Comunidade

Suzi Silva vai atuar na noite de fados da Semana Cultural da Casa das Beiras

“Os canadianos não percebem a saudade e não sabem ter um sentimento de tristeza que é ao mesmo tempo de alegria” Suzi Silva, fadista

Era para ser arquiteta, mas o destino ou a crise económica do país trocou-lhe as voltas e hoje Suzi Silva vive em Montreal, no Quebec. A fadista nasceu em Portugal e emigrou para o Canadá pela primeira vez quando tinha seis anos. Estreou-se em Montreal na casa de fados “Avô do Fado”.

Aos 12 anos regressa a Portugal de onde só volta em 2013 com 29 anos e com um curso de arquitetura da Universidade de Coimbra. Enquanto estudou arquitetura Suzi Silva ingressou também no Conservatório de Música de Coimbra e já aí o bichinho da música crescera.

De volta ao Canadá, em 2013, Suzi Silva é admitida na Universidade de Montreal no curso de jazz. Desde aí já atuou nos maiores clubes de jazz de Montreal e nos principais festivais deste género musical naquela província- Festival de Jazz de Mont-Tremblant, Festival de Jazz de Sutton e Festival de percussão de Montreal.

Esta sexta-feira vai atuar na Semana Cultural da Casa das Beiras e recentemente foi a convidada de Nuno Miller no programa “Manhãs da Camões”.

Camões Radio: Como é que a música apareceu na tua vida?

Suzi Silva: Canto desde que me lembro de ser gente. O fado surgiu quando eu tinha 11 anos, era o estilo que ouvia em casa e acabei por assimilar o fado com muita naturalidade. O jazz surgiu mais tarde, quando fui para a Universidade de Coimbra e a longo termo o meu objetivo sempre foi poder juntar os dois.

CR: E o que é que estudaste em Coimbra?

SS: Estudei arquitetura, mas decidi apostar na música e por isso regressei ao Canadá. Acabei em maio um curso de jazz em Montreal. Acho que algumas pessoas não têm essa noção, mas a música exige muito de nós e não dá para conciliar as duas áreas.

CR: Por onde é que tens cantado?

SS: Desde que cheguei a Montreal que tenho tentado entrar no circuito e tanto canto jazz como fado. O fado tem sido sobretudo para a comunidade portuguesa, mas os francófonos e os anglófonos também gostam de fado e eles motivaram o Fad’AZZ. O meu primeiro álbum aborda o fado de uma forma mais contemporânea para que estas pessoas possam assimilar o fado. Aliás eu tenho alguns fados em francês e noto que as pessoas apreciam bastante. Tenho participado nas últimas quatro edições do Festival de Jazz de Montreal sempre com um guitarrista francês e apresentámos um espetáculo só com músicas em francês e com um toque de jazz.

CR: Os teus arranjos são de grande qualidade.

SS: Felizmente aqui em Montreal não faltam bons músicos e tive o privilégio de estudar com alguns deles. Mas em Montreal há uma bacia de músicos do mundo inteiro. E aqui eles valorizam muito a world music. Participei num festival internacional que juntava músicos de várias origens que pretendia que pegássemos numa música do Quebec em francês e que lhe déssemos um toque da nossa cultura. Foi lá que conheci o Sergiu Popa, o acordeonista que acabaram de ouvir em “Fado Mestiço”. Ele é de origem Moldava e ele é um grande estudioso de toda a música dos Balcãs e do Norte de África, é uma enciclopédia. Propôs-lhe participar no projeto Fad’AZZ, uma fusão entre fado, jazz e outros estilos.

CR: Fala-nos sobre Fad’AZZ.

SS: Recebi uma bolsa do governo do Quebec para gravar o CD. O álbum tem sete músicas, “Fado Mestiço – Amanhã”; “Ce coeur que je garde – Fado menor”, “Fado Tango Afro-Cubano”; “O Meu Amor Não Gosta de Fado”, “Chanson Pour Une Ville”, “Fleurs Silencieuses” e “Acreditar. O Fad’AZZ teve 1000 exemplares e o público tem reagido muito bem.

CR: Recentemente ganhaste um prémio.

SS: No ano passado participei nos IPMA (International Portuguese Music Awards) e venci na categoria tradicional. A minha música não é tradicional, mas talvez tenha sido por ter essa raiz tradicional que é o fado.

CR: Quais são os maiores momentos da tua carreira?

SS: Quando tinha 16 anos venci um concurso de fado em Montemor-o-Velho em Portugal. Acho que abriu os meus horizontes para continuar a fazer música de uma forma mais profissional. Entrar na Universidade em Montreal também foi um grande passo. Eu não trazia a formação musical na bagagem que os outros jovens tinham, até porque eu entrei na universidade já com 30 anos. O Fad’AZZ também foi fundamental na minha vida.

CR: Quando é que voltas a Toronto?

SS: No dia 28 de setembro vou estar na Semana Cultural da Casa das Beiras. O público vai ouvir fado tradicional. Da última vez que estive em Toronto foi com o Fad’AZZ e às vezes as pessoas ficam com a ideia de que eu só faço isto.

CR: Algumas pessoas são pouco recetivas a estas fusões.

SS: Tenho tido várias reações e respeito ambas. Gosto muito de cantar fado tradicional, mas também preciso de criar algo novo. Se estiver sempre a repetir o que já está feito haverá milhares de pessoas que o fazem melhor do que eu. Por isso senti necessidade de criar algo diferente e obviamente que o meu público alvo para o Fad’AZZ não são os portugueses. Os canadianos não percebem a saudade e não sabem ter um sentimento de tristeza que é ao mesmo tempo de alegria. O Fad’AZZ é uma espécie de porta de entrada que os ajuda a perceber o fado e para depois o ouvirem e apreciarem com mais sentido. Mas eu não quero destruir nenhuma herança cultural.  

CR: Planos para o futuro.

SS: Continuar a promover o Fad’AZZ e talvez trabalhar com pessoas de outras áreas. Mas são apenas hipóteses, logo vemos. Vou continuar a criar música original, sem dúvida.

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