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Morreu o grande senhor da guitarra portuguesa em Ontário

António Amaro morreu no passado domingo no Hospital Memorial Civic de Brampton. O grande senhor da guitarra portuguesa em Ontário partiu aos 92 anos. Para trás fica um legado ímpar na história do fado no Canadá de um homem que começou a tocar guitarra portuguesa aos 14 anos.

Abaixo deixamos-lhe uma pequena biografia e algumas reações ao seu desaparecimento.

Nasceu na Algarvia, em São Miguel, nos Açores, a 8 de Janeiro de 1926, mas quando tinha três meses a família mudou-se para Ponta Delgada.

Começou a ouvir fado na rádio à porta de cafés e aos 14 anos já tocava músicas de ouvido.

Comprou a sua primeira guitarra com as suas economias e o seu primeiro mestre foi José Cabral Rasquinha. Pouco depois começou a acompanhar cantadores do improviso da ilha e não só e foi escolhido para iniciar o programa musical do Teatro Micaelense, em Ponta Delgada.

Com 25 anos foi trabalhar para a Base Aérea das Lajes, na ilha Terceira, como eletricista.

Em Angra do Heroísmo é exposto à música popular e começa a tocar guitarra elétrica no grupo “Insular”.

Em 1954 actuou ao vivo no Rádio Clube Asas do Atlântico de Santa Maria e em espectáculos ao vivo na televisão americana a título experimental quando esta tentava estabelecer-se na ilha.

Imigrou para o Canadá a 22 de Junho de 1964 onde formou vários grupos e acompanhou artistas locais e de Portugal. Nos últimos anos dedicou-se apenas ao fado e gravou álbuns com todos os fadistas locais.

Fez digressões pelos EUA, Bermudas e Canadá e actuou para Pinto Balsemão e Pierre Trudeau quando estavam no governo.

Em 2002 a ACAPO entregou-he o prémio de mérito na área da música e em 2016 foi homenageado por Tony Gouveia na Casa do Alentejo. Em 2017 o Portuguese Canadian Walk of Fame entregou-lhe uma estrela devido ao seu papel na divulgação da cultura portuguesa no Canadá.

Para José Eustáquio, ex-presidente da ACAPO, Amaro foi uma das vozes que lutou pelo reconhecimento dos artistas comunitários e foi um dos grandes mentores da nova geração.

Manuel DaCosta, presidente do Portuguese Canadian Walk of Fame, também teceu rasgados elogios a Amaro. “Ele era um homem muito talentoso e merece ser recordado pela nossa comunidade. A nós só nos resta agradecer o seu generoso contributo”, disse.

António Amaro tinha duas facetas que talvez não sejam do conhecimento de todos, construia e reparava instrumentos de corda e dava aulas gratuitas de guitarra e viola.

Um dia disse à comunicação social que não emigrou em busca de melhores condições de vida, mas sim para sair da pequenez da ilha. Caso para dizer que alcançou o seu objectivo e que conseguiu introduzir um capítulo na história do fado, Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO.

Em Toronto Amaro acompanhou Amália Rodrigues, agora as duas estrelas do género musical português encontram-se no céu.

Avelino Teixeira & Joana Leal/ MS

Entrevistas feitas no Programa “Camões em Toronto” e à Camões TV no show#32

 

Reações à morte de António Amaro

 João Brito, fadista

 “Foi com ele que comecei a trabalhar em Toronto e ele era uma espécie de mestre”

“A primeira vez que cantei com ele foi em 1992 quando venci a gala de fado. Ele tinha muita paciência para ensinar”

“O Amaro deixa um grande legado à nossa comunidade, espero que não se esqueçam dele”

 

Tony Gouveia, fadista

 

“Foi um homem que se dedicou à guitarra portuguesa desde muito cedo e que tinha um estilo muito suave”

“Era um homem charmoso, de afetos e com muito sentido de humor”

“Abriu as portas da sua casa para ensinar a nova geração de músicos e de cantores da comunidade”

“Foi ele que me acompanhou no meu primeiro lançamento de fado no Oásis”

“Há dois anos celebrámos os seus 90 anos na Casa do Alentejo, fico contente por isso”

“O António Amaro dava o seu melhor e trabalhava em equipa”

“Penso que ele foi uma grande inspiração para alguns de nós. O Hernâni Raposo tocou baixo com ele durante 15 anos e acho que não fosse isso ele não seria o músico que é hoje”

 

Isabel Sinde, cantora

“Ele adorava anedotas. Gostava de rir e era um homem bem-disposto”

 

“A melhor lembrança que tenho foi quando ele e o Domingos Melo estavam a contar anedotas, sentados no chão, no Aeroporto de Toronto à espera do nosso voo”

 

“Ele vai deixar muitas saudades, sobretudo àqueles que trabalharam de perto com ele”

