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O que aconteceu até agora no angustiante julgamento do polícia que matou George Floyd

(FILES) This handout photo provided by the Hennepin County Jail and received by AFP on May 31, 2020 shows Derek Chauvin booking photos. – Minnesota Judge Peter Cahill on March 11, 2021, added a third-degree murder charge against Derek Chauvin, the police officer on trial for the death of George Floyd. (Photo by Handout / Hennepin County Jail / AFP) / RESTRICTED TO EDITORIAL USE – MANDATORY CREDIT “AFP PHOTO / Hennepin County Jail ” – NO MARKETING – NO ADVERTISING CAMPAIGNS – DISTRIBUTED AS A SERVICE TO CLIENTS

Derek Chauvin está no banco dos réus e pode apanhar até 40 anos de prisão. Audiência começou há três dias com a exibição do célebre vídeo “I can’t breathe”.

“Nove-dois-nove”: foi assim que o procurador do Ministério Público norte-americano Jerry Blackwell, em pleno tribunal, virado para os jurados, abriu na segunda-feira, 29 de março de 2021, o julgamento do polícia Derek Chauvin, de Minneapolis. Chauvin, que foi entretanto despedido da polícia, é acusado de ter morto, por uso excessivo de força, o afro-americano George Floyd, de 46 anos, no dia 25 de maio de 2020. “929 são, senhoras e senhores, os três números mais importantes neste caso”, repetiu.

O procurador refere-se à duração do vídeo (9 minutos e 29 segundos) que mostra Chauvin, que é branco, a imobilizar George Floyd no chão de uma rua de Minneapolis. Floyd está de bruços, esparramado no solo, cara apertada contra o asfalto, e tem os joelhos do polícia a pressionar-lhe impetuosamente o pescoço e as costas. No vídeo, realizado por um espectador da cena, ouve-se Floyd a dizer a célebre frase “I can’t breathe” (“eu não consigo respirar”) e a repeti-la por 27 vezes.

Floyd pode ser ainda ouvido a chamar várias vezes pela sua mãe, que já morreu, e a pedir “digam aos meus filhos que eu os amo”. E ainda: “O meu estômago dói! O meu pescoço dói! Dói-me tudo! Pare! Eu não consigo respirar!”. No vídeo ouvem-se também as vozes alteradas e iradas de várias pessoas que ali se juntaram e imploraram a Derek Chauvin para parar com aquilo.

Mas o agora ex-polícia, que aguardou o julgamento em liberdade condicional após o pagamento da fiança de um milhão de dólares, não parou. E George Floyd morreu ali mesmo, abafado e espezinhado pelo polícia.

Perspetiva de 40 anos de prisão

Chauvin enfrenta agora três acusações maiores: homicídio em 2.º grau, homicídio em 3.º grau e assassinato. Se for condenado pela acusação mais grave, pode apanhar até 40 anos de prisão.

Três outros agentes da segurança municipal de Minneapolis, igualmente já despedidos, também participaram na cena de violência e morte, ainda que de forma passiva – controlaram o perímetro e afastaram os espectadores, garantindo que ninguém se aproximava do local dos factos. Em momento algum terão impedido Chauvin de prosseguir as suas ações violentas. Serão julgados em conjunto mais tarde, mas ainda este ano.

Recorde-se que, entretanto, a família de George Floyd já recebeu 27 milhões de dólares de indemnização, a mais alta de sempre nos EUA sobre a morte de um homem negro, e desistiu da queixa contra o Município de Minneapolis.

Floyd comprou tabaco com nota falsa

O julgamento de Derek Chauvin começou com os procuradores a exibirem ao tribunal o célebre vídeo. Outras imagens foram também mostradas, incluindo um pequeno vídeo anterior àquela cena, em que se vê George Floyd a entrar numa loja de conveniência da Cup Foods, no sul de Minneapolis, para comprar tabaco.

