Canadá

“Estamos a tentar garantir que reduzimos a poluição e mantemos a nossa qualidade de vida”

Julie Dzerowicz, MPP Davenport

Em ano de eleições, Trudeau apresentou o seu quarto orçamento que prevê novos gastos em mais de cem áreas diferentes na ordem dos $22,8 mil milhões. Para o ano fiscal de 2019-2020 o governo prevê um deficit de $19,6 mil milhões e uma das grandes novidades é a criação de um imposto sobre a poluição.

 

 

A taxa foi aplicada pela primeira vez na América do Norte, em 2008, na província da Colúmbia Britânica e desde que entrou em vigor as emissões de CO2 caíram entre 5 e 15%. Agora o governo quer que a taxa seja alargada a outras províncias, nomeadamente Ontário, e no primeiro ano vamos pagar $20 por cada tonelada de CO2, aumentando para $50 em 2022.
Esta semana fomos ouvir Julie Dzerowicz, MPP de Davenport, a área que concentra mais portugueses em todo o país e onde o rendimento médio é inferior ao do resto da cidade.

Milénio Stadium: O próximo orçamento chama-se “Investindo na classe média para que a economia canadiana cresça”. Porquê a classe média e não outra qualquer?
Julie Dzerowicz: Este orçamento é a continuação do nosso apoio à classe média do Canadá e à classe trabalhadora, para que tenham a oportunidade de ter salários mais elevados e uma qualidade de vida melhor.
Queremos focar-nos nas questões que são mais problemáticas para a população, como a questão da habitação acessível. O orçamento tenta ainda melhorar as ajudas às pessoas para que possam progredir nos seus conhecimentos sem perderem o emprego.

MS: A Julie representa o bairro onde vivem mais portugueses em todo o país. Quais são as suas reivindicações?
JD: Os portugueses pedem um apoio maior para a demência e por isso introduzimos fundos para um plano nacional. Eles querem também mais programas e apoio para garantir que os mais velhos continuam ativos na comunidade, seja com aulas de arte ou fitness.
Estes programas reduzem o stress familiar e eu própria sei disso porque a minha mãe está em casa e também me preocupo com o seu bem-estar. Conseguimos também mais financiamento para apoiar algumas organizações portuguesas, como por exemplo o Abrigo Centre.
Em Davenport vamos continuar a focar-nos nos jovens e nos idosos. No bairro que represento o rendimento médio é inferior ao do resto da cidade, por isso temos que apoiar mais os jovens para que eles possam ter um começo de vida melhor.

MS: Uma das grandes novidades deste orçamento é a implementação de uma taxa sobre a poluição, com a qual nem todos concordam.
JD: A 1 de abril quando estávamos a implementar o preço sob a poluição, muitos referiram-se à taxa sobre o carbono, mas nós não nos revemos nesse nome porque todo esse dinheiro volta para os canadianos.
Estamos a implementar um preço sob a poluição para que as empresas apostem em inovação e para que a sociedade altere o seu comportamento. Por exemplo, se pagar mais no aquecimento então vai tentar melhorar o isolamento da sua casa para reduzir esse custo. Se pagar mais pela gasolina, a ideia é que use menos o seu carro e procure outras alternativas. Primeiro que tudo, é uma forma de incentivar as pessoas a alterarem o seu comportamento, mas é também uma ação climática para reduzirmos as nossas emissões de CO2.
À medida que o clima se torna mais quente isso tem um efeito em tudo o que faz parte do nosso planeta, aquilo que comemos, a quantidade de água disponível e os padrões meteorológicos extremos, por exemplo.
O Canadá tem de fazer a sua parte, tendo em conta que está a aquecer duas vezes mais rápido do que o resto do mundo. Os Conservadores tentam passar a ideia de que o governo federal está a tentar tirar vantagem das pessoas com o aumento dos preços, mas na realidade estamos a tentar garantir que reduzimos a poluição e mantemos a nossa qualidade de vida.

MS: O Governo quer apoiar a compra de canábis medicinal quando existem problemas de oferta.
JD: O governo vai apoiar, mas queremos que o façam de forma responsável, é como o álcool, não estamos a encorajar as pessoas a beber, mas se o fizerem, queremos que seja uma escolha responsável.
Segundo uma reportagem da CBC, que falava sobre a nova loja de canábis em Yorkville, cinco minutos depois da loja abrir já só tinham 50% do produto. Parece que ainda estamos a lidar com problemas de oferta, mas temos de deixar a província atuar. É um processo muito recente, é normal que surjam problemas.
Mais dinheiro para deportações.

