos nós temos direito a ser ignorantes uma vez, não vou ser extremista ao ponto de achar que todos os comentários negativos são sobre a minha orientação sexual! A maior parte dos meus haters são homens e isso não é à toa!

M.S.: Um projeto mais recente em que estiveste envolvido é uma Web Série chamada Casa do Cais. Do que se trata?

K.: Esta web série retrata basicamente a vida de cinco amigos que partilham uma casa no Cais do Sodré, em Lisboa, e tem muito a ver com as suas aventuras e desventuras, relacionamentos, drogas, como sobreviver no mundo, sexo…. Cinco jovens adultos a tentarem descobrir-se numa grande cidade! Nós nesta série mostramos que os problemas que nós passamos são coisas bastante transversais a qualquer orientação sexual, a qualquer idade, qualquer pessoa se pode relacionar com isto! No entanto, eu tenho um grande orgulho e não quero de todo estar a afastar-me do termo, nem tenho medo dele, isto é uma série abertamente LGBT friendly, as personagens são LGBT. E isto é muito importante para nós porque é um marco no panorama nacional, é uma coisa que nunca se fez. Voltei agora com o meu canal do YouTube, com o espírito criativo muito aceso.

Gostaria também de dizer às pessoas que estão a ler isto e que, suponho eu, emigraram para o Canadá à procura de uma vida melhor que acho que isso é uma coisa tão corajosa de se fazer! Eu tenho um irmão fora do país e sei que ele sente imensas saudades, portanto queria deixar-vos uma palavra de força! Um beijinho grande e se quiserem podem acompanhar-me e podemos falar sobre este assunto e muitos outros!

 

Inês Barbosa

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