O empregado que o atendeu foi ouvido em tribunal esta quarta-feira. Christopher Martin, de 19 anos, disse que se lembrava bem de Floyd porque “ele era um homem grande” e que tinham tido uma longa conversa sobre desportos. Disse ainda que a maneira de falar de Floyd era enrolada. “Parecia que ele estava drogado”, disse. E depois confirmou que Floyd comprou tabaco com uma nota de 20 dólares, que lhe pareceu que a nota era falsa, mas que ainda assim a aceitou, vendeu-lhe o maço de tabaco e deu-lhe o troco. Depois chamou a polícia, que deteve então George Floyd, que entretanto já estava dentro do carro estacionado nas imediações.

Floyd estava sob o efeito de drogas

A autópsia oficial de George Floyd demonstrou que ele tinha consumido opioides, que são substâncias tranquilizantes, e metanfetamina, que é estimulante, antes de ter morrido.

Os advogados de defesa de Chauvin sustentam que o uso da força pelo polícia “foi razoável” porque Floyd estava sob a influência de drogas. E que “as drogas contribuíram para a morte de Floyd”.

A acusação do Ministério Público reconhece o uso das duas drogas, mas sublinhou que esse consumo não justificava, de todo, que o polícia Derek Chauvin abusasse da força e continuasse a pressionar os joelhos sobre o pescoço e o corpo de Floyd, já que o homem esparramado no chão disse repetidamente que não conseguia respirar. Vincou que o uso dos estupefacientes não foi a causa da morte. E sublinhou: “Não é George Floyd que está aqui em julgamento, é Derek Chauvin”.

“Você já viu alguém a ser morto à sua frente?”

Segundo o relato do jornal “The Guardian”, que está a acompanhar o julgamento, na terça-feira, 30 de março de 2021, foi ouvida Genevieve Hansen, uma bombeira de Minneapolis que estava de folga, ia a passar no local e ficou a ver a cena de violência. Ela terá sido impedida pelos quatro polícias de prestar auxílio médico a Floyd, apesar de o ter solicitado repetidamente.

A defesa do polícia Chauvin tentou caracterizar a bombeira como sendo parte de uma “multidão enfurecida que ameaçou várias vezes os polícias”.

Quando questionada, a bombeira Genevieve reconheceu que não exibiu o seu cartão de identificação que prova que ela tem competências médicas, mas sublinhou ter “implorado várias vezes” a Chauvin, e aos outros polícias, que a deixassem auxiliar Floyd porque lhe parecia que “ele estava a sufocar e ia morrer, como de resto aconteceu”.

Genevieve diz que não se zangou verdadeiramente até ao momento em que percebeu que Floyd já estaria morto “e que não adiantava depois tentar argumentar com os polícias porque eles acabaram de matar uma pessoa”.

Quando a defesa do polícia Chauvin pressionou a bombeira a concordar que ela e outras pessoas na multidão estavam “a agir e vociferar com raiva”, Genevieve fez silêncio durante um segundo, engoliu e depois disse: “Não sei se você já viu alguém a ser morto à sua frente, mas é uma cena muito perturbadora, como imagina”.

Testemunhas angustiadas em tribunal

As sessões em tribunal têm sido angustiantes, relata o jornal “The Guardian”. Nestes primeiros três dias várias testemunhas da cena de detenção, agressão e morte do homem afro-americano choraram e disseram que se sentiam culpadas por não terem sido capazes de ajudar e de salvar Floyd. E explicaram que a sua raiva não era uma ameaça à polícia, mas uma exigência de ação para ajudar Floyd enquanto ele implorava pela vida.

Ao júri foram mostrados vários outros vídeos gravados por testemunhas em que se ouvem vozes altas e coléricas, mas nenhum desses vídeos mostra qualquer ameaça à segurança dos quatro polícias.

O Ministério Público está a tentar elaborar a tese de um grupo de polícias, capitaneados por Chauvin, que foram atrozmente indiferentes ao sofrimento de George Floyd e ao perigo que ele correu durante um período de tempo muito longo e muito agonizante.

O julgamento continua.

JN

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