Luís Barreira

Breve síntese de um conflito sempre latente!

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Os recentes atentados em França contra a vida de cidadãos católicos e/ou defensores da liberdade de imprensa existente no país, cometidos com o habitual requinte selvagem a que nos habituaram os extremistas islâmicos, em nome de “Allahu Akbar”, trouxe para a ordem do dia e das nossas preocupações um dos dramas mundiais não resolvidos, mas apenas secundados por esta peste pandémica da Covid-19, que nos afeta profundamente a todos, independentemente da confissão religiosa de cada um.

De facto, o que aconteceu há dias em França, serviu para nos lembrar que continuam a persistir no mundo muitas outras situações que afetam a vida e a felicidade dos seres humanos e que a sua acumulação e natureza constitui um permanente mal-estar para todos aqueles que apenas pedem paz e serenidade na sua resolução.

No caso concreto que abordo hoje, será possível resolver pacificamente este conflito com este tipo de extremistas islâmicos? A natureza das diferenças que nos afastam, situam-se no âmbito das contradições insanáveis entre as duas principais confissões religiosas monoteístas (católicos e muçulmanos) ou escondem outros fatores históricos, políticos e sociais que estão na base do violento radicalismo por parte destes grupos de extremistas muçulmanos?

Penso que não estamos em condições de poder prever a paz entre uns e outros, tal como não estamos limitados a resolver as diferenças entre duas simples confissões religiosas que se guerreiam desde tempos imemoráveis e em que uns se adaptaram à evolução moral das sociedades contemporâneas e outros ficaram presos a um passado medieval que buscam materializar. A atual tolerância religiosa do Ocidente é incompatível com a impunidade de um qualquer terror sanguinário que nos queira submeter.

Não estamos perante um conflito entre profetas religiosos amantes do seu Deus, mas entre duas conceções extremamente diferentes dos seus propósitos sociais, culturais, políticos e igualmente confessionais.

A Igreja Católica Romana há muito que deixou de intervir diretamente na direção política dos Estados, reservando para si o papel de guia espiritual das sociedades humanas. Nem sempre foi assim, quando munida de exércitos que combatiam e expulsava dos seus territórios os “infiéis mouros” e era parte integrante e poderosa dos poderes constituídos, tal como o seu papel de inspiradora dos princípios morais das sociedades ocidentais, nem sempre foi isento de erros que lhes foram diretamente imputáveis. No entanto, e apenas para ilustrar a sua vontade em corrigir e denunciar o que de mal a Igreja Católica fez e o que de mal tende a persistir no seu seio, os compromissos públicos e doutrinários que a Igreja tem vindo a assumir, para citar os mais atuais: desde o pedido de perdão pelas falhas da Igreja ao longo da história (João Paulo II-ano 2000); pedido de perdão pelos crimes cometidos pela Inquisição, que conduziram a Igreja a apropriar-se do poder civil (João Paulo II-2004); pedido de perdão aos protestantes e de outras igrejas católicas pelas perseguições de católicos no passado (Papa Francisco-ano2016); implorar o perdão de Deus pelos crimes sexuais cometidos na Igreja Católica (Papa Francisco-ano 2018); pedido de perdão aos ciganos da Roménia pelos maus tratos, discriminações e segregações, de que foram alvo por parte da Igreja Católica (Papa Francisco-ano 2019), entre outros exemplos, são manifestações significativas de uma profunda reavaliação da história desta religião, colocando a vida humana e a dignidade dos seus princípios morais, à luz do desenvolvimento das sociedades, no vértice das suas ações e preocupações atuais.

Em comparação com outras confissões, como a católica, o islamismo não é apenas uma filosofia religiosa. Mas sim um todo que articula a fé num Deus único e os seus conceitos e práticas religiosas, com um conjunto normativo de leis e regras de comportamento social, transformando o seu compromisso espiritual, consagrado no seu livro sagrado, o Corão, e nos exemplos de vida do seu profeta Maomé, numa teoria religiosa de construção de um Estado material e religioso.

Ao referirmo-nos explicitamente aos muçulmanos que enveredaram pela interpretação radical do Corão e que constituem uma pequeníssima minoria dos seguidores do Islão (que são cerca de 21% a 23% da população mundial), não podemos deixar de salientar que entre as motivações das suas sangrentas ações estão as referências no Corão à luta violenta contra os infiéis, interpretados fora do seu contexto e ignorando muitas outras referências às afinidades com os cristãos ou judeus (citados amigavelmente como “o povo da Bíblia”), associadas a uma história complicada da formação e desenvolvimento desta religião e à indigência de muitos dos seus seguidores, geradora de fanatismos, além das persistentes fraturas culturais, históricas e sociais, com os povos do Ocidente.

Em breve, os antagonismos entre as nossas sociedades e as sociedades islâmicas são de tal ordem que o terrorismo praticado por esta minoria de fanáticos religiosos, apostados em nos converter barbaramente ao Islão, não nos suscita outra reação que não seja a de os castigar, segundo as nossas regras e reenviá-los às suas origens.

Há, no entanto, algo que também me incomoda no comportamento das nossas sociedades ocidentais. Respeitando os nossos valores sociais e sem deixar de ser intolerante para com estas sádicas manifestações de intransigência religiosa, mas com a preocupação centrada no comportamento de muitos milhares de muçulmanos moderados que coexistem nas nossas sociedades, deixo uma pergunta: será que a única forma de defender os nossos conceitos de liberdade individual, onde se integra a liberdade de imprensa, é expormos publicamente caricaturas achincalhadas dos profetas religiosos das nossas sociedades?

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