Opinião

O futuro do movimento associativo das comunidades portuguesas

O movimento associativo das comunidades portuguesas constitui um dos mais importantes elos de ligação dos inúmeros compatriotas espalhados pelos quatro cantos do mundo à língua, cultura, história e memória da pátria de origem, e simultaneamente uma das marcas mais expressivas da inserção nos territórios de acolhimento onde encetaram os seus percursos de vida e de trabalho.

Espaços privilegiados de cultura e participação cívica, o movimento associativo é incontestavelmente uma argamassa identitária que une as comunidades portuguesas, catapultando as mesmas para um patamar de “verdadeiras embaixadoras de Portugal pelo mundo fora”, como sobrelevou numa das últimas comemorações do 10 de junho o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

No entanto, é percetível no seio das comunidades portuguesas que o movimento associativo da diáspora enfrenta, hoje, um desafio fundamental para a sua própria sobrevivência futura, que advém essencialmente do envelhecimento dos seus quadros dirigentes e das dificuldades em captar a participação dos lusodescendentes. Este último ponto está, inclusivamente, neste momento a ser alvo de uma pesquisa por parte do conselheiro das Comunidades Portuguesas no Canadá, Daniel Loureiro, de 28 anos, luso-canadiano a residir em Montreal, que pretende através desta via “descobrir porque não há uma maior adesão dos lusodescendentes aos eventos da comunidade”.

Segundo o mais jovem dos conselheiros das Comunidades Portuguesas, os jovens da comunidade “são orgulhos das suas raízes e de pertencerem à comunidade portuguesa” quer estejam em Montreal, Toronto ou noutras cidades do mundo, porém há que “preencher esse orgulho” com atividades para “manterem viva a comunidade” que dentro de 40 ou 50 anos terá que se “rejuvenescer”.

De facto, o rejuvenescimento do movimento associativo das comunidades portuguesas é condição sine qua non para a sua sobrevivência, exigindo desde logo a todos os seus membros e quadros dirigentes uma vivência cultural que seja capaz de ultrapassar os impactos e conflitos geracionais. Torna-se assim, indispensável a diversificação de atividades e iniciativas de animação sociocomunitária, que possam conciliar a cultura tradicional profundamente enraizada no movimento associativo dos emigrantes das primeiras gerações, com novas dimensões socioculturais, como o cinema, a literatura, o design, a dança, o teatro, a arte ou a moda, entre outros, de modo a atrair as jovens gerações de lusodescendentes e as mesmas continuarem a impulsionar a presença portuguesa no mundo.

Um exemplo de boa prática e iniciativa neste campo ao nível de envolvimento e responsabilização dos lusodescendentes foi a que ocorreu no final do passado mês de janeiro em França. Nomeadamente a reunião dos “Estados Gerais da Lusodescendência” que decorreu na Casa de Portugal, em Paris, coordenada pela associação Cap Magellan, uma coletividade fundada na “Cidade Luz” em 1991, e que é composta maioritariamente por jovens franceses, lusodescendentes ou lusófilos, estudantes, alunos ou assalariados, tendo por objetivo a promoção do intercâmbio entre a França, Portugal e os países de língua portuguesa.

A realização dos “Estados Gerais da Lusodescendência”, que juntou cerca de 150 estruturas associativas, empresários, estudantes e professores, entre lusodescendentes, portugueses e franceses, assentou num inequívoco reconhecimento que os lusodescendentes são fulcrais na campanha de promoção da língua portuguesa em França, o país que alberga a maior comunidade emigrante portuguesa no mundo.

Esta participação e envolvimento exigem consequentemente aos responsáveis políticos e diplomáticos lusos o reforço e agilização dos processos de atribuição de apoios às ações e projetos de movimentos associativos das comunidades portuguesas no estrangeiro, porquanto não “não se fazem omeletes sem ovos”. Mas também aqui a cooperação e sinergias do mundo associativo com os empresários da diáspora podem e devem ser robustecido. 

Na esteira, por exemplo, que tem sido dinamizado por empresários luso-canadianos, que têm sustentado ao longo dos tempos bolsas de estudo a alunos portugueses no Canadá, sendo no entanto fundamental que os mesmos incrementem uma ética de compromisso e comprometimento junto dos alunos que usufruem das bolsas, de modo a que estes possam retribuir com a sua participação, empenhamento cívico e associativo o apoio obtido no seio das comunidades portuguesas.

A participação, empenhamento cívico e associativo demanda igualmente por parte das estruturas diplomáticas portuguesas, designadamente dos consulados e embaixadas, que os seus responsáveis se envolvam diretamente na mundividência das comunidades, em particular do movimento associativo, franqueando as suas portas e meios aos eventos e atividades realizadas pelas coletividades lusas. 

Coletividades que têm que começar a ponderar seriamente ao nível do seu património material e imaterial, de espólios e atividades, se não fará sentido uma fusão dos diferentes espaços que cada uma ao longo dos tempos foi edificando, num espaço comum, partilhado por todas. Uma casa comum, uma “Casa de Portugal” onde todas sejam bem-vindas e indispensáveis na promoção da cultura portuguesa. 

Como é o caso da Casa de Portugal em Paris, que em mais de meio século de existência, tem sido palco de momentos culturais marcantes com escritores, concertos, festivais, programação de artes plásticas, cinema, dança e teatro. Uma dinâmica que só tem sido possível através de parcerias com associações portuguesas em França, escolas e universidades onde se ensina a língua portuguesa.

Esta interação comunitária tem que ser acompanhada pelo papel estruturante da imprensa lusófona, um veículo privilegiado na divulgação do pulsar das comunidades portuguesas nas suas diferentes dimensões culturais, económicas, politicas, desportivas e religiosas. Uma imprensa lusófona que deve assentar definitivamente a sua ação e praxis jornalística numa cultura de conhecimento capaz de aglutinar a nova geração de lusodescendentes.

O futuro do movimento associativo das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo só é portanto viável através de uma genuína colaboração, cooperação, parcerias, estratégias e trabalho em rede de todos os seus membros e dirigentes. O porvir do movimento associativo das comunidades portuguesas demanda um verdadeiro espírito comunitário que coloque à frente os interesses do coletivo em detrimento do individual, uma consciência coletiva capaz de derrubar muros, e ao mesmo tempo potenciar a construção de pontes e diálogos.

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