Canadá

The North, Strong and Free?

Vinte e quatro anos de cooperação económica entre o Canadá, México e Estados Unidos da América através da NAFTA são hoje postos à prova. Já antes de ser eleito, Donald Trump deixava bem claro quais as suas prioridades e no topo da lista está o engrandecimento dos Estados Unidos da América como uma nação livre de todos os compromissos multilaterais, focada apenas no seu beneficio pessoal.

Durante este ano e meio, a verdade é que tem cumprido muitas das suas promessas. Já abandonou o Acordo Nuclear com o Irão e o Acordo de Paris porque prejudicava os seus interesses económicos e é também conhecido o seu cepticismo em relação às alterações climáticas. Mais recentemente, abandonou o Conselho de Direitos Humanos da ONU porque considera essa instituição hipócrita pela atitude anti-Israel. E por fim, abriu uma guerra comercial com os seus aliados, onde o foco tem sido a tensão pública entre Trudeau e Trump.

Tudo começou quando os EUA suspenderam a isenção de direitos de importação de aço e alumínio da União Europeia, México e Canadá, ficando sujeitos a tarifas de importação de 25% e 10%. Trudeau afirmou publicamente que o aumento das tarifas por motivos de segurança representava um insulto à sua aliança, já Trump considera que os impostos que os canadianos impunham sobre produtos americanos como ovos, aves e laticínios eram a prova de que os acordos multilaterais não beneficiavam os EUA. A troca acesa de insultos entre o líder Canadiano e Donald Trump descrevem uma nova era, em que os conflitos pessoais são maiores que a relação entre os próprios países que representam, tornando a política internacional mais instável e imprevisível. Quando o sentido de aliança não está tão integrado existe um maior desafio para a sobrevivência das organizações internacionais.

A ação americana foi também fortemente contestada pelos lideres europeus que prometem seguir o mesmo caminho do governo canadiano, que retaliou impondo também impostos mais elevados aos bens dos americanos. O aumento dos impostos nos produtos americanos foi feito de forma estratégica para que afetasse determinados Estados, gerando tensão económica e pressão politica devido ao seu papel fundamental nas próximas eleições. A lógica é que: ao aumentar os impostos nesses produtos, as indústrias que os produzem irão fazer pressão junto do poder politico, já que existe um sentimento de instabilidade no seu trabalho. Ao mesmo tempo, as empresas canadianas que competem com o mesmo produto, poderão ver um aumento nas suas receitas por apresentarem um produto mais barato.

De qualquer forma, num mundo económico globalizado e interdependente, este passo em direção ao nacionalismo económico é bastante arriscado, principalmente para o consumidor já que são postos em causa os seus postos de trabalho e poder de compra. O líder dos Estados Unidos quer garantir que os seus pares não têm vantagens económicas sobre os EUA, mas não se pode dar ao luxo de quebrar todas as suas cooperações económicas. E por isso, tentou formar um acordo bilateral com o governo canadiano, que recusou.

O fim da NAFTA teria provavelmente um impacto maior no México e no Canadá do que nos EUA, não fosse o último ter entrado também em guerra comercial com a União Europeia e a China. Apesar disso, a importância da relação entre os EUA e Canadá não pode ser desvalorizada, a nível de importação e exportação o país vizinho tem um peso elevado na economia canadiana. Se as políticas isolacionistas são apenas uma característica do governo de Trump ou se estão cá para ficar, não sabemos, mas não existe melhor altura para perseguir o desenvolvimento das parcerias económicas. Agora que os EUA viraram as costas aos seus parceiros económicos, o Canadá pode apresentar-se como uma alternativa e ganha um maior poder de negociação. Do que tenho conhecimento, parece que esse primeiro passo já foi dado com a criação do CETA (2017) com a União Europeia, representando novas oportunidades de exportação com a redução dos impostos, ainda que só esteja em vigor provisoriamente.

A garantia da sua independência económica serve também como passe para a sua independência política. Se por um lado, a procura de novas parcerias com a Europa e Ásia seria uma mais valia para a economia. Por outro, as trocas comerciais do Canadá deixariam de ser continentais e passariam a ser globais… um novo desafio para as questões de transporte e logística, devendo o seu foco ser produtos de deslocamento fácil, rápido e com baixos custos.

Com este conflito comercial de desfecho imprevisível, o Partido Liberal põe também em causa o seu próprio sucesso. Os Liberais têm um programa com foco sobretudo em projetos sociais que exigem um grande investimento, se a guerra comercial afetar fortemente a economia, será difícil cumprir o prometido, aumentando o descontentamento do eleitorado e diminuindo a probabilidade de ser reeleito.

Será a atitude desafiadora de Trudeau o inicio de um Canadá mais politico e económico ou um passo maior que a perna? Só o tempo o dirá.

Inês Carpinteiro

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