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A geração do desinteresse? Ou a falta de interesse nesta geração?

Começo já por ressalvar que a minha opinião se baseia na minha ideia de associações culturais em geral. Nunca lhes retirando o mérito que têm, especialmente quando vivemos fora e sabe sempre bem termos um cantinho com sabor a Portugal. Acho que têm um papel fundamental para manter a nossa cultura viva e até demonstrá-la aos mais novos. Por outro lado, considero que, com o decorrer dos anos, muitas vezes essas mesmas associações fogem do objetivo para o qual foram criadas.

Que os mais jovens estão cada vez mais distantes destas associações culturais é um facto, o que cria problemas internos de sucessão e renovação de ideias. Será que isso acontece porque somos uma geração mais egoísta e desinteressada? Há um certo fundamento neste argumento, é inegável que vivemos numa sociedade cada vez mais individualista e onde cada um está virado para os seus próprios interesses. Talvez não sejamos tão nacionalistas e até já tenhamos perdido parte da nossa cultura, porque a esta altura sentimos que pertencemos a Portugal, mas também pertencemos a todo o lado… são os efeitos da globalização e da criação da União Europeia. O amor a Portugal está presente, mas por vezes já não nos revemos em certas tradições ou até nem nunca as praticámos.

Acho que a geração de hoje, aqueles que se interessam pelo coletivo, preferem dedicar-se a questões menos culturais. A culpa é daquela ideia ingénua da idade, que nos leva a acreditar que ainda podemos mudar o mundo e por isso dedicamo-nos a questões mais humanitárias e sociais, é aí que sentimos que podemos fazer a diferença.

Eu confesso que, desde pequena, tenho um grande problema com associações culturais. Talvez quando começam tenham em vista a comunidade, e há sempre pessoas que querem fazer mais e melhor, não lhes retiro o mérito, mas também esses não são a maioria. Do que eu vi, são muitos os que se juntam a estas associações não para promover a cultura, mas para se promoverem a si próprios. É uma luta de egos, títulos e a vontade de aparecer nas fotografias para partilhar no Facebook. Isto acaba por afastar aqueles que realmente gostariam de fazer alguma coisa.

Em Toronto existem várias associações e para quê? A ideia não é demonstrar e promover a união da comunidade? Que houvessem três ou quatro associações, divididas por regiões, eu até entendia, porque as tradições são também diferentes. Mesmo numa perspetiva económica e até de sobrevivência o que fazia sentido era juntarem-se. Isso só não acontece porque são muitos aqueles que não estão dispostos a sair da cadeira dourada onde se implementaram. Enquanto a comunidade se focar mais nas aparências e títulos do que no espírito de cooperação, não vamos longe.

Comparo as associações culturais um pouco à igreja católica, o problema não está em acreditar em Deus, o problema é acreditar numa instituição mal gerida e que não vive de acordo com os seus moralismos. O que as associações precisam é de uma limpeza, que saiam aqueles que não se interessam e que deixem espaço a novas intervenções, que saibam cativar e acima de tudo, inovar. Espero que as associações que fazem um trabalho relevante continuem, mas acima de tudo espero que sejam autocríticos, que se melhorem e saibam reconhecer o que está mal.

A culpa está dos dois lados, de um lado da moeda, a nova geração que nem sempre se interessa pela comunidade… se bem que ainda há salvação, existem muitos que querem fazer a diferença. E do outro lado, as associações que tentam travar a mudança e não confiam nas ideias dos mais novos, felizmente também não são todas assim. Apesar do meu ceticismo, não digo que nunca me juntaria a uma associação, mas certamente não o faria com as que conheci até agora.

 

Inês Carpinteiro

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