Opinião

Vem aí uma “engenhoca”!…

Ainda no contexto da indigestão provocada pelos resultados eleitorais em alguns partidos, tais como o CDS, o PSD, o PCP e, de certa forma, o Bloco de Esquerda, António Costa foi indigitado pelo Presidente da República para formar o XXII Governo Constitucional de Portugal.

Após uma ronda de auscultações feitas pelo líder do PS aos partidos que, no anterior governo, formaram com ele aquilo a que se considerou chamar a “geringonça”, Costa concluiu (se já não o havia feito anteriormente…) que não era possível reeditar o mesmo esquema de governação anterior, através de um acordo escrito que incluísse todos esses signatários, decidindo-se pelos acordos verbais pontuais com eles, caso a caso (nomeadamente com os Orçamentos de Estado), requerendo para o PS o exercício global da governação, que o aumento significativo da votação obtida lhe confere.

Se bem que o novo governo já não possa ser exatamente identificado com a anterior “geringonça” ele, nas atuais condições de governo minoritário do Partido Socialista, não deixará de ser uma “engenhoca”!

As razões que conduziram alguns dos anteriores parceiros parlamentares do PS, nomeadamente o PCP/PEV, a não manter a sua anterior disposição, são sobejamente conhecidas e indisfarçáveis, face aos magros resultados eleitorais que obtiveram.

A disponibilidade do Bloco de Esquerda a fazê-lo tem pouco a ver com o score obtido por este partido (que perdeu igualmente uns milhares de votos, embora mantendo o mesmo número de deputados), mas porque, na nova aritmética eleitoral, seria o único partido disposto a assinar um acordo escrito com o PS, tornando este último refém das suas inúmeras exigências, que foram de imediato tornadas públicas e quase entendidas como uma chantagem ao PS, pela assinatura de um futuro acordo.

Assim sendo e tentando não cair na barafunda política que se mantém no país de “nuestros hermanos” espanhóis, o PS “puxou dos galões” e decidiu avançar sozinho nesta legislatura, pretendendo manter a estabilidade do país durante os próximos quatro anos.

Não vai ser fácil, como também não o foi nos últimos quatro anos!

A atual situação político-partidária nacional está diferente e pode ser considerada melhor ou pior do que a anterior, na perspetiva de um governo minoritário do PS. De nada vale evocar o sucesso ou o insucesso de governações anteriores semelhantes, para encontrar soluções ou desastres para o próximo governo, uma vez que, o que se passa actualmente é a reformulação de algumas das nossas organizações políticas e o seu posicionamento no futuro espetro político nacional, situação que pode implicar novos cenários na forma como irão relacionar-se.

O Bloco de Esquerda, também ele em permanente conflito entre as tendências intelectuais trotskistas do seu ideário, arregimenta, pela dinâmica das suas intervenções e de forma mais ou menos estável, o eventual descontentamento do mundo do trabalho sem que, no entanto e até ao momento (…), consiga definir concretamente o destino que quer impor ao país.

O PCP, tendo perdido as suas referências internacionais e mantendo o seu discurso “monossilábico”, tende a esvaziar-se lentamente, tornando-se um partido de históricos leninistas ou o palco das disputas entre “puristas” e revisionistas, sujeitos à pressão da concorrência que, de várias formas nem sempre institucionalizadas, lhe disputa a sua base de apoio.

O PSD, entre duas vias que parecem inconciliáveis (a sua inspiradora social-democracia e o liberalismo crescente), está neste momento a tentar resolver a “circulatura do quadrado”, num espaço concorrido entre “pombas e falcões” que dificilmente chegará à unidade entre uns e outros. Preenchido o espaço da social-democracia pelo PS, o destino do PSD está dependente das escolhas da liderança a prazo dos contestatários ao atual líder político.

O CDS, cuja natureza de partido conservador foi abalada pelo seu desastre eleitoral, promovido por uma campanha de casos e não de uma visão de sociedade, procura agora uma identidade perdida entre o que resta dos seus elegíveis ideólogos, para conseguir afirmar-se no mapa político português.

O PAN, enquanto partido de causas animais e naturais, continuará a parasitar a ajuda de terceiros para os seus objetivos, sem implicar grandes alterações nas relações parlamentares.

Neste contexto interno e se quiser manter uma governação estável (sem considerar a influência de fatores externos), compete ao agora designado “habilidoso” primeiro-ministro explorar as fraquezas dos seus adversários políticos, procurando não enfatizar as hostilidades para com eles e sem esquecer que a sua atual força reside no facto de ter realizado uma legislatura, geralmente, positiva para uma grande parte dos portugueses. Mas, se a anterior legislatura mereceu a aprovação de muita gente, sobraram casos pessoais e institucionais que mereceram uma severa reprovação e que não podem repetir-se, sob pena de se vir a confundir a árvore com a floresta ou, se os casos se multiplicarem, tornarem-se na própria floresta, escangalhando a “engenhoca”!…

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