Opinião

“The Day After”!

Agora que estamos todos convencidos (ou a convencerem-nos…) que a pandemia em Portugal atingiu o seu ponto máximo, a que se segue o seu decréscimo até à extinção (se não persistir uma segunda vaga), as atenções voltam-se para o que vai acontecer depois.

Pelas dificuldades que ainda sentimos e pelo medo e desespero que nos causam ainda a quantidade de infetados e mortos que todos os dias não param de crescer, sem falar da exaustão provocada pelo mal menor destas sucessivas quarentenas, o que é igualmente um facto que nos preocupa fortemente é o país que vamos encontrar quando a Covid-19 deixar de ser uma ameaça à nossa saúde, para se tornar uma ameaça à nossa subsistência!
Já todos percebemos que a nossa retoma económica (se a houver…) vai ficar ainda mais hipotecada. Assim: que o turismo, “a galinha dos ovos de ouro” (antes tão criticada…), não voltará facilmente aos resultados de outrora; que o ritmo das nossas exportações habituais vai passar grandes dificuldades, face aos tradicionais mercados importadores, também eles a sofrer as consequências desta crise pandémica mundial; que o consumo interno vai baixar, colocando em risco as pequenas empresas; que o desemprego vai agravar-se, em consequência do endividamento de muitas das nossas empresas e das alterações que, necessariamente, se irão produzir no nosso aparelho produtivo; que os nossos grupos de cidadãos mais desprotegidos, no meio de tantas incertezas, serão os mais afetados; que as rivalidades entre Estados, disputando as fraquezas de uns e de outros (como se nada tivessem aprendido com a presente situação), continuarão a afetar a instabilidade do mundo e a nossa indignação pessoal, com a exploração de fontes de rendimento abusivo; etc., etc.

Enfim, avizinham-se tempos difíceis e o nosso “velho” Portugal, vencedor de tantos desafios e sofredor de tantos outros, tem pela frente um único caminho: resistir… resistir às adversidades que passamos e aos obstáculos que iremos encontrar pelo caminho e, a bem do povo que estimamos e da nação que construímos, se tal caminho se configurar como um beco sem saída, há que inverter a trajetória ou destruir as paredes que nos barram o objetivo!
Nós, tal como outros países europeus, não conseguiremos sair desta prova sozinhos. Precisamos da ajuda dos nossos mais próximos aliados (vulgo, “amigos”) para que, num esforço comum, consigamos superar a crise económica em que, em consequência desta pandemia, nos afundamos diariamente. Mas, mesmo entre “amigos”, que se juntam em torno de um teto comum a que chamamos União Europeia, ninguém dá nada a ninguém.
Na recente reunião do Eurogrupo (constituído pelos 27 ministros da Finanças da UE), que se desenrolou na passada semana, foram precisos dois dias para se chegar a um meio acordo entre eles. Situação que já era previsível pelas declarações anteriores, nomeadamente por parte da Alemanha e dos Países-Baixos, que se opunham à utilização dos eurobonds (ou coronabonds), que permitiriam a mutualização da dívida dos países membros (passando à condição de dívida partilhada por todos os Estados), reduziriam os custos de financiamento dos Estados a taxas de juro altíssimas e, embora não diminuísse a dívida, poderia prolongar a sua amortização por algumas dezenas de anos, facilitando a retoma económica dos países.

Enfim, um simulacro de um “Plano Marshall” que a Alemanha aproveitou após a Segunda Guerra Mundial e que hoje recusa, tal como a Holanda. Situação que mereceria outros comentários, mas que o espaço disponível nesta crónica não o permite.

No final da citada reunião de 15 horas do Eurogrupo, foi finalmente aprovada uma meia proposta, no valor de cerca de 540 mil milhões de euros a juros favoráveis, através de um fundo da UE que nunca tinha sido utilizado, destinado a socorrer todos os países (Alemanha e Holanda incluídos…) e na proporção do seu respectivo PIB (…), para fazer face às respetivas despesas, diretas e indiretas, com cuidados de saúde, tratamento e prevenção, relacionados com a Covid-19.

Ficou, no entanto, por aprovar qualquer proposta destinada a financiar um fundo de recuperação económica, capaz de reativar as economias dos países europeus em grandes dificuldades, discussão que terá lugar numa próxima cimeira entre os Chefes de Estado e de Governo da EU. Iremos assim assistir a mais um “combate” entre aqueles que, pelas circunstâncias atípicas da atual crise, recusam as “Troikas” do passado recente (mais impostos, desemprego, miséria, contração do desenvolvimento social, económico e cultural) e os outros que apenas estarão de acordo em aceitar os empréstimos para esse fim se os primeiros aceitarem as condições que nos foram impostas em 2011!

Sou convictamente um europeísta (embora crítico de alguns aspetos do seu funcionamento), mas baseio esta minha convicção nos princípios e objetivos para que foi criada a União Europeia. Esta atitude de alguns países europeus em “sangrar” os que lhes são atualmente mais frágeis economicamente, perante esta incontrolada epidemia, só tem uma leitura: “repugnante” (como lhe chamou o primeiro-ministro português) e mais um passo decisivo para reformular esta União Europeia, incluindo as bases económicas e sociais dos países mais fracos.
Perder esta oportunidade é adiar o inevitável!

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