Açores

“Filha da mãe”

Desrespeitando por completo o eventual fio condutor que, com algum esforço e imaginação, tento cumprir “crónica após crónica”, a verdade é que como sempre acontece, também desta vez não consigo contrariar o que me vai na alma. Perdoem-me por isso os mais atentos, mas hoje a minha “velhota” será o motivo desta não minha, mas nossa, pequena divagação!

Entramos no mês das despedidas, após ter cumprido as suas 66 primaveras e uns meses, tal como ditam as leis. A reforma aproxima-se a uma velocidade estonteante. Recordo-me de ainda há dias lhe dizer: “Calma, ainda falta tanto tempo!”, afinal o tempo, esse grande conselheiro, acabou por voar sem que dessemos por isso.

Quem como eu, sem qualquer hipótese de escolha, passou a ser filha(o) de alguém que opta por um caminho profissional que obriga a alguma exposição pública, entenderá sem hesitação o quão duro, por vezes é, ser-se “filha da mãe”. E se assim é em qualquer parte do mundo, mas particularmente neste cantinho do céu que são os Açores, mais difícil se apresenta este desafio.

E se a tudo isso, ainda acrescentarmos o facto de mãe e filha nem sempre comungarem da mesma opinião, de não içarem a mesma bandeira política, ou de ambas terem exercido a dado momento cargos de confiança, o caldo tem tudo para ficar entornado! Assim nunca foi, felizmente! Sempre soubemos admirar-nos infinitamente por aquilo que somos, mesmo quando em lados opostos de uma mesma luta, respeitando acima de tudo aquilo que nos une!

Bem sei que tudo aquilo que penso, escrevo ou digo, sobre alguém com tamanha importância na minha vida, dificilmente se poderá dissociar do sentimento inerente a qualquer relacionamento entre uma mãe e uma filha, é certo. Mas mesmo tentando silenciar o coração, enfatizando apenas a razão, a verdade é que tenho completa certeza de que a garra, a coragem, a força, a frontalidade, a inquietude, ou até mesmo a irreverência, da deputada do Bloco de Esquerda Açores, farão desmedida falta ao elevar do debate político na Região Autónoma dos Açores. E esta minha certeza, não tem por base nenhum motivo transcendente ou extraordinário, apenas a constatação de que é cada vez mais raro encontrar quem lute por aquilo em que acredita de forma tão destemida, mesmo sabendo que por vezes a verdade trás consigo alguns dissabores.

É quase impossível imaginar essa mulher – minha mãe – à margem de uma luta, seja ela qual for, mesmo consciente de que chegou a altura de desfrutar da reforma, dos netos, dos aniversários a que frequentemente faltava, de alguma serenidade, de uma vida sem despertador (objeto que desde sempre abominou!), de um dia isento de responsabilidades profissionais. Mas mãe, a tua tarefa foi cumprida, cumprida com enorme distinção, e isso deverá ser motivo mais do que suficiente para encarares esta nova (e dura!) fase, com um sorriso nos lábios de rejúbilo, por tudo aquilo que conquistaste dentro e fora da política. Qual professora, qual deputada, qual avó, qual tia, qual mãe… tu és, e sempre serás, uma grande mulher! E eu, para o bem e para o mal, mesmo contigo na reforma, serei sempre e orgulhosamente, a tal filha da mãe!

(Esta será a minha primeira crónica a ser publicada simultaneamente no Açoriano Oriental e no Milénio Stadium, em Toronto.  Aos nossos emigrantes, envio um grande e sentido abraço. Bem hajam!)

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