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Elio Leal – um aficionado no Canadá

Elio leal nasceu na ilha Terceira, nos Açores, mas emigrou para o Canadá há 41 anos. Quando deu o salto tinha 18 anos e no bolso trazia 250 dólares. O seu primeiro emprego foi numa fábrica de perfumes.

“O meu primeiro emprego no Canadá foi numa fábrica de perfumes, de champôs e de sprays. Nesse tempo ganhava $2.85 à hora a empacar caixas de cartão. Vê lá aos anos que isto foi. Depois fui trabalhar para a construção civil onde comecei a $6.70. Já viste a diferença”, contou.

Elio tem um casal de filhos e quando nos recebeu fez questão de fazer a entrevista com o neto ao colo. Os filhos já não montam e o neto é a grande esperança deste aficionado. “No próximo ano faço 60, mas gostava de ver o meu neto a montar a cavalo ou a tourear uma novilha. Esse ia ser um dos dias mais felizes da minha vida, nem que fosse só uma vez. A minha filha tinha muito jeito para montar a cavalo, mas a dada altura deixou de se importar. O meu filho montava quase todos os dias, mas quando tinha seis anos teve uma queda e nunca mais quis montar”, explicou.

Em 1996 começou a trabalhar por conta própria e fundou, com a ajuda de sócios, uma empresa de construção civil voltada para a reabilitação de exteriores. “Eu e um dos meus colegas queríamos abrir a nossa empresa, mas não tínhamos dinheiro e então arranjámos um sócio calado, silent partner, como se diz em inglês, ele também não tinha dinheiro, mas tinha propriedades e então ele foi o nosso fiador no banco e acabámos por conseguir levantar 200 mil dólares naquela época. Mas durante seis meses não trouxe um único cheque para casa”, explicou.

O negócio corre bem e em 2005 cria outra empresa, mas desta vez dedicada à reabilitação de interiores. É neste mesmo ano que nasce uma das suas maiores paixões, a Ganadaria Sol e Toiros. Esta ganadaria já realizou várias corridas de praça e touradas à corda em Ontário e é presença assídua na parada de Portugal em Toronto.

“Normalmente participamos todos os anos, acho que é importante todos os portugueses se envolverem porque Portugal foi o país onde nascemos. Gosto muito de ir na parada e levo sempre um cavalo. Mas este ano levámos cinco”, avançou.

Oferta de compra irrecusável

A ganadaria começou por instalar-se em Dundalk, a cerca de 140 quilómetros de Toronto. Aqui adquiriu cerca de 1500 alqueires e construiu uma praça com capacidade para 3 mil pessoas.

“Tivemos lá mais de dez anos, mas um certo dia recebi uma proposta irrecusável de compra de três irmãos Mennonite. Acabei por vender e logo depois comprei terrenos em Caledon. E ainda bem que o fiz porque se fosse hoje era impossível porque esta área valorizou muito”, disse.

Hoje tem uma exploração com cerca de 200 cabeças de gado e é lá que cria cavalos lusitanos puros. Quando fizemos a reportagem encontrámos uma equipa de veterinários que veio de propósito de Portugal para certificar algumas das crias. Elio garante que a tourada está longe de ser uma atividade rentável e alerta para o desaparecimento dos aficionados.

“Não é fácil porque a tourada só dá prejuízo e cada vez há menos aficionados. Graças a Deus que as minhas empresas dão para alimentar este sonho. Mas não é qualquer pessoa que consegue fazer o que eu faço”, contou.

Apesar do seu esforço em manter esta tradição viva, no Canadá esta prática é muito diferente da tourada da ilha Terceira, nos Açores.

“A tourada à moda Terceira é o comes e bebes, é o quinto toiro. Muitas pessoas vão às tascas e nem vem a cor de um toiro. Mas vão lá para estar com os amigos, beber umas cervejas, comer umas lapas e uns caranguejos. É totalmente diferente daqui”, sublinhou.

Portugueses aficionados estão a desaparecer

O Canadá é pouco aberto a este tipo de tradições, uma postura que Elio diz respeitar porque têm que ser os imigrantes a adaptar-se ao país que adoptam como casa e não o contrário. No entanto o empresário gostava de ver mais portugueses nas suas touradas, mas lá vai dizendo que esta ausência acaba por ser compensada pelos latinos. “Os latinos são muito puros na corrida de praça. Querem ver o toiro ser picado e ser morto. E aqui nem picado quanto mais morto”, afirmou.

O dono da Ganadaria sol e toiros inicialmente defendia a morte dos touros, mas com o tempo já não partilha da mesma opinião. Em 2009 criou com um sócio a Coudelaria Luso-Canadiana, na altura tinham quatro cavalos lusitanos, hoje são cerca de 50. Atualmente o artista é um dos melhores lusitanos portugueses que está com Rui Fernandes, um cavaleiro que encontrámos a treinar em Caledon.

Elio lamenta que as manifestações anti-tourada estejam a crescer e deixa críticas aos que colocam em causa uma tradição tão antiga. “A França foi o primeiro país do mundo a classificar a tourada como património cultural. Depois seguiu-se a Colômbia e agora temos a Espanha. Todos os países com corridas estão a tentar fazer o mesmo. Não sei se concordo com tudo o que se faz aos animais, mas também acho que não é certo acabar com esta tradição. Vou ao Campo Pequeno 4 vezes por ano e as pessoas que estão lá a protestar são pagas para isso”, denuncia.

2.ª maior indústria em Espanha

O empresário alerta para o peso desta indústria em alguns países e acha que acabar com esta tradição é um caminho perigoso. “Depois do futebol, em Espanha, a indústria do toiro é a que mais gera dinheiro para a economia. Se acabarem com o toiro em Portugal vai morrer muita gente à fome”, antecipou.

Elio Leal acorda às 5:30 e termina quase todos os dias às 11 da noite. No futuro quer descansar mais e passar algum tempo na Flórida, onde já tem casa. Até lá espera inaugurar uma praça em Caledon e continuar a manter a tourada viva no Canadá.

 

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