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Portugueses deixam por trocar 47 milhões em notas de escudo

29 de dezembro é o último dia para trocar algumas notas de escudo por euros. Das que prescrevem, há quatro milhões guardadas.

Não era um tesouro, mas quase. Paulo Sá ficou admirado quando viu a quantidade de notas de escudo que o pai tinha guardado. Habituado a pôr a mão na massa, o bancário de Cascais não teve dúvidas sobre o destino a dar à herança. Entrou no Banco de Portugal com escudos e saiu de lá com euros. “Não faço coleção. Troquei tudo o que consegui”, conta ao DN/Dinheiro Vivo. A carteira veio recheada, mas lá no meio restavam algumas dezenas de contos, já fora do prazo.

É o que vai acontecer na próxima segunda-feira, 1 de janeiro, a 4,2 milhões de notas de escudo que os portugueses mantêm em casa. As cinco chapas que prescrevem já no início de 2018 equivalem a 46,6 milhões de euros, segundo dados do Banco de Portugal revelados ao DN/Dinheiro Vivo.

Se é dos que deixaram as trocas para o último minuto, tome nota. Egas Moniz (dez mil escudos), Antero de Quental (cinco mil escudos), Bartolomeu Dias (dois mil escudos) e Teófilo Braga (mil escudos) são os rostos que tem de pro- curar no baú, caso ainda queira optar pelo câmbio em euros. O fim do prazo para a troca significa que estas foram as notas que deixaram de circular há exatamente 20 anos.

No fundo das gavetas das famílias portuguesas, são as notas de mil escudos as que ocupam mais espaço. No final de novembro, estavam guardadas 2,7 milhões de notas de “mil paus”, o equivalente a mais de 13 milhões de euros. Seguem-se as verdes de cinco contos. Mais de 700 mil notas, ou 18 milhões de euros, nunca deram entrada nos cofres do Banco de Portugal, quando em 2002 a moeda própria deu lugar à moeda única. Dos bilhetes de dez mil escudos desta série que agora finda sobram apenas 200 mil, quase dez milhões de euros.

Mas a contagem não acaba aqui. Seja por nostalgia ou colecionismo, a verdade é que os portugueses ainda têm em casa uma verdadeira arca do tesouro do anos 80 e 90. A partir do próximo dia 1 de janeiro, só restam seis chapas de notas de escudo que ainda vão poder ser trocadas, progressivamente, até 1 de março de 2022. Destas, há 15,3 milhões de exemplares que estão na posse do público. São notas de dez, cinco, dois e mil escudos, e até uma de quinhentos, que equivalem a 107,1 milhões de euros, nas contas da instituição liderada por Carlos Costa.

A próxima a prescrever será a de 500 escudos com a efígie de Mouzinho da Silveira. Tem até 1 de maio do próximo ano para trocá-la. Como? “Nas tesourarias do Banco de Portugal até ao dia útil anterior à data de prescrição.” Porém, “na impossibilidade de troca presencial, pode enviar o numerário por correio registado, com valor declarado”, para as instalações do banco, no Carregado (ver caixa).

Ou seja, para as cinco notas de escudo que prescrevem a 1 de janeiro de 2018 tem até dia 29 de dezembro, a próxima sexta-feira, inclusive, para as trocar junto do Banco de Portugal.

Vale a pena trocar?

Entre os colecionadores reina uma certeza. Quem, ao fim de 15 anos, não trocou as notas, é pouco provável que ainda venha a fazê-lo. Os números do supervisor da banca parecem confirmar a teoria. Em 2014, foram trocadas pelo Banco de Portugal 83 mil notas no total. Em 2015, o montante caiu para as 75 mil notas e já no ano passado os balcões da instituição receberam apenas 73 mil notas de escudo, no valor total de 1,1 milhões de euros. No final desse ano, restavam na posse do público 19,6 milhões de notas. Hoje, sobram 19,5 milhões de exemplares.

“As notas que circularam e têm marcas de uso devem ser trocadas. A não ser que as pessoas queiram guardá-las como recordação. Se foram guardadas com o objetivo de ganhar dinheiro com elas no futuro, as pessoas podem esquecer essa ideia. Essas notas não têm qualquer valor numismático. Existem muitas”, sublinha Rui Monteiro, colecionador e secretário da Associação Nacional de Numismática, em declarações ao DN/DV.

Nas plataformas de vendas online, como o OLX ou o eBay, são aos milhares as notas de escudo disponíveis para venda. Há utilizadores, como Paulo Sá, que pedem 50 euros por uma nota de cinco mil escudos com a efígie de António Sérgio “que nunca circulou”. “Dei uma vista de olhos por outros anúncios e coloquei um preço idêntico. Tenho tido alguns interessados”, revela o bancário.

Também há quem arrisque pedir 150 euros por uma nota de dez contos “como nova” com a figura de Egas Moniz, precisamente um dos exemplares que podem ser trocados até sexta-feira no Banco de Portugal. “Uma coisa é haver notas à venda, outra coisa é haver compradores para elas”, destaca Rui Monteiro. O especialista alerta para os “valores especulativos” que surgem no mercado. “Um dia mais tarde os herdeiros vão vender e têm uma má surpresa, porque, em vez de ganharem dinheiro, perdem.”

E no resto da Europa?

Os portugueses não são os únicos cidadãos da zona euro descuidados ou saudosistas. De acordo com os bancos centrais dos países que adotaram a moeda única, há mais de 15 mil milhões de euros espalhados pelo Velho Continente, em notas e moedas, que ainda não foram trocados. Desse bolo, pelo menos cinco mil milhões já não vão a tempo da troca. Quase metade, perto de 6,5 mil milhões de euros, ficou na Alemanha e conta-se em marcos. Só que, ao contrário do que acontece em Portugal, o banco central alemão não estabeleceu um prazo-limite para o câmbio de notas. O mesmo acontece em outros nove países como Bélgica, Estónia, Irlanda, Letónia, Lituânia, Luxemburgo ou Áustria.

Entre os 19 países da zona euro, Portugal surge em décimo lugar na lista dos maiores guardiões de dinheiro antigo. França e Espanha fecham o pódio.

É na troca de moedas que os bancos centrais colocam mais entraves. Em seis países o prazo é ilimitado, mas, nos restantes, só Espanha ainda permite o câmbio de pesetas. Em Portugal, o prazo para trocar moedas de escudo terminou logo em dezembro de 2002.

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