Comunidade

Ex-combatentes de Ontário ganham novo veículo

Estes foram alguns dos homens que estiveram na linha da frente na guerra colonial portuguesa, um conflito que durou 14 anos. O Núcleo de ex-combatentes de Ontário fez 17 anos e o sócio mais jovem tem 23 anos.

Em declarações ao Milénio Stadium, Armando Branco, presidente da Liga dos Combatentes do Núcleo de Ontário, explicou-nos que o objetivo é aumentar o número de membros. “Em Ontário devemos ter entre 20,000 e 24,000 ex-combatentes portugueses, mas não estão todos inscritos no nosso núcleo. Até ao final do ano queremos chegar aos 1000 sócios, o mais jovem é o meu neto que tem 23 anos”, disse.

Para além dos benefícios que têm em Portugal, a partir de agora os membros do Núcleo de Ontário têm uma viatura ao seu dispor. “Nós somos heróis quando vamos para a guerra e viramos um peso quando regressamos debilitados. Em Portugal os nossos membros têm desconto em mais de 700 lojas e no Canadá vão poder beneficiar de um desconto nos anunciantes da nossa revista. A grande novidade na história da nossa organização é um serviço social de transporte a membros idosos que tenham dificuldades em se deslocar a hospitais, clínicas e laboratórios”, avançou.

A maioria dos ex-combatentes tem uma faixa etária avançada e é preciso incutir este espírito nas novas gerações. “Fui militar três anos no Corpo Nacional dos Paraquedistas e faço o apelo para que antigos militares e simpatizantes se tornem membros da nossa Liga. Só assim é que o nosso Núcleo pode dar assistência aos antigos combatentes que ainda sofrem de carências físicas, psicológicas e monetárias resultantes da guerra do Ultramar”, referiu Fernando Martins, secretário do Núcleo de Ontário.

O Cônsul-Geral de Portugal em Toronto também esteve presente e deixou uma mensagem de agradecimento aos ex-combatentes. “Agradecimento pelo espírito de missão, de serviço patriótico que estes portugueses, em particular, demonstraram e demonstram para com o nosso país. Estamos muito gratos pelo seu espírito de sacrifício e por isso não quis deixar de passar por aqui neste dia para cumprimentar os dirigentes e os membros desta Liga e desejar-lhes felicidades”, adiantou Rui Gomes ao nosso jornal.

O Núcleo homenageou dois grupos de mulheres que tiveram um papel importante na guerra colonial – as enfermeiras, que tratavam das feridas físicas, e as “madrinhas de guerra” que cuidavam das dores emocionais. “As enfermeiras estavam na linha de combate para assistir os feridos mais graves, enquanto que as madrinhas de guerra se disponibilizaram gratuitamente para trocar correspondência com os militares. E algumas delas, depois do fim do serviço militar, acabavam por casar com os soldados, eu sou um deles (risos)”, contou o presidente.

Prudência Oliveira foi a única madrinha de guerra que esteve presente no aniversário do Núcleo e aceitou partilhar a sua experiência ao Milénio Stadium. “Normalmente era uma rapariga nova e solteira que trocava correspondência com um soldado que estava nas províncias ultramarinas. Podia ser Angola, Moçambique ou Guiné Bissau e os aerogramas eram gratuitos, não precisavam de selo. Os soldados falavam sobre o ambiente da guerra e para eles era uma grande alegria quando chegavam ao quartel e tinham uma carta nova. As madrinhas de guerra davam força e coragem aos soldados, eles falavam-nos dos ataques no mato, das rações alimentares, da falta de higiene porque passavam dias sem vir ao quartel. Às vezes eles estavam ansiosos, stressados e cansados. Nós não casámos, mas ficámos muito amigos”, referiu.

O presidente do Núcleo de Winnipeg, Pedro Correia, combateu três anos em Angola e voltou com stress pós-traumático. As memórias deram origem a um livro que agora também faz parte do acervo do Núcleo de Ontário. A obra chama-se “Caçadores especiais” e é da autoria de Mia Sally Correia. “O livro foi escrito pela minha filha e é ficcional porque algumas das personagens ainda estão vivas. O prefácio é do General Chito Rodrigues que hoje é o presidente da Liga dos Combatentes. Eu fui ferido duas vezes, mas o pior foi o stress pós-traumático. Já tirei vários cursos e vou às escolas falar sobre a minha experiência. Hoje faz-me confusão estar em centros comerciais e em jantares com muita gente, sobretudo se estiver no meio da sala”, contou.

Correia lamenta que a sociedade portuguesa seja pouco aberta a estas questões e garante que a ajuda profissional não deve envergonhar ninguém. “Em Winnipeg temos cerca de 380 ex-combatentes portugueses e depois de três anos de negociações consegui criar um protocolo com a Royal Canadian Air Force que permite aos veteranos e às suas famílias ter acesso gratuito a um psicólogo ou psiquiatra. No nosso tempo quem recorria a estes profissionais era maluco, mas hoje sabemos que não é bem assim”, informou.

O núcleo homenageou ainda o antigo paraquedista Eduardo da Costa Resende, o presidente honorário do Núcleo, Bento São José e a LiUNA Local 183, que sempre apoiou o Núcleo nas suas iniciativas. Ao nosso jornal, Bento falou sobre as aprendizagens da guerra. “Eu estive em Cabinda e a adaptação era difícil porque eramos inexperientes e nos primeiros combates ficávamos sem munições. Às vezes estávamos vários dias longe do quartel e tínhamos de dormir no mato e não era fácil”, confessou Bento São José, presidente honorário do Núcleo.

A noite terminou com fado e com ópera com as vozes de Cathy Pimentel e da soprano ucraniana Mira Solovianenko que vive em Toronto desde 2014. Durante o jantar esteve à venda o livro de Fernando Cruz Gomes. “Um homem novo – por entre os horrores da guerra” foi publicado a título póstumo e tem a chancela da editora Chiado.

Joana Leal

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