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Ana Bailão quer casas mais acessíveis

“É fundamental que as pessoas saibam onde vão dormir e que não gastem 80% ou 90% do seu salário em habitação” Ana Bailão  

 

Ana Bailão tem 42 anos, nasceu em Vila Franca de Xira (Lisboa) e é formada em Sociologia pela Universidade de Toronto. Vereadora de Davenport há dois mandatos, agora está a concorrer por um terceiro que se disputa a 22 de outubro. A habitação acessível tem sido uma das suas principais bandeiras políticas e o seu slogan é “a mudança é inevitável, mas o progresso é opcional”.

A luso-canadiana é vice-presidente na Câmara Municipal de Toronto e segunda-feira esteve à conversa na Camões Radio com Nuno Miller no programa “Manhãs da Camões”.

 

Camões Radio: Como é que veio parar à política?

Ana Bailão: Vim para o Canadá com 15 anos e comecei a estudar numa escola francesa que hoje já não existe. Ficava na Colllege e Lansdowne. Depois fui para a universidade, fui presidente da Associação de estudantes, já tínhamos uma tuna e já estava muito envolvida na comunidade. Quando o Mário Silva era vereador convidou-me para ir trabalhar com ele. Nunca me tinha passado pela cabeça envolver-me na política, o meu plano era acabar sociologia e estudar para ser assistente social. O que era para ser um part-time acabou por ser um full time que durou cinco anos. Candidatei-me e perdi e depois fui para a banca, comecei no Milénio BCP. Depois trabalhei numa empresa de IT na área de marketing e relações comunitárias. Mas o bichinho da política ficou sempre cá. Em 2010 achei que tinha uma proposta boa. Sempre morei naquela área e comecei a aperceber-me que a área estava a mudar e que as pessoas não se estavam a sentir representadas. E em 2014 fui reeleita e continuo a viver em Davenport.

CR: Quais foram os principais desafios que encontrou em Davenport na altura?

AB: Sentia que as pessoas não estavam a ser ouvidas. Algumas decisões políticas para a área foram no sentido oposto do que a comunidade queria. Por exemplo o estacionamento na Dundas tinha sido retirado e eu quando fui eleita anulei essa decisão. Os comerciantes estavam a sentir-se muito prejudicados e hoje a Dundas está muito diferente, mudou para melhor. Em 2012 começámos o primeiro Festival Dundas West que hoje é um sucesso. O crescimento da cidade é inevitável porque cada vez temos mais pessoas que escolhem Toronto para viver. Mas tem de ser sustentável, os serviços têm que acompanhar este desenvolvimento.

CR: Em Toronto temos novos residentes, mais refugiados, mais sem-abrigo, aumento de rendas, aumento do custo de vida e jovens com dificuldade em pagar as contas. E temos também o aumento da violência. Que soluções é que propõe?

AB: Estes problemas são comuns em cidades do mundo inteiro, não é só em Toronto. Quando as pessoas têm problemas de integração e falta de oportunidades, acham que não têm nada a perder e acabam em caminhos menos desejáveis. A habitação é fundamental para termos uma cidade saudável a nível económico e a nível social. É fundamental que as pessoas saibam onde vão dormir e que não gastem 80% ou 90% do seu salário em habitação. Não podemos escolher entre pagar a renda ou comer, é por isso que tenho despendido muito tempo nesta questão. As pessoas procuram Toronto pela qualidade de vida, não é pelo clima de certeza. Mas a cidade sozinha não consegue resolver a questão da habitação.

A Câmara de Toronto está a criar um projeto piloto que vai juntar seniores que vivem sozinhos com jovens que estão à procura de casa. Para o jovem a renda é mais barata e o idoso tem quem lhe corte a relva, limpe a neve e coloque o lixo no exterior.

Também temos os laneway suites que mais não é do que um apartamento que é construído por cima de uma garagem. Nalguns casos os filhos moram nesses apartamentos ou vice-versa.

