“Abuso e muita dificuldade no dia-a-dia” diz indocumentada
Maria José Costa, uma indocumentada em Toronto, com um filho na escola, e uma filha adolescente a trabalhar, também indocumentada. Cinco anos e meio de muitas dificuldades, onde a ideia de regresso a Portugal, neste caso aos Açores, é uma impossibilidade, por razões de caráter económico e desemprego. Apesar das reticências, resultantes do receio de ser identificada, aqui vai uma pequena entrevista, que conseguimos com a Maria José (nome fictício).
Milénio Stadium – Há quantos anos estas aqui, no Canadá com os teus filhos?
MJC – Há cinco anos e meio.
MS -Porque estás sozinha com os teus filhos?
MJC – Graves problemas relativos a violência doméstica.
MS – Como são os teus dias. Tens receios?
MJC – Sim muito medo, dia após dia é um stress quanto ando na rua. Temo também pelos meus filhos, pois estamos numa situação muito precária, todos.
MS – Para conseguires sobreviver, trabalhas nas limpezas, apesar de teres formação e experiência em outras áreas. Quantas horas trabalhas por dia?
MJC – Trabalho de segunda a sábado e alguns domingos, uma média de dez horas diárias. Há dias que limpo duas casas.
MS – Qual o impacto na tua saúde física e mental desta situação?
MJC – Sinto-me fisicamente muito cansada sem energia, a dormir uma média de cinco horas diárias, com dores insuportáveis, principalmente costas, pernas e braços. Psicologicamente, sinto-me muito em baixo, sem autoestima. Acordar e começar um novo dia é extremamente difícil para mim, o que tem também um impacto muito negativo, principalmente na saúde do meu filho. Como não tenho estatuto, tenho dificuldades em ter acesso aos médicos, medicamentos e alguns dos meus problemas de saúde estão-se a agravar.
MS – Tens uma filha adolescente também indocumentada e a trabalhar. Como é a vida dela?
MJC – Sim. Ela ganha 10 dólares/hora e trabalha cerca de 10 a 12 horas diárias. Os horários são por turnos, com entradas às cinco de manhã e termo às 15, ou entradas às 14 e saídas à meia noite. Ela sente-se cansada, frustrada, discriminada, pois é a ela que pedem os trabalhos mais pesados. Como ela trabalham muitas outras jovens, na mesma situação. São tratadas como escravas!
MS –Como vês o teu futuro aqui?
MJC – Infelizmente, neste momento não vejo nenhum. Nada de positivo.
MS – Como sabes, os primeiros-ministros de Portugal e do Canadá encontram-se este fim de semana em Toronto. Se lhes pudesses falar, o que dirias?
MJC –Não tinha, infelizmente, nada de bom para dizer. O meu caso, é um dos milhares, que aqui estão e que fazem o trabalho, que muitos canadianos/as não querem fazer, e não há maneira dos políticos compreenderem isso, e encontrarem uma solução justa, para as pessoas trabalhadoras indocumentadas, que são cidadãos exemplares. Muito prometem, e nada fazem. Não tenho esperança nesta visita.
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