Comunidade

“Nunca desisti de lutar e acredito que 50% da cura depende de nós”

No Canadá uma em cada duas mulheres é diagnosticada com cancro da mama. A Camões TV entrevistou Ana Pereira, sobrevivente do cancro da mama e fundadora da Together Helping Women.

 

Camões TV: Quando é que descobriu que tinha cancro?
Ana Pereira: Em abril faz cinco anos. Fui ao médico fazer um exame de rotina e ele disse que tinha cancro na mama. Tive que retirar a mama direita e um pouco da esquerda, foi uma experiência devastadora.

Camões TV: Pensou que não ia vencer a doença?
AP: Achei que era uma sentença de morte mas depois levantei a cabeça e encarei os factos. Nunca desisti de lutar e acredito que 50% da cura depende de nós. Mudei os meus hábitos alimentares e passei a pensar mais em mim.

Camões TV: A quimioterapia foi difícil?
AP: A quimio é um processo muito agressivo, destrói as nossas defesas e os efeitos secundários são terríveis. O meu cabelo e as minhas unhas caíram, eu nunca tinha força…

Camões TV: O que é que muda quando se perde um seio?
AP: A nossa auto-estima, a nossa segurança… No início fechei-me em casa, tinha vergonha de ir à rua. Nunca me sentia bem comigo própria. É algo difícil de descrever mas perdemos por completo a confiança em nós próprios.

Camões TV: Pensou em colocar silicone?
AP: O médico não me aconselha devido ao tipo de células que tenho. A opção seria reconstruir o peito com tecidos do meu corpo. Mas é um processo muito doloroso e por enquanto não estou disposta a isso. Não sei quanto tempo vou viver mas quero ter tempo de qualidade.

Camões TV: O cancro é uma doença cara?
AP: Muito caro, sobretudo se as pessoas não tiverem seguro de saúde. O OHIP não cobre todas as despesas, felizmente no meu caso eu tenho o LiUNA Local 183. Foi muito importante porque depois das sessões de quimio levava injeções que custavam 20 mil dólares. Também coloquei peruca durante a quimio, mais para não chocar os outros.

Camões TV: É melhor prevenir?
AP: Claro que sim, na altura ignorei os sintomas do meu corpo. Mas foi um erro, quando mais cedo for tratado mais hipóteses temos. É sempre melhor prevenir do que remediar, como diz o ditado.

Camões TV: Fundou a Together Helping Women, qual foi o objectivo?
AP: A Associação foi criada em 2016 e ajuda mulheres que são diagnosticadas com cancro e que vivem com dificuldades económicas. Apoiamos pessoas que não têm seguro de saúde ou que não têm estatuto no país.

Camões TV: O cancro também afecta os homens?
AP: Claro que sim, normalmente eles são mais reservados. Sofrem em silêncio mas também precisam de ser apoiados.

Camões TV: Participou no Sticking Together Fundraising Gala for Breast Cancer.
AP: É extraordinário ver o envolvimento da comunidade portuguesa neste tipo de eventos. Agradeço a todos os patrocinadores e à Casa dos Poveiros, na pessoa da Linda Correia e aos voluntários que ajudaram a organizar a Gala.

Camões TV: O próximo orçamento federal dedica 4 mil milhões de dólares à investigação para determinadas doenças. Acha que é suficiente para encontrar a cura?
AP: É importante não desistirmos, nós precisamos de vencer esta doença. No Canadá uma em cada duas mulheres é diagnosticada com cancro. Não podemos ignorar estas estatísticas.

Camões TV: Nunca se revoltou contra Deus?
AP: Claro que sim mas depois aceitei e lutei com as forças que tinha.

Camões TV: Como é a vida depois do cancro?
AP: Muito melhor, aprendi a valorizar-me e a pensar mais em mim. Hoje sou outra pessoa, renasci. Vivo um dia de cada vez e sou muito mais optimista.

Camões TV: Um conselho para quem está a enfrentar a doença?
AP: Não desanime porque o melhor ainda está para vir.

Joana Leal
Entrevista conduzida por Joana Leal

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