 

João Carlos Silva, músico e agente

 

“O António Amaro foi o guitarrista que me acompanhou nos meus primeiros passos no fado, na Festa de Santa Cruz, lembro-me como se fosse hoje”

“O António acompanhou um dos meus grandes ídolos do fado, o Fernando Farinha”

“Ele era um dos guitarristas mais castiços de sempre e foi ele que me deu um empurrão”

“Ele nasceu em São Miguel e aos 20 anos mudou-se para a Terceira, que é de onde eu sou natural. Ele já tocou nas Bermudas, nos EUA e no Canadá inteiro. Apesar de ser açoriano, tinha uma paixão pelo fado e ainda bem porque foi ele que começou com este estilo em Toronto”

“Eu estava indeciso entre o fado e a música popular e foi ele que me aconselhou a escolher o fado porque achou que eu tinha talento”

“Ele lançou as minhas duas filhas e é por isso que eu também estou a ajudar alguns jovens a começarem uma carreira musical”

“Ele dava aulas de canto, de instrumentos e eu fico muito feliz por ter sido aluno dele e por poder transmitir o que aprendi com ele às novas gerações”

“Eu já fui acompanhado por vários guitarristas em Portugal, mas o António tinha um toque especial no fado menor. Ele leva-me a uma dimensão completamente diferente. Poucos conseguem tocar como ele”

“Ele sempre pediu isto para a comunidade. Que sejam humildes, unidos e que continuem a representar aquilo que somos – lusitanos e originais no fado. Nunca deixem de apoiar o que é nosso”

“Nós eramos vizinhos e passávamos muito tempo juntos. Há cinco anos estive na costa leste do Canadá e lá temos lagosta quase dada. Eu e o Hernâni convidámos o António Amaro para comer lagosta na nossa casa. Eu, as minhas duas filas, o Hernâni e o António fizemos uma grande noite de fado. O Sr. António parecia que estava no céu. Estes momentos simples são os mais verdadeiros”

 

Hernâni Raposo, músico e produtor

“Um grande amigo, um grande músico”

“Ele era muito simples e bem-humorado. Quando comecei a trabalhar com ele, percebia pouco de fado e ele já tinha muita experiência”

“Tocámos juntos durante 15 anos e nunca tivemos brigas. Isso é muito raro em qualquer grupo musical. Ele era um guitarrista muito suave, tinha um toque muito parecido com os grandes profissionais de Portugal. Quem entende de música reconhece que ele tinha um grande talento e que conseguiu transmitir uma frase musical”

“Quando comecei a tocar guitarra portuguesa comecei a imitá-lo. Há algumas semanas estive em casa dele e tocámos juntos. É esta noite que eu vou recordar durante muitos anos”

“Acompanhávamos grandes nomes de Portugal e tenho muito boas memórias. Viajámos muito, um pouco por todo o Canadá, e quando saiamos da nossa área de conforto, que era Toronto, era sempre uma grande expectativa”

 

Nuno Cristo, músico

“Toquei várias vezes ao lado dele a acompanhar os fadistas locais e quando organizámos a primeira actuação de fado no Harbourfront”

“Quando ele veio para o Canadá foi acompanhar a Isabel dos Santos numa taberna na Spadina. Aqui ele conheceu o Carvalhinho, um guitarrista português, e ele costumava dizer que foi um nome muito importante porque o ajudou a desenvolver a técnica para tocar”

“Ele tornou-se profissional em 1985 e foi durante muitos anos o grande senhor da guitarra portuguesa em Ontário. O estilo dele era o que se tocava em Lisboa, ele tocou em casas de fado de Lisboa e do Porto”

“Ele gravou muitos discos com muitos fadistas e ele ensinou vários guitarristas. Mas infelizmente agora só temos três em Toronto. É um instrumento caro e difícil de aprender”

  

Carlos de Sousa, antigo presidente da Casa do Alentejo

 

“Ele atuava gratuitamente para que a Casa do Alentejo fosse para a frente”

“Ele era um grande amigo e tinha um grande coração”

“Cada vez é mais difícil arranjar um guitarrista na comunidade”

“Acho que seria interessante criar uma bolsa de estudo em nome dele para que os novos músicos possam estudar”

“Lembro-me de ele ter acompanhado o Paulo Bragança na Casa do Alentejo. Fez três ensaios e adaptou-se com uma grande naturalidade”

 

Armando Viegas, antigo presidente da Casa do Alentejo

 

“Trabalhei muito com ele quando estive ligado à Casa do Alentejo. Ele era um músico extraordinário, era o melhor que tínhamos no Canadá”

“Tinha um grande coração ajudava cantores da nossa comunidade a aperfeiçoarem as suas vozes”

“Espero que os clubes portugueses, que ele tanto ajudou, tenham a hombridade de o homenagear”

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