A autarquia ainda é proprietária de muitos terrenos na cidade e é importante pensarmos em construir moradias mais acessíveis.

Já conseguimos aprovar mais de 1000 moradias mais baratas para a classe trabalhadora, mas é preciso continuar a trabalhar.

CR: A nível de transportes, o projeto da King Street que pretendia diminuir o tempo de deslocação na área acabou por não agradar aos empresários. Está satisfeita com este projeto?

AB: O crescimento da cidade faz com que tenhamos que pensar em soluções atípicas. 60 mil pessoas usam diariamente os elétricos naquela área e o objectivo foi tentar diminuir o tempo de deslocação. Se o TTC não for eficiente as pessoas vão acabar por adquirir carro e vamos ter mais congestionamento e mais poluição. Estamos a trabalhar numa solução que seja vantajosa para ambas as partes, para os utilizadores do TTC e para os empresários locais.

Toronto perde $6 mil milhões de produtividade por ano devido ao congestionamento.

CR: A rede de TTC está a ser expandida, mas as pessoas queixam-se de atrasos.

AB: Não houve investimento nesta rede durante décadas e agora estamos a sofrer as consequências.  Não podemos construir uma linha de metro ou um LRT, como estão a fazer na Eglinton, de um dia para o outro. Inaugurámos o metro para Vaughan, estamos a construir o SmartTrack, Etobicoke vai ter seis estações e os projetos para aliviar a linha da baixa e de Scarborough já estão em andamento.

Mas estes projetos vão demorar anos e as pessoas só vão escolher o TTC se ele for prático e confiável.

Eu represento a área da Dufferin e os troços de autocarros têm sido a minha grande batalha. Esta área já foi pior, conseguimos introduzir os autocarros duplos e em outubro vamos introduzir a linha expresso que vai parar só nas ruas principais.

CR: E a nível de segurança.

AB: Esta questão é complexa e divide-se em três partes. Saúde mental, fácil acesso a armas e relação da polícia com a comunidade e com os jovens.

A nível de saúde mental a província anunciou que ia investir mais. Segundo a polícia, em 50% dos tiroteios, as armas foram compradas legalmente e depois foram parar ao mercado negro.

Estamos a reformular o departamento da polícia e temos um projeto piloto que é “neighbourhood cops”. Eles conhecem melhor a comunidade e têm uma relação mais próxima. Assim conseguem infiltrar-se e recolher mais informações sobre gangues.

CR: O tribunal não autorizou a redução do número de conselheiros na Câmara de Toronto. Qual é a sua opinião?

AB: Não se trata de reduzir ou manter o número de conselheiros. O que nós achamos é que o governo provincial não tem o direito de interferir com eleições em curso. O juiz determinou que se tratava de interferência no processo democrático porque foi anunciado no dia 27 de maio, quando o período de campanha já tinha arrancado no dia 1.

CR: Porque é que se deve votar na Ana Bailão?

AB: Um vereador tem sempre uma equipa e nós acreditamos que temos de servir as pessoas no dia-a-dia. Costumo dizer-lhes que temos que atender as pessoas da mesma forma que gostávamos de ser tratados. A mudança é inevitável, mas o progresso é opcional. Quando inauguramos uma biblioteca dez vezes maior do que a atual, quando abrimos o Museu de Arte Contemporânea agora no dia 22 de setembro, quando expandimos o centro comunitário da Wallace Emerson, quando revitalizamos as nossas áreas verdes, quando criamos linhas expresso de autocarro para a Dufferin, estamos a trazer progresso para esta área.

Sempre fui uma voz forte para enfrentar problemas sérios, como é o caso da habitação. E para a comunidade portuguesa acho que é muito importante ter representação política que mostra trabalho. Sobretudo depois do que aconteceu nas eleições provinciais em que perdemos representação portuguesa.

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