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Afinal parece que as contas de Doug Ford Não vão trazer mais $$$ às algibeiras dos contribuintes

Humberta Araujo

As primeiras decisões do “premier” do Ontário, a par da constituição do seu gabinete ministerial, são indícios fortes de que a médio e longo prazo, as decisões tomadas por Doug Ford, e ao contrário do que “martelou” durante a sua campanha, não vão trazer mais dinheiro aos bolsos dos residentes do Ontário, pelo contrário.
Para além de serem remendos fáceis, que podem produzir efeitos práticos, mas muito débeis num curto espaço de tempo, a médio e longo prazo, vão sair caros a todos nós, pondo em causa o futuro dos nossos filhos e filhas. O que estas medidas já começam a mostrar, é que as mesmas mais facilmente beneficiarão as grandes corporações, que fazem lucro à custa do meio ambiente, das populações autóctones, do desenvolvimento social, da igualdade de oportunidades. Em nada favorecem a nova economia, fundamentada no incremento de empresas modernas e sustentáveis, que promovem a salvaguarda dos nossos recursos naturais, e a criação de emprego para as comunidades mais vulneráveis.

As posições aqui trazidas neste artigo, são baseadas em opiniões de especialistas e de pessoas que vão diretamente ser afetadas por muitas destas deliberações populistas e conservadoras de Doug Ford. Uma destas deliberações refere-se à eliminação da chamada “bolsa” do carbono. Esta decisão, ao contrário de ser benéfica para as carteiras dos/as consumidoras, vai sim levar à perca de milhares de dólares, que ao contrário, cairiam sim, direitinhos na bolsa dos contribuintes. Isto porque, esta “bolsa” do carbono, financiava a compra e utilização de sistemas eficientes em energia, ao utilizar as taxas que eram aplicadas às empresas que mais poluíam o meio ambiente. Estes descontos, eram 100% financiados por estas receitas do comércio de carbono.

Na prática, se uma família ou uma empresa quisesse equipar a sua casa ou negócio com um sistema de energia mais eficiente, que ajuda a prevenir o aquecimento global, e a baixar as contas de eletricidade, podia recorrer a apoios do governo do Ontário. Estes subsídios vinham desta “bolsa” do carbono, que era alimentada pelas chamadas licenças para poluir. Estas licenças eram compradas pelas industrias mais poluidoras do Ontário, que assim tinham gastos acrescidos. Com esta medida, não só as industrias começavam a sentir pressão para utilizarem sistemas mais amigos do ambiente e da saúde pública, como se responsabilizam pela mudança, ao financiarem indiretamente os sistemas energéticos dos cidadãos.

O cancelamento do programa é também um golpe para muitas empresas ligadas ao setor das energias renováveis. Em entrevista à Radio Canadá, Azeem Qureshi, presidente da Grasshopper Solar, um importante investidor na aérea da energia solar na província, com 300 funcionários e ativos de 400 milhões de dólares, critica esta medida. “Esse desconto era um enorme incentivo para as pessoas pensarem em mudar e instalar painéis solares em casa ou no telhado das suas empresas”, disse.

Ao nível de emprego, o corte do programa vai obrigar a despedimentos por parte de empresas deste setor, que é essencial para tornarmos as nossas cidades mais amigas do ambiente.
Os municípios desta província correm também o risco de perderem milhões de dólares em dinheiro público, porque tinham adquirido as chamadas licenças de poluir, que agora não valem um tostão. Toronto, Markham, Kitchener e Kingston, a par das cerca de 30 empresas que usufruem desta bolsa, gastaram já dezenas de milhões de dólares em licenças de poluição. Essas licenças agora são inúteis. A cidade de Kingston já anunciou que vai exigir uma indemnização deste governo no valor de 4 milhões de dólares. Caso contrário, não exclui “processar a província em tribunal para recuperar essas quantias em nome dos contribuintes”. O Quebec e a Califórnia decidiram, como medida de precaução, bloquear o comércio com o Ontário. De recordar que a equipa de Patrick Brown, o ex-líder conservador progressista, havia estimado que custaria ao governo do Ontário, 500 milhões de dólares para sair do acordo de troca de carbono com Quebec e Califórnia.

Para o professor Alain Webster, do Centro Universitário de Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável da Universdade de Sherbrooke, o modelo de troca de carbono é a maneira mais barata de fazer com que as empresas reduzam as suas emissões de gases de efeito estufa. Webster acredita também, que desistir desse programa, vai sair caro aos contribuintes do Ontário.
Para além desta medida, o governo anunciou milhares de dólares para financiar mais polícias na rua, uma medida que, foi já provada, não funciona no combate ao crime do tipo que está a assolar a cidade, o qual resulta da pobreza, da falta de programas sociais e educativos em diversas comunidades, assim como de políticas de revitalização e emprego, junto de grupos mais vulneráveis. Segundo especialistas, estas são áreas que necessitam de investimentos, pois mostraram já funcionar no combate a este tipo de violência.

E, se ninguém pode negar a necessidade de um “premier” emagrecer o seu governo, a verdade é que alguns cortes visaram setores, que mais precisam dos investimentos. Assuntos aborígines, meio ambiente, a emigração, a ciência e a francofonia foram os mais atingidos. O Ministério dos Assuntos Aborígenes desaparece, ficando sob a alçada do Minstério da Energia, Desenvolvimento do Norte e Minas. O do Meio Ambiente, Conservação da Natureza e Parques, retiram da sua nomenclatura as questões climatéricas.

No caso dos Assuntos Francófonos, não haverá mais um ministério. De fora fica ainda o da Cidadania e Imigração, quando sabemos, que este é um setor muito importante para a província. O Ministério do Estatuto da Mulher desaparece assim como o da Inovação, Ciência e investigação, setores chave para o desenvolvimento económico futuro.
A terminar, faço minhas as palavras da politóloga Geneviève Tellier: “Não tenho certeza se Doug Ford está preocupado com as consequências a longo prazo. Ele quer resultados a curto prazo rapidamente e, se houver problemas, estes serão administrados mais tarde.” O problema é que mais tarde significa deixar os nossos erros para os mais novos, depois de termos servido bem alguns.

 

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