OpiniãoDaniel Bastos

In memoriam Gérald Bloncourt

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Entre 2015 e 2019, o historiador Daniel Bastos (esq.) concebeu e realizou os livros “O Olhar de Compromisso com os filhos dos Grandes Descobridores” e “Dias de Liberdade em Portugal”, que eternizam, respetivamente, o valioso espólio fotográfico de Gérald Bloncourt (dir.) sobre a emigração e o nascimento da democracia portuguesa. Crédito: DR.

 

No decurso deste mês assinalam-se dois anos do falecimento do saudoso fotógrafo franco-haitiano Gérald Bloncourt (1926-2018), um dos grandes nomes da fotografia humanista, cujas amplamente conhecidas imagens, que imortalizam a história da emigração portuguesa para França, representam um contributo fundamental para uma melhor compreensão e representação do nosso passado recente.

Colaborador de jornais de referência no campo social e sindical, o antigo fotojornalista que esteve radicado em Paris mais de meio século, teve o condão de retratar a chegada das primeiras levas massivas de emigrantes portugueses a França nos anos 60. A lente humanista do fotógrafo com dotes poéticos captou com particular singularidade as duras condições de vida dos nossos compatriotas nos bairros de lata nos arredores de Paris, conhecidos como bidonvilles, como os de Saint-Denis ou Champigny, com condições de habitabilidade deploráveis, sem eletricidade, sem saneamento nem água potável, construídos junto das obras de construção civil.

Igualmente relevantes são as imagens que Bloncourt captou durante a sua primeira viagem a Portugal nos anos 60, onde retratou o quotidiano das cidades de Lisboa, Porto e Chaves. Assim como as da viagem a “salto” que fez com emigrantes além Pirenéus, e as dos primeiros dias de liberdade em Portugal, como as das comemorações do 1.º de Maio de 1974 em Lisboa, acontecimento que permanece ainda hoje como a maior manifestação popular da história portuguesa.

O trabalho fotográfico de Bloncourt sobre a emigração e a génese da democracia portuguesa constitui um valioso repositório do último meio século nacional, que resgata das penumbras do esquecimento os protagonistas anónimos da história nacional que lutaram aquém e além-fronteiras pelo direito a uma vida melhor e à liberdade.

O trabalho e percurso de vida do fotógrafo francês de origem haitiana, que durante mais de vinte anos escreveu com luz a vida dos portugueses em França e Portugal, foram em 2016 distinguidos pelo Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa. No âmbito das Comemorações do 10 de Junho em Paris, Dia de Portugal de Camões e das Comunidades Portuguesas, cujas comemorações oficiais nesse ano aconteceram pela primeira vez numa cidade fora do país, o aclamado fotógrafo foi condecorado na cidade simbólica de Champigny, com a ordem de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique.

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