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Fado

O Nosso Fado

 

Por: Hernâni Raposo

Fado é atualmente um símbolo mundialmente conhecido de Portugal, representado durante muitos anos internacionalmente por Amália Rodrigues. Hoje é reconhecido como património imaterial da humanidade. A UNESCO distingue o fado enquanto tradição e expressão da identidade da cultura de Portugal. Apesar de ter muitas formas, como é cantado de forma diferente em Lisboa, no Porto e Coimbra, o Fado é, por direito próprio, a própria expressão da alma portuguesa. Portugal, desde o momento do nascimento, surgiu em um cruzamento de culturas. Isso torna difícil apontar uma origem precisa do Fado, mas todos os estudiosos concordam que suas origens remontam a muitos séculos, talvez até tempos antes da existência de Portugal como país independente.

A explicação mais aceitável, pelo menos quando se fala sobre o Fado de Lisboa, é que ele veio das canções dos mouros, que mantiveram a vida perto de Lisboa, mesmo depois da tomada cristã. A tristeza e a melancolia dessas músicas, tão comuns no Fado, são uma boa base para explicar os ritmos do Fado. No entanto, há aqueles que dizem que o Fado veio a Portugal, mais uma vez através de Lisboa, sob a forma de Lundum, a música dos escravos brasileiros. Por esta explicação, deveria ter chegado a Portugal com os marinheiros que retornavam de suas viagens longas, aproximadamente no ano de 1822. Somente depois de um tempo, Lundum começou a modificar até se tornar o Fado. Apoiar essa crença é o fato de que as primeiras músicas do tipo estavam relacionadas não apenas com o mar, mas também com as terras que as ultrapassavam, onde viviam os escravos. Pode-se parecer um exemplo de uma das canções de Amália, chamada “Barco Negro”, que fala precisamente de uma senzala (lugar onde os escravos viviam).

Outra possibilidade coloca o nascimento do Fado de volta da Idade Média. Já naquele tempo, pode-se encontrar as características musicais que até hoje conservam. As canções de amor, que foram cantadas por um homem para uma mulher, parecem encontrar parentesco no Fado de Coimbra, onde os alunos cantam suas canções sob a janela da amada (serenatas).

De qualquer forma, o Fado parece ter aparecido pela primeira vez em Lisboa e no Porto, sendo posteriormente levado a Coimbra com os estudantes universitários (Coimbra foi, durante muitos anos, a cidade universitária por excelência) e tendo adquirido diferentes características. Em Lisboa e no Porto, podemos encontrar o Fado cantado nas partes mais antigas da cidade, nas tabernas ou casas do Fado. Casas pequenas, velhas, com paredes frias, decoradas com os símbolos desta forma de canção nessas duas cidades: o xaile preto e a guitarra portuguesa.

O fadista canta seus amores, sua cidade, as misérias da vida, os velhos tempos e as pessoas já mortas, e fala, quase sempre, de saudade. Mas de onde veio a palavra Fado? Ela veio do latino fatum, que significa destino, o destino inexorável de que nada pode mudar. É por isso que o Fado geralmente é tão melancólico, tão triste. A mulher canta sempre de preto, com uma voz triste e geralmente com um xaile nos ombros. Ela canta o amor e a morte: a morte pela perda de amor, o amor perdido até a morte …

Esta maneira de cantar mostra, de certo modo, o espírito do povo português: acreditar no destino como algo que os aborrece e para o qual eles não podem escapar, o domínio da alma e do coração sobre a razão, que leva a atos de paixão e desespero, e revelam uma tristeza tão negra e bonita.

Em Coimbra encontramos o mesmo estilo triste. Os fadistas cantam vestidos de preto e com uma capa negra estudantil, mas com diferentes motivações. Como já foi dito, os ex-libris de Coimbra são seus alunos. Pouco a pouco, jovens que chegaram de Lisboa e Porto pegaram suas guitarras e a nova forma de tocar foi apreciada pelos estudantes. Não havia nada melhor para impressionar seus amores  do que cantar suas angústias por não tê-los, colocando em mãos um coração cheio de tristezas que só elas poderiam aliviar? Qual melhor forma musical explicaria a insatisfação de deixar para trás os melhores anos da juventude, a vida boémia estudantil do que o Fado? E assim, tornou-se a música oficial para as despedidas de cada ano para os alunos universitários.

Hoje em terras distantes de Portugal o Fado está a ser preservado pelos fadistas e guitarristas locais e apreciado pelas vastas etnias. Posso confirmar como parte desta comunidade fadista que aqui no Canadá está vivo e bem representado “O nosso Fado”.

 

 

 

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