Açores

Batalha das Limas em ano de adaptação a novas regras

Momentos de muita diversão, confraternização e amizade é o que se espera de mais uma Batalha das Limas, que volta a sair hoje à rua, apesar das críticas que insurgiram contra o uso do plástico.

Neste dia de Carnaval, como tradicionalmente acontece todos os anos, a Avenida Infante D. Henrique vai transformar-se esta tarde num campo de batalha em que a arma de combate é a água. Dezenas de pessoas têm por hábito deslocar-se à cidade de Ponta Delgada para participar nesta iniciativa e, em camiões ou a pé, lutam entre si através do arremesso de sacos e balões cheios de água.

A tradição repete-se um pouco por toda a ilha, havendo quem promova a brincadeira no próprio quintal ou na rua onde moram com balões de água. Mas é na Marginal de Ponta Delgada que a acção ganha maior expressão. Apesar dos esforços do executivo municipal na limpeza das vias após o evento, foram várias as imagens que, em anos anteriores, circularam nas redes sociais a dar conta dos sacos de plásticos que acaba- ram, por exemplo, no mar.

Atendendo às críticas e às preocupações de âmbito ambiental que marcam a agenda, não só regional, como nacional e internacional, a autarquia deliberou impor um conjunto de medidas com vista à redução do impacto ambiental da batalha.

A redução do tempo e perímetro da batalha, a instalação de uma rede de protecção para impedir a poluição do mar, a colaboração das equipas na limpeza do recinto e a proibição do uso de balões de água fora do perímetro estabelecido são algumas das alterações implementadas pelo município, através do projecto Zero Waste PDL, e em parceria com a ARTAC – Associação Regional para a Promoção e Desenvolvimento do Turismo, Ambiente, Cultura e Saúde.

“Falam como se fôssemos os culpados de toda a poluição que existe”

Em declarações ao Diário dos Açores, o responsável da equipa “Sempre Presentes”, cujo camião é dos que participa na batalha há mais tempo, fala que será um ano de adaptação às novas regras. “Vai ser uma batalha das limas normal, mesmo com as regras impostas este ano pela Câmara Municipal. Temos de nos adaptar às novas condições, que têm a ver com o uso do plástico e vamos ajudar a limpar tudo no final”, afirmou Ricardo Possidónio, que, apesar de concordar com a necessidade de proteger o ambiente, falou em extremismos.

“Têm surgido muitas queixas por causa do uso do plástico na batalha, mas, na minha opinião, há quem esteja a levar a questão ao extremo. A batalha é uma iniciativa que dura cerca de três horas, só que as pessoas falam como se fossemos os culpados de toda a poluição que existe”, lamentou.

“Há pessoas a dizer que isto é vandalismo, mas não tem nada a ver”, continuou, acrescentando: “estão a preocupar-se com uma acção que dura cerca de três horas, quando deviam preocupar-se com muitas outras situações que duram o ano inteiro. Pessoas que fumam e põem constantemente as beatas para o chão, por exemplo”, frisou.

Ricardo Possidónio foi ainda mais longe nos exemplos: “Daqui a dias vamos ter as festas em honra do Senhor Santo Cristo e as festas de Espírito Santo. Vamos ver se as pessoas que agora nos criticam se irão manifestar nestas ocasiões, em que o plástico é muito utilizado. Talvez não, porque muitas participam nestas festas…”, sublinhou.

O responsável diz já ter ouvido falar em possíveis alternativas ao uso do plástico, mas pouco plausíveis, na sua opinião. “Já ouvi falar em bisnagas ou seringas para substituir os sacos. Não deixam de ser materiais de plástico… Acho que não são uma boa alternativa”, afirma.

Atracção para os turistas

Ricardo Possidónio participa com amigos “há mais de 30 anos” nestas batalhas no dia de Carnaval e garante que, se depender de si, “a tradição nunca irá acabar”. “Nem que faça uma batalha no meu quintal!”, enfatiza, defendendo o evento como atração turística. “Muitos turistas acham piada e participam connosco na batalha. Até já levei turistas no nosso camião”, aponta.

A equipa dos “Sempre Presentes” é das mais antigas a integrar a batalha, que sairá às 14h30, e o dia de hoje representa o culminar de duas semanas de preparação. “Começámos há cerca de 15 dias. São 100 quilos de sacos. Antes fazíamo-lo na Melo Abreu, mas este ano tivemos que nos deslocar para a freguesia de Santa Clara. Portanto, a freguesia terá este ano duas equipas”, explica. Nesta edição, este grupo de ‘guerreiros’ levará um camião mais pequeno do que o costume, fruto da redução no número de participantes. “Desistiram algumas pessoas, por motivos pessoais, e por isso este ano seremos cerca de 20 participantes, com idades que vão dos 13 aos 45”, revela o responsável, que espera para hoje momentos de muita diversão e amizade.

A batalha de 2020 conta com a participação de nove camiões de oito equipas. São elas os “Santa Canalha” de Santa Clara, os São José “Sempre Presentes”, os “Bombásticos” dos Bombeiros de Ponta Delgada, a par da equipa do Livramento, da Fajã de Baixo, de São Roque, do “Bairro da Lata do Rosário” da Lagoa e “Os Mercenários” do Pico das Canas.

De acordo com a autarquia, as “grandes alterações” impostas este ano – cujo objectivo é, de “forma gradual”, tornar o evento cada vez mais sustentável – são as seguintes: “inscrição dos participantes e transmissão das novas regras de forma presencial; redução do tempo de batalha para metade; redução do perímetro de batalha de 800m para 250m; instalação de uma rede de proteção para impedir a poluição do mar; os participantes inscritos não poderão utilizar balões de água nem combater fora do perímetro de batalha; os participantes inscritos terão de cumprir os horários estabelecidos e participar na limpeza do recinto; os participantes não inscritos serão sensibilizados para colaborarem na limpeza; a CMPD disponibiliza contentores para serem utilizados pelos participantes na limpeza; a CMPD irá monitorizar o evento e verificar se os participantes cumprem as regras; a CMPD irá recusar a inscrição na edição seguinte, às equipas que não cumprirem as regras”.

Em comunicado, o município refere que “o consumo irresponsável de água potável e de plásticos deve ser evitado a todo o custo, como tal, e considerando a persistência dos populares em dar continuidade a este tipo de eventos, bem como a ausência de legislação que impeça este tipo de práticas, não nos resta outra alternativa senão apostar na sensibilização, prevenção e controle de im- pactos, numa perspectiva de fazer o evento progredir para um formato mais sustentável”. “Em suma, e tendo em conta a ausência de outros materiais que permitam realizar a batalha de forma mais sustentável, foi privilegiada a utilização de sacos de plástico, em detrimento das limas e balões, por não fragmentarem e serem mais fáceis de recolher e reciclar”, explica a câmara, que, em conjunto com a ARTAC, lançou ainda um apelo ao Governo Regional: “que as entidades com competência legislativa actuem no sentido de impedir a comercialização destes materiais, bem como a sua utilização irresponsável e desadequada”.

Diário dos Açores

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Diário dos Açores

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