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Police in riot gear react to demonstrators as they gather to protest the death of George Floyd near the White House in Washington on Sunday, May 31, 2020. (Photo by Caroline Brehman/CQ-Roll Call, Inc via Getty Images)

Com o despertar dos protestos contra a discriminação racial a que temos assistido nos últimos tempos, cada vez mais agentes da polícia estão a ser identificados em atos de abuso de poder. As estatísticas de inúmeros países dizem que a maior percentagem de vítimas de violência policial são pessoas de comunidades negras ou indígenas, o que levanta grandes dúvidas sobre os princípios éticos destes profissionais. Esta semana o jornal Milénio Stadium abordou a comunidade para saber mais sobre os seus pontos de vista relativamente a este tópico, desde o abuso de poder a iniciativas como a “defund the police”, que compreende propostas de cortes nos financiamentos das autoridades.

 

Rui Moreno, 27

Milénio Stadium: Conhece ou já assistiu a algum caso de abuso de poder policial?

Rui Moreno: Nunca assisti pessoalmente mas conheço várias pessoas que foram vítimas de abuso policial. Não tem que ver com racismo, mas são pessoas que conheço.

MS: Sente confiança nas autoridades? Porquê?

RM: Pessoalmente nunca tive nenhuma razão de queixa, mas de modo geral sinto-me confiante e sinto-me protegido. Normalmente não existem crimes significativos a que nós estejamos expostos, que estejam visíveis. Relativamente aos grupos minoritários, eu nunca vi desigualdade, talvez por eu ser branco, nunca vi essa desigualdade de tratamento. Os números sendo altos em minorias pode depender muito da classe em que essas minorias estão incluídas e de outros fatores. Não se pode tirar conclusões apenas de números.

MS: O que pensa sobre o movimento “defund the police” (cortar no financiamento à polícia)?

RM: A iniciativa é contraditória em muitos dos discursos dos apoiantes, principalmente daqueles que dizem que a polícia precisa de formação e de educação e que se devem cortar os financiamentos para apoiar outras entidades que precisam mais. Não sou contra o “defunding”, até porque a polícia tem muitos fundos que são perdidos antes de chegarem a algum lado, como qualquer outra entidade pública, mas acredito que o “defunding” não é a resposta àquilo que as pessoas querem.


Jennifer Fernandes, 39

Milénio Stadium: Conhece ou já assistiu a algum caso de abuso de poder policial?

Jennifer Fernandes: Sim, eu conheço alguém que teve um problema doméstico, teve que ir a tribunal e o polícia quando estava a falar com o juiz disse coisas que nunca aconteceram. Ou seja, ele literalmente mentiu perante a justiça para ter a certeza que não era mais incomodado por aquela pessoa.

MS: Sente confiança nas autoridades? Porquê?

JF: Nas autoridades da minha área sim, até porque nunca houve problemas a esse nível. Mas em geral e quando se trata de minorias eu não me sinto segura por eles ou por mim mesma. Existem injustiças sim, só que não são suficientemente divulgadas.

MS: O que teria que mudar para conciliar a autoridade com o respeito pelos cidadãos?

JF: Fazer uma reforma seria um bom ponto de partida para chegar onde queremos. Treinar a polícia, mudar os critérios de admissão para poder entrar nas forças policiais. Há outros países onde existem outros requerimentos e acho que devíamos olhar para outros sistemas, ver o que funciona e ver se podemos incorporar algo assim. Também acho que a polícia tem muito nas suas mãos. Eles lidam com casos de doenças mentais, problemas que as pessoas não conseguem controlar… e nesses casos não era a polícia que devia ser chamada. Devia ser um profissional específico.

MS: O que pensa sobre o movimento “defund the police” (cortar no financiamento à polícia)?

JF: Nós estamos sempre a pôr mais dinheiro na polícia para nossa proteção, mas não acho que seja necessário militarizar o sistema. Por isso eu defendo que se deve redirecionar parte dos fundos para outras áreas.


Paulo Lopes, 33

Milénio Stadium: Conhece ou já assistiu a algum caso de abuso de poder policial?

Paulo Lopes: No meu caso conheço mais assédio, mas já testemunhei com amigos, já ouvi histórias de amigos… e depois conheço as histórias que vemos pela televisão. Alguns casos têm que ver com racismo e outros não. São ambos.

MS: Sente confiança nas autoridades? Porquê?

PL: Sim e não. Muitas das vezes aquela farda azul que os policiais usam dá-lhes um superpoder. Abusam do poder que têm e abusam do cidadão, independentemente de serem negros ou brancos. Nem todos os policiais são maus, há policiais bons. Então sim, sinto alguma confiança, mas também acho que o sistema judicial não trabalha a favor das minorias.

MS: O que teria que mudar para conciliar a autoridade com o respeito pelos cidadãos?

PL: O sistema judicial precisaria de uma reforma. As minorias não têm dinheiro muitas vezes para se defender. Precisas de ter um bom advogado, o teu caso tem de ser convincente. Contam-se os casos em que os policiais foram responsabilizados por abuso de poder e brutalidade. Também é preciso educação, e não é só académica. Os policiais têm que saber lidar com as minorias, com as pessoas que vivem nas áreas suburbanas.

MS: O que pensa sobre o movimento “defund the police” (cortar no financiamento à polícia)?

