Opinião

A quarentena foi a banhos!…

Num país em que a prodigiosa natureza embelezou os seus contrastes e o mar cálido ou fresco do Atlântico banha cerca de 850 km de praias de areia branca, no último fim de semana, a uma temperatura a rondar os 30° C, uma grande parte dos portugueses foi à praia!

Os corpos esbranquiçados por um inverno rigoroso e uma “prisão domiciliária” de mais de três meses, espreguiçaram perante um sol vigoroso e a frescura das águas, adotando o tão precioso colorido de veraneio que, desta vez, não pode ser vaidosamente exibido como adquirido nalguma praia paradisíaca do estrangeiro.

Já fartos de tantas proibições, mas ainda sem autorização para não as ter, os portugueses mergulharam nas “ondas” da ainda muito pouco conhecida Covid-19, revigorando a esperança de não se “molharem” nesta aventura do desconfinamento, acreditando que a vitamina D os protegerá de males maiores ou porque se sentem imunes aos ditos perigos desta pandemia. E, a este propósito, pelas imagens e comentários durante este êxodo veraneante, o comportamento social foi disperso. Enquanto os mais velhos, considerados como “cidadãos de risco”, arrastavam as toalhas pelos areais para se colocarem à distância considerável dos outros banhistas, uma boa parte da população mais jovem, “desafiadora das normas” e pouco atenta às notícias que nos dão conta do elevado crescimento de infetados jovens, procedia com indiferença, ostentando a sua irreflexão e ousadia.

Como na segunda-feira seguinte toda a gente se sentia bem, exceto aqueles e aquelas que “torraram ao sol”, até valia a pena esquecer que o vírus só se manifesta 15 dias depois do contágio e gozar esta “liberdade precária”, fazendo o que mais nos apetece porque, no início da época balnear e após a avaliação do desenvolvimento da pandemia, durante este progressivo afrouxamento das medidas restritivas, o Governo português pode vir a impor mais limitações obrigatórias que nos impeçam de gozar o verão e não só, impondo aos cumpridores e aos prevaricadores mais condicionamentos da nossa liberdade pessoal. Enfim, aproveitar enquanto dá!…

Convém igualmente lembrar aos mais esquecidos que, em Portugal, esta doença já provocou 1333 mortes e 30 788 infetados (à data de 25.05.20) e que, desde que foram atenuadas as medidas de quarentena, continua a haver uma progressão ligeira de falecimentos e maior de infetados diários. Reconhece-se, no entanto, que estamos a atingir um número recorde de doentes curados, o que provoca uma certa satisfação aos que se candidatam, voluntária ou involuntariamente, a ir parar à cama de um hospital!…

Não estou convencido que ir à praia seja mais perigoso que andar nos transportes públicos sem os cuidados necessários (como já observei), ou em qualquer outra atividade empresarial ou social, sem as proteções adequadas. Aliás, começo a pensar que, se temos necessariamente de compatibilizar as atividades económicas com a persistência da Covid-19 entre nós, apenas nos resta uma de duas soluções: ou nos adaptamos ao uso permanente das proteções individuais e sociais, fazendo disso uma forma habitual de estar na vida de todos os dias e evitando infeções, ou passamos a considerar este vírus mortal como mais um, entre outras doenças com que convivemos ao longo de toda a nossa vida, desprezando os avisos das autoridades de saúde, evitando somente alguns maus hábitos e tomando alguns paliativos disponíveis, até chegar a nossa hora!…

O mundo científico que atualmente nos aconselha e que lidera a atitude política de muitas nações em relação a esta pandemia, cujos resultados da sua ação têm positivamente prevalecido, face aos resultados bem mais negativos dos países que recusaram as suas orientações, é ainda um mundo de muitas incertezas relacionadas com este tipo de vírus e a sua atitude cautelosa em relação à forma de o combater, é sempre condicionada pela confirmação científica dos seus resultados, não embarcando na cura rápida e “milagrosa” de alguns “curandeiristas”, obcecados pelas vantagens económicas que as suas “descobertas” lhes podem proporcionar, num planeta ávido de uma cura.

O caminho parece ser longo e, quiçá, impossível de prever, até ao momento em que esta doença possa ser debelada, de acordo com os instrumentos e teorias científicas que a humanidade possui atualmente.

Por isso é preciso: paciência, que às vezes nos falta; prudência, que nem sempre temos; imaginação, nem sempre presente, mas essencialmente uma forte vontade de viver, mesmo que isso nos obrigue a configurar alguns dos nossos prazeres individuais.

Mas se o indiscutível prazer de frequentar as praias, é mais forte do que os eventuais riscos de o fazer, num Portugal tão bafejado de longas extensões de areia, onde o mar se espraia e os rios se aninham, encontrará certamente um cantinho seguro para si.

Apanhe sol, mas não abuse, nem só a Covid faz mal à saúde!

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