Desporto

Espetáculo sem público

Apesar de já se começar a ouvir uns “zunzuns” de um possível alívio de medidas restritivas do combate ao novo coronavírus, parece que o caminho de volta à normalidade é difícil, matreiro e, sem dúvida alguma, ainda muito longo.

Nos países afetados pela Covid-19, o retorno à “vida normal” é feito por fases – ou pelo menos é essa a recomendação. No mundo desportivo, mais especificamente, e mesmo depois de termos ultrapassado esta pandemia, a normalização deste meio, tal como o conhecemos, pode demorar mais do que aquilo que esperamos, segundo afirmam especialistas. As portas podem, de facto, começar a abrir-se… Mas não é para todos!

Em entrevista ao The Times, Zach Binne, epidemiologista americano da Universidade de Emory, alertou para o perigo que é o habitual cenário que encontramos nos estádios de futebol, com milhares de adeptos fervorosos nas bancadas: “O que nós precisamos de entender, de uma perspetiva médica, é que por cada pessoa que se junta há um risco. Se houver cinco pessoas é mais perigoso do que duas. 10 são mais perigosas do que cinco e 500 mais perigosas do que 10. E 60 mil é muito, muito perigoso. Como cientista, odeio dizer que estou 100% seguro de alguma coisa, mas estou muito próximo de dizer com 100% de certeza que nunca mais se poderá encher um estádio enquanto não houver vacina para a Covid-19. E ponto final”.

Mas, se assim é, teremos que esperar até que todas as pessoas possuam imunidade contra o vírus para que possamos voltar a meter os pés num estádio de futebol? A resposta é dada por Karol Sikora, imunólogo, em declarações ao jornal desportivo espanhol Marca – “A logística de imunizar 68 milhões de pessoas (aproximadamente a população do Reino Unido) é complexa, portanto abrir os estádios aconteceria quando a imunidade do coronavírus alcançasse os 60%”.

Quem concorda que existe uma enorme dificuldade em poder voltar a juntar pessoas sem estarem vacinadas ou sem sequer se saber se possuem anticorpos capazes de combater a doença é Carlos Alberto Arenas Díaz, médico especialista em Medicina Preventiva e Saúde Pública. “Não acho que exista imunidade coletiva suficiente para realizar esses eventos, porque o importante não é a respiração, mas o toque (…) É uma transmissão mais sutil que a transmissão aérea. Além disso, as pessoas no estádio ficam empolgadas e abraçam-se (…) Se assegurasse a distância de segurança seria bom, mas acho que é realmente complicado “, confessou, em declarações ao mesmo jornal.

Assim, segundo o especialista, existem duas soluções: ou se obtém a imunidade de coletiva (ou seja, por contacto direto com a doença), ou a imunidade por vacinação.

Finalmente, segundo o médico Zeke Emanuel, que auxilia a Organização Mundial de Saúde no combate ao coronavírus, em declarações ao New York Times, uma previsão realista é que o desporto apenas volte no formato habitual no último trimestre de 2021. “Quando as pessoas dizem que estão a remarcar conferências, concertos ou eventos para outubro de 2020, não sei no que se baseiam. (…) Na realidade, estamos a falar do outono de 2021, na melhor das hipóteses”, afirmou.

Mas há quem tenha uma visão não tão negativa: Nacho de Blas, chefe da unidade de Doenças Infeciosas e Epidemiologia do Departamento de Patologia Animal da Faculdade Veterinária de Zaragoza, diz que “qualquer concentração de pessoas no mesmo local por um longo período de tempo é uma situação arriscada. Mas 18 meses talvez seja excessivo. O problema é que, neste momento, é muito cedo para fazer essa previsão, pois não sabemos a percentagem de pessoas imunizadas que existirão quando a fase epidémica terminar”. De qualquer das formas, aponta algumas medidas preventivas que devem ser tomadas, entre elas: limitações de capacidade, separação entre espectadores, uso de máscaras, entrada e saída das instalações desportivas de maneira ordenada e controlo de temperatura nos acessos com câmeras de imagens térmicas, acrescentando, no entanto, que “pode ser difícil colocar, num campo de 50.000, 25.000 espectadores a respeitar essas regras de distanciamento social, além do risco de movimento de adeptos de diferentes partes do país – seria necessário estabelecer zonas definidas por local de residência. Eu acho que, politicamente, ninguém vai correr um risco potencialmente alto de espalhar o vírus, já que ‘gato escaldado de água fria tem medo’”.

Fernando Maltez, presidente do Colégio de Doenças Infecciosas da Ordem dos Médicos, diz que por terras lusas se decidirá o futuro das competições futebolísticas dentro de “dois ou três meses”: “Se só agora, ao cabo de cinco meses, a China começou a aliviar as restrições sociais, presume-se que em Portugal, que teve o primeiro caso em março, tenha de decorrer o mesmo período. Mas nem isso é tão previsível, porque tudo poderá depender de fatores tão variáveis como a genética das populações ou as mutações do vírus. Para já, é completamente impossível haver pessoas nos estádios. Dentro de dois ou três meses já se verá”.

Assim, até que os estádios possam voltar a receber adeptos, uma possível solução é a realização de jogos à porta fechada – mas que tipo de futebol seria este, de bancadas vazias, sem os cânticos, sem as palmas, sem o “calor” humano?

Aqui quem dita os prazos é o coronavírus – ou nós, se realmente fizermos tudo o que está ao nosso alcance para que o possamos vencer.

Inês Barbosa/MS

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