Açores

Açoriano é analista da OCDE para os transportes

“O mundo precisa de ser neutro em carbono até2050 se quiser limitar o aumento do aquecimento global a 2ºC. Facto ou estimativa, certo é que este foi o compromisso assumido no Acordo de Paris, firmado em 2015, e que o mundo está hoje mais longe do objectivo traçado.

Seja qual for a solução, esta tem de envolver governos, empresas e pessoas num “acordo verde” que não crie “santos franciscanos das alterações climáticas”.

O alerta é do açoriano Francisco Furtado, analista da OCDE para a área dos Transportes, durante a conversa com o engenheiro electrotécnico Luís Costa, protagonista da iniciativa Cop ByElectric Car, que visa, no âmbito da 24.ª Cimeira das Nações Unidas para as AlteraçõesClimáticas, chamar a atenção para os temas aquecimento global, sustentabilidade e mobilidade eléctrica — e que o site SAPO24 está a acompanhar, quilómetro a quilómetro, no especial Missão Katowice.

O SAPO 24 relata que, rumo à Polónia ao volante de um carro eléctrico, depois de atravessar Portugal e Espanha, Luís Costa marcou um encontro com Francisco Furtado na sede da OCDE, em Paris.

Apesar de entender a urgência de uma correcção de rumo e de uma aceleração no combate ao aquecimento global — sobretudo depois do alerta recente nas Nações Unidas de que os países

estão a afastar-se do compromisso firmado no Acordo de Paris, o analista alerta para a necessidade de fazer esta transição para uma economia verde sem que os agentes da mudança sintam que estão a pagar o preço sozinhos. “Luís, não sei se tens acompanhado o que se passa aqui emFrança nas últimas semanas (numa referência ao protesto dos “coletes amarelos”, despoletado pelo anúncio de uma taxa sobre os combustíveis, mas que visa denunciar o empobrecimento).

Não se podem fazer políticas contra as pessoas, pedindo-lhes que sejam os santos franciscanos das alterações climáticas. (No combate ao aquecimento global) tem de se encontrar soluções que continuem a garantir que as pessoas mantêm um certo nível de conforto e que a economia funciona, mitigando por outro lado certos excessos que possam ser cometidos”.

Porque, acrescenta, no centro desta transição para uma economia verde há uma questão fundamental: “Quem é que paga? Onde estão os fundos para esta transição e quem é que define as prioridades?” “Tem de haver um grande compromisso que envolva governos e iniciativa privada e que tem de ter o acordo da população, para esta não sentir que está só a pagar e aver a sua vida a andar para trás em nome de realidades que não são assim tão palpáveis, porque ao fim do mês não é facilmente quantificável esta questão do impacto das alterações climáticas”, alerta o analista açoriano, filho do economista e Presidente do Conselho Executivo do Novo Banco dos Açores, Gualter Furtado.

Na reportagem do SAPO 24 Francisco Furtado sublinha que “pode até haver um certo grau de penalização, mas tem de se começar por mostrar às pessoas que têm alternativas viáveis e práticas no seu dia-a-dia. Há certos hábitos que precisam de mudar, como passar a utilizar mais transportes públicos; mas para isso é preciso aumentar a oferta, o conforto e tornar esta alternativa mais apelativa. Eu ando de transportes públicos e há certas horas do dia em que é impossível haver mais gente a usar transportes públicos. Em Portugal não é diferente”.

Por outro lado, “começa a haver restrições acerto tipo de veículos nos centros das cidades, mas é algo que objectivamente não pode ser feito de um dia para o outro, ou do pé para a mão.

Dá-se um prazo, um horizonte. E a esse nível, da mobilidade urbana, já existem soluções alternativas, como o veículo eléctrico o sistema de transportes públicos — que podia ser melhor mas já tem alguma robustez”.

Depois, e ainda no que diz respeito a comportamentos, é preciso também calcular exactamente o impacto que determinado tipo de novas possibilidades, fruto da inovação tecnológica, têm para o ambiente, escreve o SAPO 24.

“Isto do comércio electrónico, por exemplo, está a gerar alguns problemas. É muito confortável clicar no botão e receber em casa uma encomenda. Ainda não existem dados 100% fiáveis, mas, por exemplo, mandas vir dez calças, ficas com duas e devolves as outras com retorno gratuito. O que é que isto significa? Significa que este tipo de modelo vai colocar mais carrinhas a circular, que essas carrinhas têm menos mercadoria lá dentro, logo são precisas mais carrinhas para transportar a mesma quantidade, e depois ainda tens retornos em vazio ou com quantidades muito pequenas. São novas formas de organizar a economia, mas que também estão a ter um impacto na questão das emissões. E os custos destas emissões não estão a ser contabilizados por completo, mas se tivessem sido tomados em conta nesses modelos de negócio talvez eles nem sequer funcionassem desta forma. Mas também te digo, existem soluções, como a definição de pontos de recolha, por exemplo”.

Optimista, Francisco Furtado fala de uma mudança que acontece “paulatinamente”. “Toda a gente vai ter de fazer um compromisso e alterar em parte os seus comportamentos e o seu modelo negócio. O importante é que os vários agentes percebam que os outros estão também comprometidos e que algo está a ser feito, e que não se vai obrigar ninguém a ser o SantoFranciscano das Alterações Climáticas”, defende.

“As empresas precisam de ter incentivos à mudança e a população tem apoiar as medidas (implementadas por governos e instituições). Um estudo recente mostra que para a Europa esta transição ecológica aumentaria o produto interno europeu e os empregos. A Europa é muito dependente dos combustíveis fósseis e se nós não dependêssemos dos combustíveis fósseis conseguíamos, por exemplo, que uma enorme quantidade de riqueza gerada cá ficasse na Europa. O problema é que o retorno não acontece no imediato — no imediato terás de fazer investimento e depois verás o retorno a médio-longo prazo.Há aqui margem de manobra para todos sairmos a ganhar, mas têm de estar todos estes agentes (governos, empresas e população) envolvidos na mudança, conclui oSAPO 24.

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