Opinião

Das novas tecnologias ao domínio do fantástico!

Portugal assistiu timidamente à realização da conferência tecnológica, designada como Web Summit, que se realizou na passada semana em Lisboa, na sua quarta edição.

Digo timidamente porque, para além dos “magotes” de jovens estrangeiros e portugueses que acorreram ao evento, na expetativa de procurar novas ideias baseadas nas novas tecnologias, o resto do país pareceu-me adormecido ao impacto desta iniciativa. Posso estar enganado nesta apreciação, mas num país envelhecido como o nosso, estas “modernices” são tidas mais como o campo de atração dos mais jovens, do que algo que interesse aos mais velhos, cuja formação ficou à margem destas novas experiências tecnológicas.

No entanto, era bom que novos e velhos se interessassem de igual maneira, pese embora a maior dificuldade de uns em relação aos outros, porque o nosso mundo gira atualmente em torno dos algoritmos concebidos para nos facilitar a vida (??…), ao ritmo dos inputs e outputs que uns concebem para condicionar outros!

E porque, em democracia, todos (velhos e novos) são decisores sobre a forma de vida e os consequentes padrões morais e éticos que a envolvem, a aplicação das novas tecnologias não pode/não deve estar em “roda livre”, abstendo-se do respeito pelos valores sociais das sociedades em que são utilizadas, independentemente da criatividade inovadora dos seus autores.

Se bem que a chamada “Inteligência Computacional” tenha produzido desenvolvimentos extraordinários nas sociedades e nas áreas onde aplica os seus sistemas, fazendo-nos assistir a uma enorme diferenciação para com os parâmetros que caraterizaram a revolução industrial dos séculos passados, é ao mesmo tempo assustadora a magnitude das transformações produzidas e a velocidade com que se reproduzem em novas invenções, conduzindo o ser humano à sua dependência e fazendo das nossas relações pessoais uma simples conversa artificial entre hologramas.

Se houve exemplos, já publicamente condenados, da influência das novas tecnologias na gestão das nossas sociedades outros, pela sua difusa publicitação, não têm sido suficientemente compreendidos em toda a sua dimensão.

No domínio da genética, para além das notáveis descobertas para a saúde pública, engendram-se secretamente incríveis processos operatórios, que fazem do ser humano uma simples construção artificial, a ser concretizada de acordo com a vontade dos seus beneficiários.

Vem isto a propósito de um célebre médico cientista neurocirurgião, Sérgio Canavero, aclamado e duramente criticado pela comunidade científica que, em 2017, divulgou a sua pretensão de realizar o primeiro transplante da cabeça nos seres humanos.

A propósito de transplantes de órgãos humanos, recordo-me do primeiro transplante de coração efectuado em 1967, pelo cirurgião sul-africano Christiaan Barnard e da curiosidade e espanto que tal cirurgia despertou no mundo, abrindo grandes expetativas para outros doentes. Embora merecesse algumas críticas éticas sobre a substituição de um órgão que, poeticamente, dignificava o “sentir” de um ser humano, o processo de transplante foi sofrendo melhoramentos técnicos e é hoje reconhecido como um bem para a humanidade

Mas… substituir a cabeça? Mesmo que (por agora…) evoque a defesa da completa saúde de graves deficientes físicos, como declara este neurocirurgião? Não! Não me sinto confortável, no quadro de valores que me orientam, em pensar que um cérebro, o verdadeiro e determinante elemento sensorial do corpo humano, o que detém a identidade do ser e da razão (no domínio filosófico do termo), possa ser transplantado para um outro corpo humano.

Na verdade e perante as críticas de que foi alvo, Sérgio Canavero foi obrigado a isolar-se numa qualquer parte da China, para prosseguir a sua intenção de transplantar a cabeça de um ser humano para outro e, ao que se julga saber, já tinha um cidadão russo disponível para a experiência. Resta saber, no meio de tanto secretismo, se já não o fez e, se a experiência teve êxito, se não irá continuar a fazê-lo até que a consciência do mundo vulgarize tal prática.

Não sou um conservador, no sentido estreito do termo, na criação e aplicação das novas tecnologias ao serviço do homem universal, embora realce algumas dúvidas no provável desenvolvimento da inteligência artificial e das suas consequências para a inteligência humana e sua robotização.

Chamem-me velho se quiserem, mas não consigo contemporizar com uma “evolução” que sintetize o homem na construção de uma manta de retalhos, fabricada com pedaços de corpos mortos, ao sabor das conveniências estéticas dos receptadores, bem como das reconhecidas capacidades inteligentes dos seus dadores.

Talvez a minha memória de infância ainda retenha o horror que sentia ao ver os filmes do Frankenstein, mas mais do que o medo que sentia perante tal fantasia da época, prevalece hoje o medo de ver o homem do futuro reduzido à dimensão de um puzzle.

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