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Escritora recomendada pelo Plano Nacional de Leitura visita Toronto

Rosário Alçada Araújo tem 20 livros publicados

Rosário Alçada Araújo tem 45 anos e já publicou 20 livros. Apesar de ter estudado direito, a vida trocou-lhe as voltas e foi numa temporada em Londres que se reaproximou da literatura infantil. A partir daí dedicou-se em exclusivo a esta área e “O baloiço azul” é o seu último trabalho.

Algumas das suas obras são recomendadas pelo Plano Nacional de Leitura em Portugal e esta semana a escritora visitou várias escolas em Toronto e em Otava a convite do Instituto Camões.

O Milénio Stadium quis saber um pouco mais acerca desta escritora nascida em Lisboa e que adora escrever para os mais jovens.

 

Milénio Stadium: Quando é que a escrita surgiu na sua vida?

Rosário Alçada Araújo: Acho que surgiu relativamente cedo porque escrevi o primeiro livro com 29 anos. Hoje já são cerca de 20, já lhes perdi a conta (risos).

Quando era criança na minha escola dava-se muita atenção à leitura e às composições e eu gosto de pensar que nessa altura já me estava a preparar para ser escritora. E pelo caminho também tive várias professoras que contribuíram para que a escrita tivesse este papel na minha vida.

MS: E porquê a literatura infantil? Em que é que se inspira?

RAA: Eu sempre gostei de ler livros para crianças, aliás ainda hoje gosto. Acho que um bom livro para crianças é bom para qualquer idade. Embora eu leia outros géneros, penso que a literatura infantil é o meu género literário preferido. É muito comum me perguntarem porque é que eu não escrevo para adultos, mas a verdade é que tenho muita facilidade em escrever para crianças.

Inspiro-me muito na minha infância, na realidade, nos lugares e nas vivências. Um escritor tem de estar sempre atento a nomes e a frases que ouve. E inspiro-me na própria língua portuguesa.

 

MS:  O seu novo livro é “O baloiço azul”. Qual é o tema deste livro?

RAA: O ponto de partida da obra é precisamente um baloiço azul onde eu passava muitas tardes no quintal da minha avó na Covilhã (Castelo Branco). Apesar de ter nascido em Lisboa passava sempre as férias na terra da minha mãe. No natal, na páscoa e nas férias grandes era sempre uma aventura passar os dias fora de Lisboa em sítios que eu sentia que faziam parte das minhas raízes. Crescer em Lisboa foi bom porque no meu prédio os meus vizinhos tinham filhos da minha idade e isso foi importante. Algumas pessoas queixam-se e dizem que vivem isolados na cidade, mas eu não senti nada.

Há lugares que descrevo nos livros, como por exemplo a Serra da Estrela e a praia de Moledo, no Minho, que influenciaram e influenciam a minha escrita.

MS: A coleção “O mundo à minha volta” faz parte do Plano Nacional de Leitura. Que mundo é este que inspirou esta coleção?

RAA: Tenho muitos livros no Plano Nacional de Leitura e fico contente por isso porque funciona como um cartão de visita, na medida em que chama a atenção dos professores e dos pais. Tudo o que contribui para que os meus livros cheguem a mais leitores deixa-me contente.

O mundo à minha volta tem muitos mistérios e desafios e devemos tentar vivê-lo da melhor maneira possível. Eu tive uma infância muito boa, rodeada de família, primos, amor, carinho e natureza. E é isso que tento passar para os meus livros e espero que os meus leitores sonhem com as minhas obras.

 

MS: A Rosário está pela primeira vez no Canadá, mas já visitou escolas no mundo inteiro.

RAA: Já tive em muitas escolas e as crianças fazem-me sempre perguntas surpreendentes que me deixam a pensar. Já visitei a Alemanha, a Suíça, o Luxemburgo, a Argentina e a Austrália.

Hoje uma criança perguntou-me em Toronto se costumava ler os meus livros e na realidade às vezes passo muito tempo sem os reler, como leitora, se é que isso é possível.

MS: Quais são os temas que retrata nos seus livros?

RAA: “A História da pequena estrela” trata da procura de um caminho pessoal; “A caixa das saudades”, como o próprio nome indica, trata das saudades e da forma como devemos lidar com elas; “A Rosinha, o mar e os sonhos” trata da importância de sonhar; “Histórias de um leque mágico” fala da importância das histórias; “O menino escritor” fala sobre a escrita e a importância de brincar com a imaginação.

MS: Acabou de referir “A caixa das saudades”. Saudade é palavra portuguesa que não tem tradução em nenhuma língua e que é muito especial para os emigrantes. O que é que guardamos nesta caixa?

RAA: Na nossa caixa de saudades, porque às vezes temos coisas na memória das quais não temos saudades, guardamos as coisas boas. Não quero desvendar muito sobre o livro, mas posso dizer que fala sobre o meu avô paterno. As pessoas associam a saudade à tristeza, mas às vezes pode significar alegria porque é sinal que sentimos falta de algo que nos fez feliz. Ninguém nos tira o facto de termos passado bons momentos com pessoas que nos marcaram.

MS: Foi em Londres que se aproximou do mundo infantil.

RAA: Formei-me em direito e cheguei a exercer cinco anos em Lisboa. Depois fui para Londres onde tirei um mestrado em Sociologia da Comunicação. E foi em Inglaterra que me reaproximei da literatura infantil. Dei por mim a ler livros infantis em livrarias e em bibliotecas com quase 30 anos.

MS: As crianças ainda a surpreendem?

RAA: Sem dúvida e eu gosto muito de tentar ver as coisas através do seu olhar. Elas surpreendem-me porque dizem o que pensam sem filtros e porque olham para as coisas de uma forma totalmente nova, sem preconceitos e sem vícios.

MS: Como é que surgiu o convite para vir a Toronto e a Otava visitar várias escolas onde se ensina o português?

RAA: Foi através do Instituto Camões, na altura ainda era a Dr.ª Ana Ribeiro. O novo coordenador do Instituto Camões para o Canadá, o Dr. José Pedro Ferreira, acabou por dar continuidade à organização desta visita e cá estou eu.

Encontrei alunos muito interessados e fiquei muito impressionada porque falam muito bem português embora estejamos tão longe de Portugal. Acho que os livros em português cultivam a língua de Camões, acho que é um dois em um.

MS: A Biblioteca Pública de Toronto tem o maior acervo de e-books do mundo, ao todo são mais de 20 milhões de livros que estão digitalizados. Alguns deles estão disponíveis em português. Gostava que os seus livros integrassem este acervo?

RAA: Claro que sim, em Portugal eles estão espalhados pela rede de bibliotecas escolares e municipais, em versão física e digital. Seria um grande orgulho fazer parte do imaginário dos portugueses que vivem no Canadá.

MS: Qual é o tema do seu próximo livro?

RAA: Tudo o que posso dizer é que vai ser muito diferente de todos os outros. Normalmente escrevo contos e este vai ser um romance infanto-juvenil com pendor histórico.

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