Canadá

Novos professores têm de passar teste em matemática

O plano do governo de Ontário para reestruturar o currículo de matemática da província é o mais recente de uma série de tentativas de 20 anos para melhorar o desempenho dos alunos nesta disciplina. O Premier anunciou na semana passada que os novos professores vão ter de passar num teste de matemática antes de estarem aptos a ensinar na província. O objectivo é preparar melhor os professores e tentar melhorar o desempenho dos alunos na disciplina.

O Milénio Stadium tentou ouvir o Ontario Teacher’s Federation, que não aceitou prestar declarações, mas conseguimos chegar à fala com o Elementary Teacher’s Federation of Ontario (EFTO). Em entrevista exclusiva ao nosso jornal, Sam Hammond, presidente do EFTO, admitiu que não concorda com a decisão de Ford. “Não sabemos o que o governo espera resolver com a imposição deste teste. Achamos que eles estão a colocar a carroça à frente dos bois porque eles lançaram a consulta na província e estão a colocar várias questões sobre a matemática e sobre o Education Quality and Accountability Office (EQAO). Os nossos professores são profissionais e os quatro anos de universidade com os dois de especialização são consistentes com os das outras províncias”, sugeriu.

O sindicato, que representa cerca de 83,000 mil professores do ensino primário em toda a província de Ontário, esperava que o governo aguardasse pelos resultados desta consulta antes de tomar qualquer decisão, “até porque não há numa ligação real entre o teste de matemática e a melhoria dos resultados na disciplina. Em vez deste teste os professores poderiam dedicar mais tempo à matemática durante a sua formação ou o governo poderia disponibilizar mais programas para que os professores desenvolvessem novos métodos pedagógicos”, explicou.

O governo Liberal investiu em 2016 dezenas de milhões de dólares para que os professores adquirissem mais conhecimentos em várias áreas e a matemática foi uma das contempladas. “Mais de 10,000 professores em Ontário fizeram estes cursos e gostávamos que o governo tivesse continuado a apoiá-los, teria feito muito mais sentido do que criar agora este teste. Nós precisamos de $15,000,000,000 para dar continuidade a estes programas. Os especialistas e o próprio OISE (Ontario Institute for Studies in Education) concordam que este teste não vai resolver os maus resultados”, assegurou.

Em setembro o Ministério da Educação anunciou um novo guia para ajudar os professores e os pais a ensinarem os alunos do 1.º ao 8.º ano “fórmulas tradicionais e técnicas de memorização”, no entanto o EFTO duvida da sua eficácia. “Achamos que não ajudou em nada, pelo menos foi esse o feedback que tivemos dos professores. Alargou apenas o que já estava no programa, não acreditamos que tenha trazido mudanças drásticas”, disse.

Hammond argumenta que o programa da disciplina tem de ser reformulado e que os temas e os objectivos devem ser revistos e está preocupado com a possibilidade da matemática ser apenas o início. “Estamos apreensivos porque para já é a matemática, mas não sabemos se será alargado às ciências, à tecnologia ou às engenharias que normalmente são as áreas onde os alunos apresentam mais dificuldades”, sublinhou.

Recentemente o Ministério da Educação decidiu tirar a licença aos professores que abusaram sexualmente de alunos e reformulou o programa de educação sexual nas escolas. No entanto o EFTO tem uma posição muito crítica sobre esta alteração de programa. “Estamos em retrocesso porque só para terem uma noção o governo acabou com o programa de 2015 e uma das secções – a Healthy Living – foi escrita em 1998. Já avançámos com um processo e estamos a aguardar que o Ontario Superior Court decida manter o programa de 2015 em vigor”, justificou.

 

O que dizem os pais

 Alice Ávila tem duas filhas que frequentam a St. Helen Catholic School, uma escola localizada na baixa de Toronto, que tem cerca de 500 alunos, desde o jardim de infância até ao 8.º ano.

Beatriz frequenta o 1.º ano e Yasmin o 8.º ano. Em declarações ao nosso jornal, a mãe admitiu que está dividida com a proposta de Ford. “Por um lado, acho que o governo tem de regulamentar o ensino e perceber se realmente os professores têm os conhecimentos necessários para lecionar a disciplina. No entanto, percebo que os professores se sintam insultados porque de certa forma eles já deveriam sair qualificados da universidade”, disse.

Alice quer um ensino mais prático e menos teórico e acha que as notas dos alunos poderiam melhorar se “a matemática fosse introduzida de uma forma prática, isto é, com exemplos concretos do dia-a-dia”. A introdução de novos métodos e de novas ferramentas de ensino também poderiam contribuir para aumentar o interesse dos alunos. “Por exemplo este ano a Yasmin começou a usar o Google Classroom, uma ferramenta gratuita que disponibiliza online a matéria que foi dada na aula. O objectivo é diminuir o uso do papel e partilhar informação entre alunos e professores. Além do mais permite a nós pais estarmos actualizados sobre o que os nossos filhos estão a aprender”, avançou.

Mãe e empresária de profissão, Alice acredita que alguns professores possam estar com uma grande carga horária e sugere que os melhores professores deveriam ser premiados. “Acho que se eles fossem premiados poderiam sentir-se mais motivados para fazer o seu trabalho na sala de aula”, sugeriu. As filhas passam seis horas por dia na escola e a matemática ocupa uma hora diária e Alice é uma mãe muito atenta. “Faço questão de me apresentar e trocar contato com os professores das minhas filhas. Acho que é importante porque afinal de contas elas passam muito tempo na escola”, explicou.

Teresa Branco tem três filhos e só a mais nova é que pode vir a ser afectada pela proposta de Ford. Carolina tem 13 anos e está no 8.º ano na St. Matthews School. Teresa é formada em Contabilidade e Administração pelo ISCAL de Lisboa, já deu explicações de matemática e não compreende os maus resultados. “É uma disciplina fácil de estudar porque basta apenas fazer exercícios e é fundamental para o futuro porque está presente na nossa vida diariamente. É por isso que defendo que a calculadora deveria ser pouco usada até ao 12.º ano para que os alunos treinassem a mente com cálculos mentais. A Carolina não tem calculadora, mas o professor não concordou com a minha decisão”, confessou.

Teresa não concorda com a introdução do teste que o governo quer pôr em prática. “Os professores não são incompetentes, se concluem um curso é porque estão aptos a ensinar. Não vai ser um novo teste que vai transformá-los em bons profissionais. Penso que o governo só está a tentar encontrar um culpado para os maus resultados da matemática e os resultados não vão melhorar com esta medida”, contou.

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