Falando um pouco de… amor!
Que se admirem os meus habituais leitores mas, talvez um pouco cansado de falar dos nossos episódios diários, das preocupações do nosso quotidiano político, social e económico, da terra que pisamos e dos que nos pisam, hoje decidi pensar sobre o espirito que nos anima, para além daquilo que fustiga a realidade material da nossa vida.
Vou falar de um sentimento, mas não um sentimento qualquer. Aquele que mais dificilmente se pode definir e caracterizar em toda a literatura que li e o mais fácil de encontrar em toda a gente que vi!
E porque a disparidade de opiniões acerca do tema e a sua permanente utilização é tão profusamente evocada ao longo dos séculos da humanidade e das suas emoções, vou apenas falar do que sinto e penso sobre as dimensões deste assunto e igualmente socorrer-me apenas dos sentimentos que me ocorrem, quando penso nele: o amor!
Como não vou construir aqui uma tese nem sequer uma síntese de tudo o que já foi acertadamente dito sobre esta inesgotável matéria e para a qual me sinto intelectualmente limitado, abordarei apenas e levemente alguns aspetos e considerações que a observação da vida me demonstrou.
O amor é algo tão vasto e indiscritível que pode ser utilizado para configurar os sentimentos que se produzem por gostar de alguém; um conjunto de pessoas; um objeto; uma missão; uma ideia; uma paisagem; um animal; um momento da vida; algo transcendental; apenas de si próprio ou ainda de um amplo e diversificado leque de realidades materiais ou virtuais.
Excluindo uma grande parte de enamoramentos contextuais ou de gostos pontuais e centrando-me somente no que aproxima dois seres humanos que se afirmam amar entre si, sou conduzido a excluir ou estabelecer algumas reservas sobre a utilização de algumas antinomias que, comummente consideradas como parte essencial do amor são, para mim e apenas, alguns elementos complementares da atração química que seduz as pessoas.
Um desses sentimentos é a paixão! A paixão, entendida como um fascínio arrebatador por outrem, da sua dependência física e espiritual a alguém e da sua submissão ao desejo de o possuir, integrando-o nas suas próprias expectativas, é um sentimento que ocorre não raras vezes entre as pessoas e um forte indicador do seu desejo. No entanto, e salvo raras exceções, não é um elemento definidor da longevidade do amor, antes um fator de ocasional desejo.
O interesse sexual entre duas pessoas, que afirmam amar-se, é um dos elementos estruturais do acasalamento, sem que apenas a sua existência permita qualificar o sexo como a raiz de um entendimento amoroso sólido e permanente. Abstraindo a sua função reprodutora, que não é exclusiva do desejo sexual, a líbido humana é um complexo sistema de atração física condicionada pelos sentidos que, sem um forte e censório impedimento, promovido pela moral pública vigente e adotada pelos sujeitos, pode conduzir à diminuição ou dissolução do amor entre eles. Assim, a satisfação sexual de um casal, embora importante para o seu relacionamento amoroso, mas não sendo isenta de impedimentos, adaptações temporais ou riscos de perda dessa atração sensorial, não é o pilar fundamental do amor, pela sua condição efémera e dependente dos estímulos sensitivos.
Na construção do amor intercedem múltiplos fatores que, aparentemente auxiliares da sua edificação, podem tornar-se fundamentais para a sua existência e durabilidade.
A amizade, os interesses comuns, o companheirismo, o afeto relacional, a honestidade entre si, o respeito recíproco, a partilha de responsabilidades comuns e a aceitação das naturais diferenças, não incompatíveis com o sentido da vida do casal, associados de forma substantiva à importância temporal das atrações físicas, são elementos extremamente significativos na existência e sobrevivência do amor que une duas pessoas que, em determinada fase da sua vida, se predestinaram a uma longa vivência em comum.
Não sendo algo inalterável, pela própria transformação da personalidade e desejos dos sujeitos ao longo da vida e pelas condicionantes sociais e espirituais que os afetam em permanência, o amor pode no entanto sobreviver e rejuvenescer com mais intensidade e robustez, se as premissas reconhecidamente positivas, contidas no parágrafo anterior, forem assumidas plena e convictamente pelos atores de uma união desejavelmente feliz.
Amar é festejar a vida na sua plenitude e atravessa todas as idades e extratos sociais. É uma faculdade que nos faz feliz, mesmo que e por vezes, encerre dor e tristeza pelas incompreensões, inseguranças e desajustamentos da natureza humana.
Desistir da capacidade de amar é sujeitar-se à amputação de uma das nossas maiores virtudes e fechar as portas do nosso espírito à descoberta da merecida felicidade da nossa existência.
Independentemente das regras ou disposições de “como bem amar”, que este pequeno texto possa querer simplificar, o amor não se faz por obrigações, nem por dispositivos previamente estabelecidos. Ele acontece! Apenas é essencial retirar-lhe os obstáculos que possam condicioná-lo.
Amem-se e sejam felizes!
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