Comunidade

Informação actualizada sobre a qualidade da água das zonas balneares

O Canadá tem cerca de 27% das reservas mundiais de água fresca. No entanto a qualidade deste bem público, que é essencial à vida, está a ser ameaçada pelos níveis de poluição. Uma realidade que obrigou as empresas a encontrarem soluções acessíveis para monitorizar a qualidade da água.

Mark Mattson esteve recentemente à conversa na Camões Radio com Nuno Miller no “Manhãs da Camões”. Mattson trabalha na Waterkeeper Alliance, uma organização que controla a qualidade da água em cerca de 7,000 praias da América do Norte. A pensar na saúde pública a organização sem fins-lucrativos criou a swim guide, uma app que fornece informação atualizada sobre a qualidade da água das zonas balneares.

 

Camões Radio: Como é a sua profissão?

Mark Mattson: Fui advogado de direito criminal durante 30 anos. Conheci o Robert Kennedy Jr. nos finais dos anos 90 e ele convenceu-me a trabalhar na Waterkeeper Alliance. Já sou advogado ambiental há 20 anos e em 2001 fundei a Lake Ontario Waterkeeper, da qual sou presidente até hoje.

Monitorizamos a qualidade da água de 7,000 praias da América do Norte. Nós temos uma app gratuita que é a swim guide. Estamos no México, na Austrália e na Nova Zelândia. Acreditamos que água limpa conecta pessoas, esta é a parte mais importante do nosso trabalho. E monitorizamos também a qualidade do Lago de Ontário aqui em Toronto.

CR: Recentemente o CEO da Nestlé disse que a água não devia ser um bem público. Concorda?

MM: Não me surpreende que um CEO de uma grande multinacional pense em privatizar a água. Este bem está muito presente nas nossas vidas e há sempre alguém que pensa em lucrar com isso. Como canadianos nós temos uma longa relação com a água.  A ideia de que a água é um bem público já é muito antiga e está enraizada na nossa cultura. Já o Robin Hood tinha lutado contra o rei John de Inglaterra quando ele tentou privatizar a caça. Quem polui está a interferir no nosso direito de nadar, pescar e beber água potável. É por isso que encorajamos as pessoas a terem uma ligação ao lago e aos rios. Se a água for privatizada todos nós vamos sofrer com isso.

CR: O Canadá tem uma grande reserva de água. Acha que o país tem conseguido proteger este recurso?

MM: O Canadá tem cerca de 27% das reservas mundiais de água fresca. E a água está dispersa pelas três costas, Norte, Este e Oeste. E por isso deveríamos ser uma referência mundial em matéria de proteção deste recurso, em vez de estarmos na cauda, como vários estudos apontam. Temos leis boas, mas não as colocamos em prática no terreno. Temos o Canadian Navigable Waters Act que nos permite desde 2012 o acesso livre à água quer seja para navegar, para nadar ou fazer desportos.  O problema da poluição está entregue à esfera política e os canadianos esquecem-se que a água faz parte de identidade nacional. Felizmente existem organizações como a Waterkeeper Alliance que educam a comunidade para pensar de outra forma.

CR: Por falar em identidade, no verão os torontonianos gostam de tomar banho no lago. É seguro?

MM: Por isso é que criámos a swim guide. Com esta app todos os dias temos informação atualizada sobre a qualidade da água do lago. Eu diria que 99% do lago é seguro. Não podemos é nadar depois de chover porque toda a poluição vai parar ao lago. Certifiquem-se de que o fazem pelo menos 48 horas depois de chover. O melhor é consultarem a nossa app antes de fazerem um programa em família.

CR: Temos estudos que garantem que consumimos uma das melhores águas do mundo. Podemos confiar nisto?

MM: Acho que fazemos um excelente trabalho e a água da torneira é segura, mas podia ser ainda melhor. A água que é consumida em Toronto em Mississauga, Hamilton, Oshawa e Kingston, vem do Great Lakes. Até nos EUA, em Buffalo e em Detroit. O problema é que a poluição da água dos lagos mantém-se de um ano para o outro. No caso dos rios é diferente porque a água está sempre em movimento. Daí que tenhamos de tratá-la para conseguirmos eliminar as bactérias e os fungos. Temos a obrigação de proteger este bem para as próximas gerações. Não temos um cano para transportar a água ao longo de vários quilómetros como em Nova Iorque.

CR: Temos que filtrar a água que sai da torneira?

MM: Cada vez há mais empresas a vender filtros para a água. Mas espero que isto não se torne uma prática corrente no futuro. Somos uns privilegiados porque temos aqui toda esta água e tudo o que temos de fazer é estimar e proteger.

CR: O plástico é um dos principais responsáveis pela poluição dos oceanos. Como é que podemos contrariar este fenómeno?

MM: É uma crise emergente. Desde os microplásticos que estão presentes nas pastas dos dentes, na maquilhagem e que vão parar à água que bebemos e ao peixe que comemos. Não podemos continuar a ignorar estes factos tal como temos vindo a fazer nos últimos 15 anos.

A nível pessoal estou a tentar reduzir ao máximo a utilização de plástico. E alguns dos meus amigos também estão a fazê-lo. O governo tem de trabalhar com a indústria para encontrar alternativas viáveis.

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