Mundo

Quem nos deixou em 2018

Stephen Hawking – (Oxford, 8 de janeiro de 1942 — Cambridge, 14 de março de 2018) 

 Morreu neste ano que agora termina, calmamente em sua casa, um dos mais conhecidos cientistas de sempre. A sua incrível história de vida — que deu, aliás, o filme “A Teoria de tudo” —, é até mais conhecida do que propriamente as suas descobertas. Ao longo dos anos, aliás, foi sendo criticado pelos seus pares pela alegada “inconsistência” das suas revelações científicas. 

Hawking era portador de esclerose lateral amiotrófica (ELA), uma doença neurodegenerativa que paralisa progressivamente os músculos do corpo, mas que não afeta as funções cognitivas. A doença foi detectada quando tinha 21 anos. Em 1985 Hawking teve que submeter-se a uma traqueostomia após ter contraído pneumonia visitando o CERN na Suíça e, desde então, utilizava um sintetizador de voz para se comunicar. Gradualmente, foi perdendo o movimento dos braços e pernas, assim como do resto da musculatura voluntária, incluindo a força para manter a cabeça erguida, de modo que sua mobilidade era praticamente nula. Em 2005 Hawking usava os músculos da bochecha para controlar o sintetizador, e em 2009 deixou de conseguir controlar a cadeira de rodas elétrica.  

Mas Stephen Hawking representa a superação de si próprio e da doença que lhe tolheu a locomoção, os gestos e as palavras, conseguindo emergir da sua prisão física e elevar-se dos demais. Aos vinte anos, deram-lhe mais dois ou três anos de vida e ele deu-nos um ‘universo novo’ de conhecimento, de coragem e de superação. E entre tantos outros conselhos que nos deixou há um que devemos todos tentar não esquecer – “devemos olhar sempre mais para estrelas do que para os pés.” 

Kofi Annan  ( Kumasi, Gana, 8 de Abril de 1938  Berna, Suíça, 18 de Agosto de 2018) 

 Kofi Annan, que foi secretário-geral da ONU entre 1997 e 2006, morreu a 18 de agosto de 2018, aos 80 anos. Foi o primeiro negro africano a ocupar o cargo e o primeiro funcionário das Nações Unidas a ascender ao secretariado-geral, tendo também sido responsável pelas Missões de Paz em períodos críticos como o genocídio no Ruanda ou a Guerra dos Balcãs na década de 1990. 

Um dos feitos do seu mandato, entre vários processos de reforma interna e o estabelecimento de metas para o planeta, foi a mediação no processo de independência de Timor Leste. Estava no cargo no 11 de Setembro e na guerra do Iraque.  

Kofi Annan recebeu o Prémio Nobel da Paz em 2001, numa distinção partilhada com as próprias Nações Unidas. Era “uma força condutora para o bem”, disse António Guterres, atual Secretário Geral da ONU,  através do Twitter, manifestando “profunda tristeza. 

Kofi Annan era um estadista global e um internacionalista profundamente empenhado, que lutou ao longo da sua vida por um mundo mais justo e mais pacífico. Durante a sua distinta carreira e liderança das Nações Unidas foi um defensor ardente da paz, desenvolvimento sustentável, dos direitos humanos e da justiça.”  

Kofi Annan, de forma muito corajosa, assumiria a posição, como secretário-geral da ONU, de considerar ilegal a invasão norte-americana e britânica do Iraque em 2003 e descreveu no seu discurso do Nobel que, com os atentados de 11 de Setembro, “entrámos por um portão de fogo no terceiro milénio”.  

PORTUGAL 

Celeste Rodrigues  ( Fundão, 14 de março de 1923 – Lisboa, 1 de agosto de 2018) 

Foi a cantar canções tradicionais da Beira, ensinadas pela mãe, e os fados ouvidos na rua “aos ceguinhos”, que começou por ganhar uma voz que ficaria para sempre associada à linhagem do fado castiço.  