MS: Em relação à imigração, vai ser disponibilizado mais dinheiro para aumentar a segurança nas fronteiras e nos aeroportos.
JD: No contacto que tenho com a comunidade portuguesa, vejo que não se importam com a entrada de pessoas que procuram asilo, desde que os seus casos sejam legítimos. E eu penso que eles têm razão, tínhamos pessoas a atravessar as fronteiras em voos não oficiais. Por isso, decidimos criar mais fundos para investir no sistema de forma a que os processos de quem procura asilo sejam mais rápidos, na esperança de reduzir esse período de 30 meses para 13 meses no próximo ano. E, eventualmente, para quatro meses – isso vai desencorajar as pessoas que não têm motivos legítimos para fazer esse pedido.
E vamos também disponibilizar mais dinheiro para as deportações. Se existem famílias no Canadá que têm trabalho e filhos, e que foram apanhadas neste novo sistema de deportações, elas devem dirigir-se ao seu MPP e ele talvez as possa ajudar.

MS: Numa altura em que as fake news são uma preocupação global, o governo disponibiliza mais dinheiro para os media.
JD: Estamos a tentar apoiar o jornalismo independente canadiano e étnico, mas depende de quantos pontos têm e se são registados, queremos continuar a apoiar o jornalismo a nível local.
Relativamente à questão das “fake news”, e sobretudo com o aproximar das eleições federais, estamos a tentar monitorizar essa questão online. Queremos ponderar o que podemos fazer com o Facebook, Twitter, Instagram e YouTube, para garantir que não são divulgados pensamentos extremistas e violentos e, caso estas plataformas não nos protejam, então o governo tem de encontrar uma forma de responsabilizar os protagonistas.
É importante educar a sociedade e garantir que não existem interferências no nosso sistema político. Quando identificarmos ódio e violência vamos garantir que são tomadas ações contra esses indivíduos, e no orçamento estão incluídos 45 milhões de dólares para combater estes crimes.

MS: Na área da saúde vão canalizar mais verbas para a Drug Agency e para doenças raras.
JD: Esse é um dos principais temas para as pessoas mais idosas porque a maioria tem acesso aos medicamentos que precisam, mas não a todos. Os rendimentos que têm são limitados e a sua qualidade de vida depende do acesso a esses medicamentos.
A nível nacional, estamos a tentar assegurar que os medicamentos estejam disponíveis em todas as províncias. Além disso, estamos a tentar reduzir o preço e a torná-lo igual nas diferentes províncias.
E ainda, um milhão de dólares será destinado a doenças raras, uma vez que muita gente que se encontra nessa condição não tem acesso aos medicamentos. Para garantir o sucesso desta medida, criámos um departamento de transição.

MS: Acha que o caso SNC-Lavalin irá afetar os Liberais nas eleições federais e que leitura é que faz deste caso quem tem dominado a agenda mediática do país.
JD: Certamente! Muita gente não considera que Trudeau tenha feito alguma coisa errada, no entanto, não estão satisfeitos com a forma como o Governo agiu porque demorou demasiado tempo a lidar com o assunto.
Contudo, existe um mal-entendido em relação a este caso. Pensam que o Governo está a tentar interferir de forma a encobrir as ações fraudulentas do SNC Lavalin, o que não é verdade. As acusações contra o Primeiro-Ministro devem-se a considerarem que houve uma interferência imprópria na decisão do Procurador-Geral relativamente ao acordo de acusação. Eles terão de ser responsabilizados, quer seja através de um acordo de acusação ou através do tribunal.
Vejam a gravação do Michael Wernick e Jody Wilson-Raybould, que tenta explicar que o Primeiro-Ministro quer garantir que o Governo considera todas as hipóteses, para garantir que aqueles que não são responsáveis pela infração não acabem por sofrer consequências. A empresa deve pagar pelo seu erro, mas queremos garantir que tentamos minimizar o impacto para os empregados e clientes.
Existem duas perspetivas diferentes sobre aquilo que um Procurador-Geral pode e deve fazer e por isso recomendo que as pessoas recorram a várias fontes de informação.

MS: Alguns críticos consideram que o Governo está a gastar demasiado dinheiro.
JD: O Canadá tem o melhor balance sheet, o que significa que a nossa economia está a crescer mais do que as nossas dívidas. A nossa economia tem superado a de todos os países do G7 desde 2014 e as nossas taxas de desemprego são as mais baixas dos últimos 20 anos.
Em 2018 o nosso Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,8%, estamos a investir em infraestruturas e pessoas, estamos a apostar nas áreas certas.

Entrevista Joana Leal
Tradução Inês Carpinteiro

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