Opinião

As “geringonças” ibéricas!

Falar agora sobre a situação política em Portugal, sem cair na vulgaridade dos atuais discursos, no “diz que disse” e nas oratórias inflamadas de alguns não-assuntos, torna-se um exercício difícil e contraproducente, face às consequências que pode causar.

O debate político português, infernizado pelas vésperas de eleições, perdeu conteúdo, tornando-se num apelo publicitário para as manchetes dos jornais e temas de eleição para preencher os espaços dos comentaristas de todas as tendências.

Se pudesse sintetizar o que se passa em Portugal, diria que todos os partidos políticos, sem exceção, aceitam que a atual situação económica e social é bem melhor do que aquela que foi herdada do último governo do PSD e do CDS e, à exceção do Partido Socialista no governo, todos os outros afirmam que podiam ter feito melhor! Já ninguém na oposição parlamentar evoca, como antes Passos Coelho, que “vem aí o Diabo”, mas anunciam que o país não está preparado para uma nova crise e, como as crises do sistema capitalista são cíclicas e ninguém adivinha quando será a próxima, este discurso intencional destina-se a fazer perder o sono ao cidadão, a não ser que o bom tempo e a proximidade das férias lhe proporcione um retemperador descanso.

No entanto, no meio desta turbulência política, fruto dos tempos eleitorais e da inevitável caça ao voto, denotam-se as preocupações profundas das estratégias eleitorais dos diversos partidos políticos portugueses com o futuro governativo, após as várias eleições que decorrerão nos próximos meses.

O Partido Socialista, em consequência dos seus próprios erros, parece ter perdido a ideia de vir a conseguir a maioria absoluta, embora continue a manter-se como partido maioritário nas intenções de voto, prognosticadas pelos diversos estudos de opinião. Tal circunstância, apoiada pelos mesmos estudos, que relevam para posições inferiores todos os outros restantes partidos configura que, o próximo governo, será uma nova “geringonça”! Mas que tipo de “geringonça”? De “esquerda” ou de “direita”?…

O Partido Socialista afirma querer reeditar o último cenário governativo, com maioria absoluta ou sem ela, ou seja, um Governo do seu partido com apoio parlamentar do Bloco de Esquerda, do PCP e do PEV. Mas a necessidade de aumentarem os seus scores eleitorais tem conduzido estes últimos partidos a uma crítica sistemática ao governo socialista, nomeadamente pelo Bloco de Esquerda, cuja excitada atitude oposicionista tem provocado algum mal-estar nas hostes socialistas. Talvez por esses desaguisados, os socialistas começam a dar “aberturas” à “direita”, secundadas por críticas do líder do PSD a Assunção Cristas do CDS (“falta de sentido de Estado” – sic), fazendo subentender que uma “geringonça” à direita, entre o PS e o PSD, também é possível! 

Neste vaivém de intenções e suposições sobre o futuro, a campanha eleitoral portuguesa aguarda os “tira-teimas” dos debates televisivos que, normalmente, definem com mais clareza o que está em jogo. Affaire a suivre!

A pensar numa outra “geringonça” estão os nossos vizinhos espanhóis após os resultados das eleições legislativas antecipadas do último domingo.

O Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) alcançou a maioria dos votos (28,7%), não conseguindo a maioria absoluta e terminando o longo ciclo de alternância governativa entre o PSOE e o PP conservador (16,7%).

Tendo em consideração as notáveis diferenças entre a sociedade portuguesa e a espanhola, para as quais concorrem, entre outras, as mudanças significativas da alteração dos dois regimes há anos atrás, a diversificação das identidades regionais e o rápido crescimento da extrema-direita, o Vox, com a eleição de 24 deputados (2,5 milhões de espanhóis…), a futura governação de nuestros hermanos vai igualmente estar sujeita ao mesmo tipo de encruzilhada da portuguesa: “geringonça” à “direita” ou à “esquerda”?

Embora o líder do PSOE tenha afirmado querer governar com todos, tal circunstância parece ser absurda pelos seus pressupostos, à qual se associa a difícil construção de uma plataforma de apoio ao PSOE, face às divisões ideológicas profundas entre os vários partidos e ao nacionalismo crescente na sociedade espanhola, a propósito da questão Catalã.

De uma forma ou de outra, com maior ou menor dificuldade e destreza politica, a governação da península ibérica parece estar confinada a duas “geringonças”, lideradas pelos respectivos partidos socialistas, de quem todos esperamos excelentes relações de boa vizinhança e esforços comuns em prol dos seus respetivos povos.

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