Casada, aos 30 anos, com o actor Varela Silva, abriu com ele uma casa de fados, A Viela, que viria a fechar ao fim de quatro anos, ingressando então Celeste Rodrigues no elenco da casa de fados de Argentina Santos, A Parreirinha de Alfama. Nos anos 1950, e já conhecida a nível internacional, actuou em diversos países: Espanha, Brasil, Estados Unidos e no continente africano. Gravou, ao longo da sua carreira, cerca de 60 discos, o mais recente dos quais Fado Celeste, em 2007. Colaborou, com entusiasmo, em vários projectos musicais, do fado à pop. 

Do seu repertório constam, entre outros temas, A lenda das algas e o Fado das queixas. Apesar da longa carreira, nunca deixou de se sentir tímida em cima do palco (“Fecho os olhos e pronto. Não quero luz na cara”). E nem a confessa admiração de Madonna na sua nova fase lisboeta (a cantora norte-americana fez questão de tê-la consigo em Nova Iorque na passagem de ano) lhe tirava os pés do chão: “Parece que estou a fazer propaganda de mim própria e eu não gosto disso, nunca precisei disso, não preciso de nenhuma fama, eu gosto de cantar e é isso que quero, cantar. Ela foi simpática em gostar da minha voz e é só isso”. 

Rui Vieira Nery, musicólogo e estudioso do fado, afirmou: “Ela funcionava um bocadinho como uma matriarca respeitada pela tribo do fado, porque era uma pessoa carinhosa e sábia. Era uma voz que os jovens fadistas ouviam com respeito.” O mérito de Celeste Rodrigues acabou por ser reconhecido nos últimos anos, diz Rui Vieira Nery. “Ela era uma mulher com uma personalidade artística muito forte, uma capacidade dramática muito intensa, que teve a ‘infelicidade’ de ser irmã da Amália e de isso ter desviado a atenção do público, durante muitos anos, do talento especial e próprio que ela tinha. No fundo, foi já nos últimos 20 anos, depois da morte da Amália, que as pessoas de repente olharam para a Celeste como uma personalidade autónoma, sem a sombra do nome e da fama da irmã. E ganhou, no fim da vida, um reconhecimento que tardava.”

Alves Barbosa  (Figueira da Foz, 24 de dezembro de 1931  Figueira da Foz, 29 de setembro de 2018) 

Ciclista português, António da Silva Barbosa nasceu a 24 de dezembro de 1931 em Fontela, uma freguesia de Vila Verde, Figueira da Foz. 

Com 16 anos de idade iniciou-se na prática do ciclismo, filiando-se na Associação de Ciclismo do Norte como aluno. Nesse ano de 1947 António da Silva Barbosa decidiu começar a usar o nome do pai, tornando-se conhecido por “Alves” Barbosa. 

A participação em inúmeras provas fez com que obtivesse sucessivas vitórias, nomeadamente na Mealhada, Abrunheira, Sangalhos, Caceira e o Campeonato Nacional Corporativo de 3.ª Categoria. 

Em 1951, 1956 e 1958 Alves Barbosa conseguiu vencer a Volta a Portugal. Na edição de 1952, o ciclista ficou impedido de participar por cumprimento do serviço militar, enquanto que nos anos 1953 e 1954, a Volta não se realizou. Em 1955, perdeu para Ribeiro da Silva por ter sido agredido por um espectador. Um ano e meio mais tarde tentou a internacionalização através da participação no Tour de França, onde se classificou em 10.º lugar. 

Em 1958, a par da Volta a Portugal, Alves Barbosa participou no filme O Homem do Dia. Nesse mesmo ano deixou as competições ciclistas, tendo-se mantido ligado à modalidade como treinador e Diretor Técnico Nacional de Ciclismo. 

