Opinião

PALOP precisam de um volante

Orufar dos tambores da emancipação política em África teve o seu começo nos finais da década de 50 e no dealbar do decénio de 60 do século XX, com destaque para países de expressão anglófona e francófona, tais como o Gana (1957), Quénia (1963), Nigéria (1960), Gabão (1960), Costa do Marfim (1960) e a República Democrática do Congo (1960)   que  faz fronteira, a sul, com uma das atingas “Províncias Ultramarinas” do então Estado Novo português, Angola. Rezam os anais da história política hodierna do “Continente Berço da Humanidade” (África) que os acontecimentos que, em 1960, sucederam no ex-Congo Belga (atual República Democrática do Congo) tiveram uma influência colossal no desencadear de episódios isolados em Angola, que se resumiam à oposição passiva e ativa dos colonizados aos colonizadores marcados por atos de subversão armada nas grandes cidades e arredores.  

No primeiro mês do ano seguinte, tais episódios convocaram uma plêiade de homens para pelear contra o sistema, tendo como mote o desvio do paquete “Santa Maria”, no alto mar, por um ex-militar português, Henrique Galvão, com o fito de provocar uma crise política no já decrépito regime de António de Oliveira Salazar. O propósito de Henrique Galvão e dos seus “compagnous de route” era o de desembarcar em Luanda (hoje capital de Angola) com a pretensão de organizar um golpe de Estado para derrubar o regime de Lisboa.  Adiante. Os movimentos de libertação como o MPLA (Angola), PAIGC (Guiné-Bissau e Cabo Verde), FRELIMO (Moçambique) e MLSTP (São Tomé e Príncipe) aproveitaram a façanha de Henrique Galvão e “sus muchachos” para apanharem o balanço e darem início à confrontação armada com os portugueses. Objetivo: obter, a ferro e fogo, a independência para os seus países. O fato, este, consumou-se apenas em 1975. Um facto que, ainda hoje, se confunde com uma peçonha agoirenta ou uma “praga cigana” para os cidadãos destes países. Um sonho que tem sido um medonho pesadelo. 

A minha genetriz (dona Maria Helena, de sua graça) – quando recorre à memória da sua memória para rememorar os tempos dos tempos que viveu na época colonial, diz que houve alguém com quem privava que sentenciou o seguinte: “Nós (portugueses) vamo-nos embora, mas vocês vão matar-se uns aos outros (sic!)”. Quem o diz é a minha mãe. Juro, trejuro e asseguro que ela não tem motivos para embarcar em hipérboles e muito menos dizer inverdades. Verdade verdadeira é que 44 anos depois de terem alcançado as suas independências, os cidadãos dos Países Africanos de Língua oficial Portuguesa (PALOP) têm um sistema de Educação e de Saúde precários, ao passo que os poucos que têm milhões (os que detêm o poder, seja em Luanda, Bissau, Praia, Maputo ou Príncipe) riem-se às bandeiras despregadas dos milhões que têm pouco ou quase nada para (sobre)viver. Por isso é que há, por aquelas bandas, mais “patrioteiros” que “patriotas”. E tanto quanto julgo saber, não há patriotismo que se aguente quando se tem a barriga vazia. 

Tal como no tempo colonial (ou quiçá, pior) os cidadãos destes países estão terminantemente proibidos de reivindicar os seus direitos. Quando o fazem são humilhados, surrados, escalavrados, e obrigados a dar com os costados nas grades. Isto quando não são abalroados por uma bala nas ruas da cidade Luanda, Bissau, Praia, Maputo ou Príncipe ou quando não se forja uma tentativa de  assalto à mão armada para se colocar um ponto final à vida de alguém que não seja benquisto aos olhos do sistema.  Contudo, manda a verdade dizer que as ex-colónias portuguesas têm agora novos colonos. Tanto assim que há zonas recônditas dos PALOP onde se encontram anciões que muitas vezes indagam: “Quando é que esta independência, afinal, vai terminar?”.  Pois é! Esta é uma pergunta que me devolve à lembrança uma frase lapidar do escritor e político senegalês Léopold Sédar Senghor (1906-2001), segundo a qual o “Senegal sem a França, é como um carro sem volante”. Será que os PALOP precisam de Portugal como volante para conduzir, novamente, os seus destinos?

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