PL: Algumas pessoas acreditam até que a polícia deve ser abolida completamente. Eu não concordo. Concordo na questão que do dinheiro que está a ser alocado para a polícia, milhões e milhões, podia-se cortar uma fatia e investir em pessoas especializadas em saúde mental, trabalhadores sociais. “Defund the police” não quer dizer que têm que acabar com a polícia. Apenas significa alocar partes de dinheiro que podem ir para áreas mais importantes.


Carla Teixeira, 27

Milénio Stadium: Conhece ou já assistiu a algum caso de abuso de poder policial?

Carla Teixeira: Nunca assisti, nunca aconteceu com pessoas próximas, mas sei que existe e agora, mais do que nunca, tenho obviamente estado muito atenta ao que se passa no mundo e percebo que acontece com demasiada frequência.

MS: Sente confiança nas autoridades? Porquê?

CT: Sinto confiança no profissionalismo deles em relação a mim porque sou caucasiana, sinceramente se fosse de outra raça acho que ia estar sempre de pé atrás ou com medo que algo acontecesse a um filho meu. Acho que, independentemente de qualquer coisa, a polícia devia ser vista com respeito e não com medo. Devia transmitir segurança e não medo. Devia ser capaz de controlar situações pacíficas de forma pacífica – e isso nem sempre acontece. Sei que é difícil controlar alguns casos de desacato à autoridade, sei que casos de violência são difíceis de controlar, mas por isso é que são polícias a controlar e não um cidadão comum – deviam ter treino especifico para cada situação e, acima de tudo, respeitar qualquer pessoa, da mesma forma que exigem respeito.

MS: O que teria que mudar para conciliar a autoridade com o respeito pelos cidadãos?

CT: Eu acredito que a autoridade pode ser exercida com respeito. Educação, princípios, valores – tudo isso pode ser aliado à autoridade. O cidadão tem que saber respeitar a autoridade, mas a polícia tem que saber respeitar o cidadão para conquistar autoridade de forma pacífica. Claro que nem sempre será assim tão linear, não vivemos num mundo cor-de-rosa, mas esta é a minha opinião de uma forma geral.

MS: O que pensa sobre o movimento “defund the police” (cortar no financiamento à polícia)?

CT: Acho que o orçamento deve ser analisado, muito bem avaliado, não sei se o ideal será 10% como se fala, pode ser menos ou até mais, mas é um assunto sério e que deve ser tratado com a seriedade que exige pela Câmara Municipal de Toronto – porque somos nós, contribuintes daqui, que pagamos esses mil milhões que são atribuídos à polícia, portanto acho que o Governo Provincial devia deixar esse assunto da gestão do orçamento nas mãos da cidade de Toronto para uma análise mais próxima.


Carolina Barros, 31

Milénio Stadium: Conhece ou já assistiu a algum caso de abuso de poder policial?

Carolina Barros: Nunca conheci alguém próximo que tivesse sofrido qualquer tipo de acao violência policial. Eu ainda sou nova aqui no país (Canadá) e por isso talvez ainda não tenha presenciado.

MS: Sente confiança nas autoridades? Porquê?

CB: Eu sinto confiança porque vim de um país com uma estrutura política muito mais fraca, com uma estrutura policial muito mais fraca. Então a minha base e o meu padrão de sistema policial ainda é muito pobre e tem muita corrupção. Como o meu padrão é muito abaixo, aqui o Canadá é perfeito. Por isso qualquer país que é de primeiro mundo vai com certeza me despertar essa sensação de segurança.

MS: O que teria de mudar para conciliar a autoridade com o respeito pelos cidadãos?

CB: Deveria haver mais informação. Quanto mais conhecimento e diálogo existir entre essas duas polariades, maior é a chance de haver uma harmonia e conciliação. Deve haver mais informação, diálogo e conhecimento sobre os direitos e deveres das duas partes.

MS: O que pensa sobre o movimento “defund the police” (cortar no financiamento à polícia)?

CB: Eu sinceramente não tenho muito conhecimento sobre esta iniciativa e não sei exatamente do que se trata para poder responder.


Silvino Pinto, 52

Milénio Stadium: Conhece ou já assistiu a algum caso de abuso de poder policial?

Silvino Pinto: Nunca presenciei abuso de poder que tivesse que ver com racismo mas já aconteceu comigo e outras pessoas que conheço situações injustas e em que policiais foram provocadores. Usaram a autoridade simplesmente para mostrarem que são superiores.

MS: Sente confiança nas autoridades? Porquê?

SP: Depende das situações. Muitos polícias são bons profissionais mas também sabemos que outros se aproveitam da farda para abusar do seu poder. E nós cidadãos não temos o que fazer perante policias agressivos, até porque qualquer reação contra a agressão pode ser motivo para eles alegarem desacato e, quem sabe, te prenderem ou pior.

MS: O que teria que mudar para conciliar a autoridade com o respeito pelos cidadãos?

SP: Penso que o cidadão deveria ter uma lei ou uma instituição a quem pudesse recorrer quando estes casos acontecem.

MS: O que pensa sobre o movimento “defund the police” (cortar no financiamento à polícia)?

SP: Todos os anos ouvimos falar que a polícia precisa de mais financiamento para combater a criminalidade e o aumento da violência com uso de armas, que é outro problema. É preciso combater estes problemas mas acho que o dinheiro deveria ser para financiar programas sociais, dar melhores condições de habitação, saúde, educação e sociais para construirmos uma sociedade melhor em vez de financiar mais as autoridades.

Telma Pinguelo/MS

 

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