“Portugal foi convidado a integrar a NATO pela importância estratégica da Base das Lajes, nos Açores, para os norte-americanos”, afirma Daniel Marcos, historiador do Instituto de Políticas e Relações Internacionais, a propósito dos 70 anos da NATO, que hoje se assinala.
“Foi uma situação excepcional, num grupo de países que partilhava valores democráticos. Veja-se como foi recusada a adesão da Espanha, que vivia a ditadura de Franco e apenas integrou a NATO em 1982”, complementou Carlos Gaspar, investigador de Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa.
Para estes analistas, a adesão de Portugal à NATO, em 1949, constituiu uma legitimação internacional do regime salazarista. “Foi bom para o regime e mau para a oposição, que via a ditadura ser reconhecida pela comunidade internacional”, explicou Daniel Marcos.
O historiador mencionou ainda as resistências que se declararam por parte de países como a Noruega, que não aceitaram de bom grado a presença de um membro que não possuía um regime democrático e que não partilhava dos valores fundamentais da organização.
A desconfiança aumentou ainda mais quando Portugal se envolveu na guerra colonial, em África, com a NATO a exigir ao governo de António Salazar que não utilizasse material militar fornecido às Forças Armadas no âmbito da NATO nas missões bélicas em África. Mas a NATO teria um efeito positivo na estabilização da democracia em Portugal, após a revolução de 25 de Abril de 1974, pela influência que teve na profissionalização e organização da estrutura militar que ajudou a implementar o novo regime.
Durante o Período Revolucionário em Curso (PREC), os receios dos restantes membros da NATO prenderam- se com a presença de elementos do Partido Comunista nos governos dos primeiros anos de democracia, temendo que a sua ligação próxima com o Kremlin pudesse servir para passar informação de operações da NATO para o exército soviético, explicou Daniel Marcos.
Mas nos anos seguintes, diz o historiador, a presença de Portugal na NATO serviu para “levar os militares de volta aos quartéis”, no âmbito da função primordial das Forças Armadas na organização internacional. Nas últimas décadas, a NATO tem tido um papel útil para Portugal, ao pressionar o recentramento da estratégia europeia para o Atlântico e para ocidente, segundo Tiago Moreira de Sá, analista de política internacional do Instituto de Políticas e Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa.
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