Madeira

PSD de Albuquerque vence sem maioria absoluta

PS mais do que triplica os votos

O sucessor de Alberto João Jardim voltou a triunfar, mas desta vez – pela primeira vez – sem maioria absoluta. O fim das maiorias do PSD na Madeira, após 43 anos, foi a grande notícia da noite de Domingo, a par com o triunfo da bipolarização. Foi uma noite com o credo na boca na sede do PSD-Madeira. Os social democratas já estavam mentalizados para uma vitória com maioria relativa, mas a dado momento a vantagem que traziam das freguesias rurais poderia não ser suficiente para compensar uma eventual vitória por muitos do PS nas freguesias urbanas mais populosas. Afinal, chegou.

Feitas as contas, o PSD-2019 teve apenas menos 121 votos do que o PSD- 2015. Para esse resultado terá sido fundamental o voto dos luso-venezuelanos, e também a reconciliação interna do PSD, que desta vez teve Alberto João Jardim a ajudar a puxar a carroça de Albuquerque.

Garantida a vitória, com 39,4%, Miguel Albuquerque tratou de sinalizar que o acordo para a maioria absoluta se fará com o CDS, com cujo líder disse que já falou. O presidente reeleito do Governo Regional da Madeira não se refugiou em ambiguidades: será uma coligação, com lugares para o CDS na estrutura do Executivo.

Já o PS ganhou em quase toda a linha – mais do que triplicou o número de votos, quase quadruplicou os deputados eleitos. Só não ganhou na contagem que mais interessa: nem foi o partido mais votado nem consegue, em coligação, aplicar na Madeira o método da geringonça.

Paulo Cafôfo ainda fez esse desafio: como o PSD não teve maioria absoluta, o candidato do PS desafiou toda a oposição a juntar-se num governo de “mudança”. Foi o momento mais surreal da noite, pois o “desafio” de Cafôfo foi lançado quando Rui Barreto, o líder do CDS, já tinha declarado a derrota da esquerda, disponibilizando-se para uma coligação com o partido vencedor, o PSD.

Como o bom resultado do PS se deveu em boa medida a uma estratégia bem sucedida de bipolarização, acabou por quase esvaziar os partidos à sua esquerda – ironicamente, com isso limitou as suas hipóteses de uma geringonça, pois já se sabia que o CDS optaria nestas condições por se juntar ao PSD.

Também foi estranho ver o partido que tinha a ambição de conquistar o Governo Regional fazer um comício de rua como se tivesse ganho. “Nós só queremos Cafôfo presidente”, gritavam os apoiantes, sabendo já que Cafôfo não será presidente. Optando pelo comício, o candidato derrotado à presidência do Governo Regional conseguiu, porém, evitar as perguntas dos jornalistas, Foi o único que fez uma declaração sem perguntas.

Em 2015, o CDS surpreendeu ao alcançar o estatuto de segunda força política – valeu-lhe, para isso, um bom resultado, aliado ao descalabro do PS. Agora, não só o PS se recompôs, como o CDS viu fugir boa parte do eleitorado de há quatro anos.

Caiu de sete para três deputados, de mais de 17 mil votos para pouco mais do que oito mil, de 13,7% para 5,7%. A noite tinha tudo para ser um pesadelo na sede do CDS… mas acabou em clima de quase-euforia.

Apesar do desaire, os três deputados do CDS são à justa para a maioria absoluta que o PSD não conseguiu sozinho. Rui Barreto, o líder regional dos centristas, tratou de aproveitar o momento e esclarecer desde a primeira declaração de que lado estará. Não é um pormenor: embora Barreto sempre tenha defendido uma coligação com o PSD, o no2 do CDS-M, José Manuel Rodrigues, chegou a fazer declarações ambíguas, alimentando a hipótese do partido alinhar com o PS numa geringonça. A especulação morreu com a declaração de Barreto, posicionando-se ao lado do PSD e colocando as condições para esse acordo, que será inédito e histórico na democracia madeirense.

O Juntos Pelo Povo (JPP), um movimento de carácter autárquico, com presença concentrada sobretudo no concelho de Santa Cruz, teve um desempenho parecido com o do CDS: passou de cinco para três deputados, perdeu quase metade dos votos e caiu para metade no resultado percentual (5,4% contra 10,2%). Por outro lado, o resultado continua a ser um fenómeno autárquico: 67% dos votos no JPP registam-se no concelho de Santa Cruz, onde o partido domina a Câmara Municipal. Mas, mesmo aí, perdeu mais de mil votos.

Ao contrário do CDS, o JPP não pode sequer celebrar a chegada ao poder – o partido estaria disponível apenas para um acordo com o PS.

Do lado do PCP, foi só na vigésima quinta hora que Edgar Silva pôde suspirar de alívio. O líder regional do PCP foi o último deputado a ser eleito para a Assembleia Legislativa Regional.

O trambolhão em relação a 2015 é indisfarçável. Nesse ano, o PCP teve quase o triplo dos votos e quase o triplo dos deputados. Foram mais de sete mil votos (2577 agora), e por uma unha negra não elegeram três deputados. Agora, Edgar Silva será o representante único dos comunistas.

Tem sido um caminho sempre a descer desde que Edgar Silva se candidatou à Presidência da República pelo PCP. Nessa eleição, conseguiu na Madeira mais de 22 mil votos – Domingo, ficou- se por um décimo disso.

O BE desapareceu do parlamento madeirense, e o PTP também. Há quatro anos os bloquistas aproveitaram bem o descalabro do PS, elegendo dois deputados – agora, foram vítimas do movimento inverso: o voto útil nos socialistas fez mirrar o Bloco para metade.

O PTP, mais conhecido por ser o partido de José Manuel Coelho, já não apresentou o polémico deputado como candidato, mas a sua filha, Raquel. O estilo desabrido e polémico manteve-se, o resultado é que não. Em 2015, integrado numa estranha coligação com o PS, Coelho conseguiu ser eleito; agora, apresentando-se em nome próprio, Raquel Coelho ficou longe da eleição, ultrapassado pelo PAN, pelo PURP e pelo RIR.

Havia a expectativa de que, à semelhança do que se prevê a nível nacional, o PAN conseguisse crescer e surpreender na noite eleitoral. Não se confirmou. O partido, cujo primeiro deputado eleito foi precisamente na Madeira, ainda não se recompôs do erro que lhe custou esse lugar em 2015: ter integrado a bizarra coligação então liderada pelo PS.

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