Alves Barbosa foi uma das maiores figuras da história do ciclismo português, tendo granjeado prestígio enquanto corredor — um dos melhores de sempre -, mas também como treinador e como dirigente. Artur Lopes, antigo presidente da FPC e atual líder da Mesa da Assembleia Geral do organismo, recordou Alves Barbosa, equiparando-o a Joaquim Agostinho. “Recordo-me, de quando era miúdo, ir ver o Circuito da Malveira com o meu pai e de olhar para o Alves Barbosa como se fosse um Deus. Ele tinha um nível de popularidade que, se calhar, nem o Agostinho conseguiu. Tenho pelo Alves Barbosa um imenso respeito e é o sentimento que todos lhe devemos”. 

COMUNIDADE 

António Amaro  (Algarvia, São Miguel, Açores, 8 de janeiro de 1926 – Brampton, 2 de setembro de 2018) 

António Amaro figura ímpar na história do fado no Canadá, começou a tocar guitarra portuguesa aos 14 anos. Começou a ouvir fado na rádio à porta de cafés e começou a tocar  músicas de ouvido. Comprou a sua primeira guitarra com as suas economias e o seu primeiro mestre foi José Cabral Rasquinha. Pouco depois começou a acompanhar cantadores do improviso da ilha e não só e foi escolhido para iniciar o programa musical do Teatro Micaelense, em Ponta Delgada. 

Imigrou para o Canadá a 22 de Junho de 1964 onde formou vários grupos e acompanhou artistas locais e de Portugal. Nos últimos anos dedicou-se apenas ao fado e gravou álbuns com todos os fadistas locais. Fez digressões pelos EUA, Bermudas e Canadá e actuou para Pinto Balsemão e Pierre Trudeau quando estavam no governo. 

Em 2002 a ACAPO entregou-he o prémio de mérito na área da música e em 2016 foi homenageado por Tony Gouveia na Casa do Alentejo. Em 2017 o Portuguese Canadian Walk of Fame entregou-lhe uma estrela devido ao seu papel na divulgação da cultura portuguesa no Canadá. 

António Amaro tinha duas facetas que talvez não sejam do conhecimento de todos, construía e reparava instrumentos de corda e dava aulas gratuitas de guitarra e viola. 

Um dia disse à comunicação social que não emigrou em busca de melhores condições de vida, mas sim para sair da pequenez da ilha. Caso para dizer que alcançou o seu objetivo e que conseguiu introduzir um capítulo na história do fado, Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO – em Toronto António Amaro acompanhou Amália Rodrigues.  

José Cruz Gomes  (Pampilhosa da Serra, 23 de abril de 1939 – Toronto, 19 de outubro de 2018) 

Natural de Pampilhosa da Serra (distrito de Coimbra), Cruz Gomes foi reconhecido em 2014 com a Ordem do Infante D. Henrique. Fernando Cruz Gomes passou cerca de 25 anos da sua vida em Angola, emigrando para o Canadá em 1975. Foi correspondente da Lusa (e da sua antecessora NP) entre 1985 a 2005. Deu os primeiros passos em 1959 como estagiário no “Primeiro de Janeiro” do Porto, seguindo pouco tempo depois para Angola, onde residiu durante 25 anos, desempenhando funções em diversos meios de comunicação, jornais e rádios, como o “ABC Diário de Angola”, a “Rádio Eclésia”, no diário de Luanda “O Comércio”, “A Província de Angola” (hoje Jornal de Angola), no “rádio Clube de Benguela” e na “Emissora Oficial de Angola”. Durante um mês acompanhou sozinho os combates entre o exército português e as guerrilhas angolanas no teatro das operações. Só depois do primeiro mês de luta começaram a surgir outros elementos ligados à Comunicação Social. Foi ainda presidente da secção de Angola do Sindicato Nacional de Jornalistas e vogal na Assembleia Legislativa do Estado Português (sistema corporativo de então) e representou os trabalhadores na Organização Internacional do Trabalho (OIT), sessão que, durante cerca de três meses, se realizou em Genebra. Após a chegada ao Canadá, em 1975, fundou alguns jornais, colaborando também com alguns canais de televisão locais. Nos últimos anos de vida, Fernando Cruz Gomes era o diretor do jornal semanal ABC e editor e repórter na CIRV Rádio e na FPTV. 

 

 

 

 

 

 

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