Portugal

Elevada prevalência de cancro na ilha Terceira Legado americano na base das Lajes?

Humberta Araujo

Durante 75 anos, a ilha Terceira, serviu os interesses dos governos centralistas em Lisboa, que ao abrigo de acordos internacionais “emprestava” a ilha, primeiro aos ingleses e depois aos americanos.
Com os avanços tecnológicos, maior autonomia das aeronaves e cortes orçamentais, a ilha Terceira e a sua base deixou de servir os interesses militares norte- americanos e financeiros nacionais. Os militares e as suas famílias foram deixando a ilha, a partir do anúncio em 2015 do governo americano, que anunciava a retiradade de militares e civis, para poupar anualmente 500 milhões de dólares, montante posto em causa pelo então presidente do município da Praia da Vitória. Roberto Monteiro argumentava que, para a ilha, após terminada a redução de 500 postos de trabalho portugueses e 485 norte-americanos, cerca de duas mil pessoas, um quarto da população ativa do concelho, acabariam no desemprego. O autarca socialista estimava, na altura, uma quebra de 30% no PIB do concelho.
A falta de uma coordenação inteligente por parte das autoridades nacionais e regionais, que em muitos casos não souberam, por ignorância, por fidelidade partidária, ou por falta de capacidade negociativa, levou à precária situação em que a ilha se encontra.
Segundo o governo regional, há que fazer ver aos EUA, a necessidade de serem asseguradas políticas e financiamentos, que dinamizem o investimento privado, e o desenvolvimento das empresas terceirenses. Além disso, “deve ser assegurada a concretização de parcerias estratégicas entre o Governo dos Açores e entidades americanas,” e incentivar a compra por parte dos EUA de produtos regionais, para serem vendidos noutras bases na Europa.
A agravar a situação económica e social, está agora o impasse na solução urgente da descontaminação dos solos. Apesar de há muito, a população se questionar sobre o que se passava realmente no seu território, a verdade é que com o passar dos anos, os americanos poluiram em segredo e a seu bel-prazer. Num estudo realizado pelos militares norte-americanos, foram identificados 35 locais contaminados com hidrocarbonetos e metais pesados. Dados que seriam confirmados em pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC).
A contaminação dos solos e das águas tem sido validada por vários estudos da Universidade dos Açores. De acordo com o professor de Física, Félix Rodrigues, contaminantes como chumbo, cobre e zinco, em alta concentração, entram na cadeia alimentar, acabando por causar problemas de saúde, entre eles, o cancro. “É um inferno que se repete em várias ilhas ocupadas pelos norte-americanos. Os problemas vão-se acumulando e os governos locais não fazem frente”, disse, ao sublinhar que a falta de tomada de soluções práticas por parte dos governantes, pode dever-se à “muita iliteracia científica, e de desconhecimento de muitas relações causa-efeito”.
Segundo algumas fontes, o aumento do número de casos de cancro nas populações da zona – em algumas circunstâncias afetando membros da mesma família – resulta desta contaminação. Só no concelho da Praia, e de acordo com dados públicos, incidem 33% dos casos de cancro ocular e 21% de casos de cancro de colo do útero a nível regional, num concelho que representa apenas 8,5% da população regional.
Nos Açores, a oposição, grupos ambientalistas e o executivo socialista de Vasco Cordeiro, vêm pressionando os governos da república – responsável pelas negociações internacionais – e americano, para que os mesmos paguem a descontaminação dos solos. Algo, que devia no futuro ser acompanhado por indeminizações às vitimas e familiares.
Tal como, em novembro 2017 publicava o Semanario Sol, este parece um jogo do empurra: “Os Estados Unidos não facilitam as verbas para a descontaminação. O Orçamento do Estado do próximo ano (2018) também não. Oposição apresentará proposta de alteração. O governo regional remete para o governo central; o ministro do Ambiente remete para os Negócios Estrangeiros, o PS remete para as negociações com os EUA, Centeno diz que não sabe.” Ainda no final de fevereiro, o atual ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva dizia, em comissão parlamentar dos Negócios Estrangeiros, que não há prevalência de cancro, perto das Lajes.
Uma vez mais, como em tantos anos de utilização das ilhas pelos governos centrais, são os açorianos/as a pagar. Valha-nos a autonomia, que neste caso parece não estar a ganhar muito com um partido em S. Bento, que é da mesma cor, daquele que está na Conceição.

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